Henrique Monteiro –
Expresso, opinião, em Blogues
Algumas pessoas
entenderam que exagerei, ontem, quando escrevi que o discurso de Cavaco Silva
no 5 de Outubro talvez fosse o pior discurso do mundo. Mas insisto na ideia
Cavaco, mantendo a
rigorosa isenção suprapartidária que compete a um Presidente, podia ter falado
da necessária moderação e unidade do país na análise da situação (ou seja que
as reações emotivas, embora compreensíveis, não nos farão sair do buraco em que
estamos). Cavaco podia ter apelado ao esforço conjugado dos partidos políticos
portugueses junto dos seus congéneres europeus para a busca de soluções que não
impliquem a dose adicional de sacrifícios que nos foi prometida. Cavaco podia
ter dito que, num momento de emergência como este, o essencial da luta política
não deve estar centrado na conquista do poder, mas na saída da situação em que
nos encontramos, se possível englobando nessa solução a base política mais
alargada possível.
Cavaco podia ter
dito isto, mas não disse. Talvez o Presidente não entenda que a situação do
país é tão grave que mereça atitudes excecionais. Mas não vejo como sair deste
atoleiro sem que haja um entendimento entre os partidos que subscreveram o
acordo da troika, o que implica cedências mútuas, ao invés de caminhos
experimentalistas, que é o que mais nos têm oferecido - à esquerda e à direita.
Sair do Euro, sair
da UE, não pagar, reduzir brutalmente o valor do trabalho, acabar com o Estado
Social e vário outro ruído que por aí se ouve, pode ser tentador, mas é
trágico. Manter a serenidade e apontar uma saída podia ter sido o grande contributo
de Cavaco Silva. Podia, mas não foi. Infelizmente...
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