Jornal de Notícias
- Publicado ontem – foto em Lusa
Faz esta
terça-feira 20 anos, a Polícia Militar brasileira entrou na Casa de Detenção de
São Paulo, conhecida como Carandiru, para controlar uma rebelião, numa ação que
acabou com pelo menos 111 presos mortos, sem que nenhum responsável tenha ainda
sido punido.
A ação policial,
que ficou conhecida no Brasil como o "massacre do Carandiru", teve o
julgamento agendado na semana passada pela Justiça de São Paulo para 28 de
janeiro de 2013 e entre os réus estarão 28 dos mais de cem polícias acusados.
O comandante da
operação, coronel Ubiratan Guimarães, enfrentou um júri popular em 2001 e foi
condenado a seis séculos de prisão, mas recorreu e teve a absolvição concedida
em 2006, por ter agido no exercício de seu dever.
O coordenador
nacional da Pastoral Carcerária, padre Valdir João Silveira, afirmou à Lusa que
o julgamento do ano que vem vai dar uma resposta à sociedade se resultar no
afastamento dos polícias, mas que eles não deveriam ser os únicos réus.
"A nossa
grande preocupação é que se sentem no banco dos réus só os polícias, que muitas
vezes têm uma vida difícil, e estavam a obedecer a ordens. Também queremos o
julgamento do Secretário de Segurança e do Governador do Estado da época",
disse Silveira, por telefone.
Em memória dos
mortos na operação, a pastoral e movimentos sociais realizam hoje uma cerimónia
ecuménica no centro de São Paulo e um protesto pela paz e pelo fim da violência
policial.
"A violência
no sistema prisional diminuiu, hoje há mais mecanismos de prevenção dos
maus-tratos, e mais fiscalização. O que temos mais hoje é a violência na hora
da captura, com agressões e mortes", afirmou Silveira.
Por outro lado, de
acordo com o padre, a superlotação dos presídios aumentou de forma progressiva,
assim como a organização dos presos em facções criminosas. No Estado de São
Paulo, por exemplo, 72 mil pessoas foram presas nos últimos oito meses e uma
média três mil novos reclusos entrou mensalmente no sistema prisional, afirmou
Silveira.
Relatório do
Subcomité de Prevenção de Torturas da ONU criticou, em junho, a superlotação,
as más condições de infraestrutura, os maus-tratos e a tortura em prisões
brasileiras.
O "massacre do
Carandiru" já foi tema de diversos livros e filmes, sendo os mais famosos
o "Estação Carandiru", livro de Dráuzio Varella e "Carandiru - O
Filme", de Hector Babenco.
A rebelião que
antecedeu o massacre começou após distúrbios durante um jogo de futebol.
Em 2002, dez anos
após o massacre, a prisão, que ficava na zona norte de São Paulo, foi implodida
e, no lugar dela, foi construído um parque.
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