terça-feira, 9 de outubro de 2012

Passos Coelho: O VERDADEIRO PROBLEMA DE PORTUGAL

 


João Lemos Esteves – Expresso, opinião, em Blogues
 
Após cumprir as nossas obrigações académicas na faculdade onde leccionamos, voltamos hoje à escrita diária sobre a política portuguesa aqui no EXPRESSO. Desde o nosso último texto, muito se passou, com relevância, na política nacional. Confesso que, secreta e timidamente, mantive a esperança de que, face à contestação dos portugueses, o Governo iria recuar na questão da TSU - e nunca mais se voltaria a falar nesse assunto. Passos Coelho iria virar a página - iniciando um novo ciclo mais pensado para o crescimento da economia, retomando, desta forma, a confiança que os portugueses (mais por demérito da oposição do que por mérito do Governo) já nutriram por este executivo. Mas não. Nada disso.
 
O final da semana passada foi verdadeiramente horrível para o Governo. Passos Coelho, num jantar com empresários, limitou-se a lamentar a não aceitação pelos portugueses da medida da TSU - que, deduzimos, Passos Coelho continua a considerar uma medida genial. Ora, o Primeiro-ministro de um país que se confronta com uma gravíssima situação financeira, num jantar de empresários, opta por "fazer queixinhas" dos portugueses? Num ambiente em que poderia falar, finalmente, de medidas para promover o crescimento da economia, de proferir palavras de incentivo aos protagonistas da economia portuguesa (com os trabalhadores), de marcar um prazo para - aleluia! - anunciar a implementação das suas pseudo- "reformas estruturais", o Primeiro-ministro diz que a sua grande medida é uma medida que ele deixou cair? Isto é surreal e absurdo. O Primeiro-ministro ultimamente só nos tem brindado com declarações absurdas e sem sentido.
 
Dir-se-á que foram dias menos felizes. Que foram frases irreflectidas. Não, lamento: não foram. O ponto verdadeiramente preocupante (direi angustiante) na atitude de Passos Coelho é o facto de revelar o seu estado de espírito: Passos Coelho está zangado com os portugueses. Está a fazer pirraça e quer vingar-se dos "ignorantes" que não perceberam os méritos da sua medida social e economicamente desastrosa. Ora, como é que um Primeiro-ministro, que entrou numa fase de acusar os portugueses pelo falhanço político do Governo que lidera e se encontra zangado com o povo do Estado que conduz politicamente, poderá continuar no seu cargo? Como é poderá ser um factor de união, estabilidade e estímulo aos portugueses se se limita a chamar ignorantes (por interposta pessoa) aos que efectivamente sentem o pulsar da economia - empresários e trabalhadores? Como? Não é possível. Já houve um corte definitivo entre os portugueses, Passos Coelho e o Governo. E quem exerce a função mais alta, tem de retirar consequências políticas dos falhanços do seu trabalho: Passos não reúne condições objectivas para ser Primeiro-ministro de Portugal. E ele já o percebeu. Passos está a pedir aos portugueses para ser demitido.
 
É verdade: Passos Coelho anda a "esticar a corda" nos seus discursos - e vai continuar a fazê-lo - para ver se cria uma situação insustentável e vitimizar-se. Passos Coelho, ingénuo politicamente como é, considera que há uma maioria silenciosa que apoia as suas políticas, incluindo a TSU. Porém, essa maioria é uma ficção. Não existe. Passos Coelho não vai perder uma oportunidade para elogiar a TSU e dizer mal dos portugueses: eu não quero ter um Primeiro-ministro assim.
 
Com efeito, entendo que Cavaco Silva vai ter de actuar: Passos Coelho está a adoptar uma atitude de "menino teimoso", cheio de manias, do que uma atitude de estadista (que tanto precisamos neste momento!). Esta parece-me a constatação que se impõe da realidade da vida política portuguesa. A remodelação do Governo - verdadeiramente crucial! - deveria começar pela substituição do Primeiro-ministro. O PSD deveria ser, pois, agora (como já foi em tantos momentos da nossa História) um partido responsável, que coloca Portugal acima de tudo.
 
 

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