João Lemos Esteves –
Expresso, opinião, em Blogues
Após cumprir as
nossas obrigações académicas na faculdade onde leccionamos, voltamos hoje à
escrita diária sobre a política portuguesa aqui no EXPRESSO. Desde o nosso
último texto, muito se passou, com relevância, na política nacional. Confesso que,
secreta e timidamente, mantive a esperança de que, face à contestação dos
portugueses, o Governo iria recuar na questão da TSU - e nunca mais se voltaria
a falar nesse assunto. Passos Coelho iria virar a página - iniciando um novo
ciclo mais pensado para o crescimento da economia, retomando, desta forma, a
confiança que os portugueses (mais por demérito da oposição do que por mérito
do Governo) já nutriram por este executivo. Mas não. Nada disso.
O final da semana
passada foi verdadeiramente horrível para o Governo. Passos Coelho, num jantar
com empresários, limitou-se a lamentar a não aceitação pelos portugueses da
medida da TSU - que, deduzimos, Passos Coelho continua a considerar uma medida
genial. Ora, o Primeiro-ministro de um país que se confronta com uma gravíssima
situação financeira, num jantar de empresários, opta por "fazer
queixinhas" dos portugueses? Num ambiente em que poderia falar,
finalmente, de medidas para promover o crescimento da economia, de proferir
palavras de incentivo aos protagonistas da economia portuguesa (com os
trabalhadores), de marcar um prazo para - aleluia! - anunciar a implementação
das suas pseudo- "reformas estruturais", o Primeiro-ministro diz que
a sua grande medida é uma medida que ele deixou cair? Isto é surreal e absurdo.
O Primeiro-ministro ultimamente só nos tem brindado com declarações absurdas e
sem sentido.
Dir-se-á que foram
dias menos felizes. Que foram frases irreflectidas. Não, lamento: não foram. O
ponto verdadeiramente preocupante (direi angustiante) na atitude de Passos
Coelho é o facto de revelar o seu estado de espírito: Passos Coelho está
zangado com os portugueses. Está a fazer pirraça e quer vingar-se dos
"ignorantes" que não perceberam os méritos da sua medida social e
economicamente desastrosa. Ora, como é que um Primeiro-ministro, que entrou
numa fase de acusar os portugueses pelo falhanço político do Governo que lidera
e se encontra zangado com o povo do Estado que conduz politicamente, poderá
continuar no seu cargo? Como é poderá ser um factor de união, estabilidade e
estímulo aos portugueses se se limita a chamar ignorantes (por interposta
pessoa) aos que efectivamente sentem o pulsar da economia - empresários e
trabalhadores? Como? Não é possível. Já houve um corte definitivo entre os
portugueses, Passos Coelho e o Governo. E quem exerce a função mais alta, tem
de retirar consequências políticas dos falhanços do seu trabalho: Passos não
reúne condições objectivas para ser Primeiro-ministro de Portugal. E ele já o
percebeu. Passos está a pedir aos portugueses para ser demitido.
É verdade: Passos
Coelho anda a "esticar a corda" nos seus discursos - e vai continuar
a fazê-lo - para ver se cria uma situação insustentável e vitimizar-se. Passos
Coelho, ingénuo politicamente como é, considera que há uma maioria silenciosa
que apoia as suas políticas, incluindo a TSU. Porém, essa maioria é uma ficção.
Não existe. Passos Coelho não vai perder uma oportunidade para elogiar a TSU e
dizer mal dos portugueses: eu não quero ter um Primeiro-ministro assim.
Com efeito, entendo
que Cavaco Silva vai ter de actuar: Passos Coelho está a adoptar uma atitude de
"menino teimoso", cheio de manias, do que uma atitude de estadista
(que tanto precisamos neste momento!). Esta parece-me a constatação que se impõe
da realidade da vida política portuguesa. A remodelação do Governo - verdadeiramente
crucial! - deveria começar pela substituição do Primeiro-ministro. O PSD
deveria ser, pois, agora (como já foi em tantos momentos da nossa História) um
partido responsável, que coloca Portugal acima de tudo.
Email:
politicoesfera@gmail.com
Sem comentários:
Enviar um comentário