Luís Fernando - O País
(ao), editorial
Há, de novo, perigo
a rondar-nos. São muito más para Angola as notícias que chegam dos últimos tempos
do Leste da República Democrática do Congo (RDC), com a instabilidade crescente
que pode induzir, por osmose, desestabilização sentida também do nosso lado. Em
bom rigor, a RDC não é uma fonte nova de angústia. É-o desde há muito, porque
são escassos os períodos de acalmia absoluta dentro das suas fronteiras.
O facto de
partilharmos com o antigo Zaíre uma extensa fronteira coloca-nos sempre a
questão das barbas que têm de ser postas de molho porque as do vizinho pegaram
fogo faz tempo. As perdas de sono, do nosso lado, são na verdade permanentes.
Se não é o ribombar
de canhões por perto, são as complexas teias da migração ilegal montadas em
território congolês tendo Angola como destino apetecível. Na RDC, tornaram-se
endêmicos a doentia paixão emigratória para Angola e os conflitos armados
opondo as autoridades e os rebeldes. Se o primeiro problema desafia a
capacidade angolana de lhe pôr cobro, já o segundo – as revoltas armadas –
apelam a um envolvimento multilateral na sua solução, por estar muito longe de
se constituir num diferendo puramente interno.
O Governo de Angola
emitiu uma declaração na quarta-feira a manifestar profunda preocupação pelo
evoluir do conflito na região do Kivu Norte. Os guerrilheiros do chamado M23
ocuparam a cidade de Goma e escalada do conflito é visível. Daí apelo ao
Conselho de Segurança e Paz da União Africana e ao Conselho de Segurança das
Nações Unidas para que “tomem as medidas apropriadas para pôr termo à investida
belicista das forças rebeldes”. Está mais do que na hora de desencorajar
àqueles que, de fora, promovem a instabilidade no interior da RDC.
O “empurrão” que os
rebeldes recebem de vizinhos hostis precisa de ser tratado com a seriedade e
urgência que o clima incendiário sugere, muito longe dos eufemismos da
diplomacia. E o "laissez faire, laissez passer" da ONU também, que
com 17 mil "capacetes azuis" no terreno olha para o avanço daquele bando
de aventureiros como se andassem num desfile de carnaval, cantando e rindo!
Como bem o refere
Angola, na sua reacção à escalada de violência, “tais acções de natureza
militar são incompatíveis com o princípio da resolução pacífica dos conflitos,
tendo principalmente em conta que a RDC realizou recentemente eleições
democráticas, cujos resultados foram reconhecidos por toda a comunidade
internacional”.
É premente que a
região dos Grandes Lagos encontre o caminho da pacificação, sob pena de os seus
povos e Estados se converterem em reféns eternos da instabilidade que
inviabiliza o desenvolvimento, promove o movimento forçado de amplas massas
humanas e desestrutura as sociedades, negando aos povos o direito às bondades
da Democracia. Que se virem agora todos os olhares para a acção das
organizações regionais e mundiais criadas, ao que se diz, para promover a paz
no mundo. Angola pediu-lhes, abertamente, que façam alguma coisa.
Com Goma subjugada pela
vontade da rebelião, veremos então o que vem depois…
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