Artur Queiroz*, Luanda
O País dos Dembos esteve em guerra entre 1872 e 1919. Os pombeiros e funantes de Luanda pagavam portagens para irem comercializar a terras de Ambaca e ao Reino do Congo. Lisboa decidiu submeter o território numa guerra sangrenta. Quem defende que a Revolução do 25 de Abril começou com os Movimentos de Libertação das antigas colónias portuguesas, esqueceu os heróicos guerreiros mubires e hungus. E os Capitães de Abril Caculo Kahenda, N´Gombe Amukiama e Cazuangongo, que tinha a cidadela na Pedra Verde, o “Ninho da Águia”.
Cazuangongo atacou, ocupou e saqueou o Porto do Sassa. Dizimou as tropas portuguesas. Confiscou os canhões de bronze que levou para a cidadela real, já de si inexpugnável. Sucessivas derrotas levaram o governo de Lisboa a criar uma força poderosa para submeter os Dembos. O comando dessas tropas foi Gomes da Costa (chegou a marechal), acabado de chegar das campanhas militares no Sul de Angola. Até levava metralhadoras! Foi derrotado. Regressou a Luanda, roto e descalço, com meia dúzia de sobreviventes. Um desastre. Só em 1919 as tropas portuguesas derrotaram o último Dembo em guerra, Cazuangongo.
Os Movimentos de Libertação das antigas colónias portuguesas deram um contributo inestimável à libertação do Povo Português. O Movimento das Forças Armadas (MFA) deu um contributo decisivo à libertação dos povos da Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Timor Leste. Cada povo no seu território conduziu a luta da sua libertação. Todos ajudaram todos. A História regista que o MPLA, desde 1956, ergueu a Bandeira da Liberdade e foi exemplo a seguir em Angola, nas restantes colónias e também em Portugal.
Em Portugal, uma organização política teve o mesmo papel do MPLA, o Partido Comunista Português. Sem o seu contributo, os povos libertados com o 25 de Abril de 1974 teriam mais dificuldades para derrotarem o fascismo e o colonialismo.
A História regista que na
sequência do golpe militar de 28 de Maio de 1926, o Povo Português ergueu-se em
armas contra a ditadura. Anarquistas e comunistas lutaram e morreram pela
Liberdade. A luta armada em Portugal inspirou os fundadores do MPLA nos anos
50. Mas antes do nascimento do movimento libertador, em 10 Dezembro de 1956, há
registo de revoltas armadas
Nestes 50 anos do 25 de Abril perdoem-me se invoco a figura de meu Pai que foi julgado e condenado no Tribunal Militar do Porto porque em 1937 participou no atentado à bomba contra Salazar. Forneceu os explosivos, adquiridos clandestinamente em Espanha.
O Partido Comunista Português após 1933, início do Estado Novo, resistiu heroicamente ao regime, na clandestinidade. Muitos militantes e dirigentes pagaram com a liberdade e a via por resistirem aio fascismo e ao colonialismo. A Acção Revolucionária Armada (ARA) lutou de armas na mão contra o fascismo. Outras organizações optaram pela luta armada: A LUAR, liderada por Palma Inácio, e o Partido Revolucionário do Proletariado-Brigadas Revolucionárias (PRP/BR), liderado por Carlos Antunes e Isabel do Carmo.Sim, a Luta Armada de Libertação Nacional em Angola, Guiné e Moçambique ajudou a libertar o Povo Português. Mas a luta dos revolucionários e progressistas portugueses ajudaram a libertar os povos das colónias. O Partido Comunista Português tirou de Portugal Agostinho Neto e sua família, clandestinamente, quando o líder da Revolução Angolana estava em regime de prisão domiciliar em Lisboa.
Sob a liderança de Agostinho Neto, a Luta Armada de Libertação Nacional ganhou força. Os militantes e dirigentes lutaram até à Independência Nacional. E nem tiveram direito ao repouso dos guerreiros. Continuaram a lutar na Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial. Só deixaram as armas no dia 22 de Fevereiro de 2002.
Até 2021, todos os anos telefonava ao meu amigo Otelo Saraiva de Carvalho: Viva o 25 de Abril e quem o apoiar! Otelo tens de fazer o 50 der Abril, o 25 ficou curto! Depois ficávamos uns minutos à conversa. Nesse ano convidei-o para apresentar o livro MEMÓORIAS DE MARIA EUGÉNIA NETO (antetítulo) e o título A NOIVA DO VESTIDO AZUL. Aceitou e até escreveu um texto de apresentação. A peste do coronavírus obrigou ao adiamento e entretanto o meu amigo e Herói da Liberdade faleceu. Ninguém sabe do livro. Nem eu.
No meu tempo de repórter conheci em Maputo (então Lourenço Marques) o poeta e cantor Zeca Afonso. Ficámos amigos. O convívio com ele, José Craveirinha, Malangatana, Rui Nogar e outros companheiros, foi do melhor que me aconteceu. Zeca, mais cinco que venham! Mas precisamos de mais cinco milhões de amigos para a luta! Passados 50 anos do 25 de Abril os merceeiros do Continente e do Pingo Doce dominam Portugal e cospem na Liberdade. Nas últimas eleições portuguesas foram eleitos 50 deputados sob a bandeira do racismo e da xenofobia.
Em Angola, que tu cantaste imperialismo não passará! Colonialismo não passará! Veio da mata o Homem Novo do MPLA, hoje manda o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA). Amigos da onça com hábitos de hienas asquerosas.
Presidente João Lourenço, excelência! O secretário de Estado Antony Blinken acaba de denunciar isto: “De Angola há relatos credíveis de assassinatos arbitrários ou ilegais, tratamento ou punição cruel, desumana ou degradante por parte do Governo, condições prisionais duras e com vida em risco, prisões ou detenções arbitrárias, problemas graves com a independência do Poder Judicial, presos ou detidos políticos e restrições graves à liberdade de expressão e à liberdade dos meios de comunicação social”.
O Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre a situação de Carlos São Vicente diz o mesmo: “Prisões ou detenções arbitrárias, problemas com a independência do Poder Judicial”. Não é vinculativo. Mas dói muito. É uma tremenda derrota moral com graves consequências no combate à corrupção. Podem soltar-me os cães mas não me intimido nem me calo. O MPLA e o Povo Angolano não merecem que me acomode e meta o rabo entre as pernas. Cuidado com o cão e comigo!
* Jornalista
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