Brasil e Estados
Unidos precisam urgentemente de reformas políticas porque os dois países
demonstram que suas atuais fórmulas estão esgotadas. Artigo de Antonio Tozzi.
Antonio Tozzi,
Miami – Direto da Redação
São Paulo (SP) - Às
vésperas das eleições gerais nos EUA o que vemos é uma divisão igualitária do
eleitorado, com cada partido detendo cerca de 50% da preferência. Ou seja,
independente de quem for o vencedor, metade do eleitorado ficará insatisfeita.
A meu ver, isto se
deve à engessada estrutura partidária americana que é, de certa forma,
maniqueísta. Ou você é republicano ou é democrata. Mas será que apenas estas
duas siglas partidárias são suficientes para abrigar as várias correntes
ideológicas existentes no país? Tudo indica que não.
Barack Obama tinha
um discurso mais à esquerda e por isto era apontado pelos adversários como
socialista, comunista e outras bobagens do gênero. Depois de se tornar
presidente, ele adotou um discurso mais moderado que causou decepção em seus
antigos aliados.
Já Mitt Romney
sempre enalteceu seu lado empreendedor e era um conservador menos
intransigente. Entretanto, para conseguir a indicação do Partido Republicano,
ele incorporou valores mais radicais em termos religiosos e comportamentais,
algo que foi suavizado agora para não afastar os eleitores independentes que
são simpáticos ao controle fiscal e à pouca intervenção do governo na economia,
mas se horrorizam com o discurso ultraconservador dos interioranos que acreditam
ser o mundo governado pelas intervenções divinas.
A solução, em minha
opinião, seria a constituição de mais partidos com real representatividade que
pudessem acomodar todas as correntes de pensamento. Vale lembrar que nos EUA há
vários partidos, até mesmo o Partido Comunista, mas todos são tão inexpressivos
que nem parecem existir de verdade. Assim, seriam corrigidas as distorções de
ter num mesmo partido aliados de espectro ideológico completamente diferentes.
Depois de muito
tempo sem ir ao Brasil, estou atualmente em São Paulo e acompanhando
mais de perto a política brasileira, que também carece de uma reforma efetiva,
se quiser que o país se torne uma democracia de fato.
Ao contrário dos
EUA, temos partidos demais, muitos deles puras legendas de aluguel para servir
aos interesses de seus donos. O exemplo mais recente e bem acabado disto é o
partido fundado pelo atual prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que saiu do
DEM e fundou um partido seu para conseguir uma projeção nacional.
Ora, está na cara
que Kassab quer desvincular sua imagem do PSDB, partido com o qual o então DEM
fez aliança estratégica para governar São Paulo. Ele não esconde de ninguém que
deseja tornar-se o mais novo aliado do PT, juntando-se a Maluf, Sarney,
Fernando Collor de Mello, Delfim Neto e o PMDB.
Desta forma, o que
estamos vendo é o definhamento da oposição, uma vez que todos têm medo de
enfrentar a popularidade de Lula e não se eleger. Assim, a maioria critica Lula
e o PT nos bastidores, mas alia-se a eles por questões estratégicas.
Só que um país
somente fortalece sua democracia com governo e oposição fortes. Se um dos lados
começa a dominar, quebra-se um elo importante, porque configura-se em um
simulacro de democracia no qual todos já sabem de antemão quem será o vencedor.
Os politicos fazem isto por instinto de sobrevivência, uma vez que querem ser
eleitos a qualquer custo.
Contudo, não
deveria ser assim. Ao contrário dos EUA, o Brasil tem partidos demais. O ideal
seria ter um arco partidário de quatro a cinco partidos que abrangessem todas
correntes ideológicas, Da esquerda mais radical ao extremo conservadorismo,
passando pelas variações de cada linha de pensamento. Isto impediria, ou pelo
menos diminuiria, este mercado nojento de negociatas onde quem paga a conta são
os cidadãos.
E, melhor de tudo,
sempre o país teria uma opção de governo, em vez de ficar à mercê de uma só
corrente, que, por sua vez, est;á ficando cada vez mais inchada, pois perdeu
suas características. Afinal, apenas os ingênuos e os aproveitadores podem
qualificar o PT como um partido de esquerda. A cada ano, o antigo Partido dos
Trabalhadores dá uma guinada à direita em busca de mais eleitores. É verdade
que tem conseguido ampliar sua base eleitoral. Em contrapartida, sua ideologia
ficou perdida em algum lugar do passado.
*Foi repórter do
Jornal da Tarde e do Estado de São Paulo. Vive nos Estados Unidos desde 1996,
onde foi editor da CBS Telenotícias Brasil, do canal de esportes PSN, da
revista Latin Trade e do jornal AcheiUSA
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