Eliakim Araujo* –
Direto da Redação - com fotos no original
Em uma histórica
eleição, Barack Obama foi reeleito presidente dos EUA, derrotando o rival, Mitt
Romney, por 303 votos eleitorais contra 206 do adversário. Essa margem
aparentemente folgada, entretanto, não revela a apertada diferença nos votos populares
em favor de Obama. O presidente recebeu 58.961.607 de votos contra 56.600.765
do republicano, em termos percentuais 50 por cento contra 48 por cento. Coisas
do sistema eleitoral estadunidense, onde um candidato pode ter mais votos do
que o outro e perder a eleição, como já aconteceu no passado.
Obama venceu em
Estados chave, como Ohio, Florida, Colorado, Virginia e Iowa, que se mantiveram
indefinidos até o fim e se transformaram em verdadeiros campos de batalha entre
os candidatos nos últimos dias de campanha.
Destaque para a
Flórida, que tem o terceiro maior colégio eleitoral do país e teve a disputa
mais emocionante na contagem dos votos. Os dois candidatos se revezaram na
liderança, numa alternância espetacular. A Flórida era considerada quase perdida
pelo comando da campanha de Obama, mas ele acabou vencendo por 50 por cento a
49 por cento. Detalhe, agora de manhã, 8 horas nos EUA, ainda estavam contando
votos no Estado mais complicado do país em matéria de administrar uma eleição.
O partido do presidente
manteve a maioria no Senado e os republicanos ficaram com a maioria na Câmara
dos Deputados, o que significa que Obama vai seguir encontrando as mesmas
dificuldades para governar, sobretudo porque essa eleição levou o país a uma
forte divisão ideológica, com acentuadas diferenças entre ricos e pobres e
inegáveis traços de racismo.
No discurso da
vitória, diante de milhares de eufóricos eleitores em Chicago, Obama prometeu:
"O melhor ainda está por vir".
O mea culpa
republicano
No dia seguinte à derrota
nas urnas, os republicanos tentavam entender o que deu errado em uma eleição
cuja vitória parecia certa. Mas não é muito difícil localizar a causa principal
do fracasso do velho GOP (Grand Old Party). .
Enquanto os
democratas de aliaram às minorias, formando uma corrente virtual entre jovens,
negros, latinos, asiáticos, pobres, gays e mulheres, os republicanos continuam
presos a um passado conservador e completamente fora de sintonia com as
necessidades de um país que se renovou.
Os republicanos
precisam se livrar do jugo de extremistas do próprio partido e da mídia
conservadora, como o apresentador Bill O’Reilly, da Foxnews, que logo após o
anúncio da derrota de Romney, declarou irresponsavelmente que “a ideologia
branca da sociedade americana hoje é minoria”.
Trocando em miúdos,
as urnas de 2012 revelaram o perfil fracassado dos que votaram no candidato do
Partido Republicano: eleitores velhos, brancos e do sexo masculino. Uma mistura
fatal para ganhar uma eleição, numa país em que as minorias unidas tornaram-se
maioria.
Castigo nas urnas
O candidato
republicano ao Senado pelo Estado de Indiana, Richard Mourdock, aquele que
afirmou que o “estupro só acontece pela vontade de Deus”, colheu o que plantou.
Foi derrotado pelo democrata Joe Donnelly.
Esse foi um dos
muitos abacaxis que Romney teve que descascar durante a campanha. Ele tinha que
estar corrigindo não só suas próprias gafes como a de seus colegas
republicanos.
Mourdock (na foto
ao lado de Romney), para justificar sua posição contrária ao aborto em qualquer
situação, saiu-se com essa em pleno debate: “mesmo quando uma vida começa em
uma situação horrível, como em um estupro, isso é algo que Deus planejou
acontecer”.
E Romney, que tinha
gravado um comercial apoiando a candidatura de Mourdock, teve que correr para
dizer que não pensava da mesma forma.
O papelão do vice
Terminada a
apuração com a vitória de Obama, os republicanos vão procurar uma explicação
para a derrota. Com certeza, na hora da avaliação, alguém vai descobrir que um
dos erros mais graves de Romney foi a escolha do vice, Paul Ryan.
Um sujeito
antipático e extremamente conservador. É provável que sua indicação tenha sido
uma imposição da ala mais radical do Partido Republicano, o Tea Party, em troca
do apoio ao candidato. Com essa escolha, Romney optou por abandonar as
minorias, os negros, os latinos, os gays e lésbicas e as mulheres, vistas como
minoria por sua luta em favor do direito ao aborto, aos contraceptivos e à
igualdade de salários.
Paul Ryan tem
ideias retrógradas sobre essas questões polêmicas, além de ser um adepto de
cortes de gastos no Medicare e Medicaid, os programas sociais de ajuda aos mais
pobres e aposentados.
No domingo à noite,
numa tentativa desesperada de garantir a vitória, Ryan foi capaz de afirmar
numa reunião com eleitores evangélicos que Obama estava levando os Estados
Unidos "por um caminho que compromete os valores judaico-cristãos e coloca
em risco a própria civilização ocidental". Não é demais o cara?
Mais um que foi
castigado pelas urnas.
O emprego de
ex-presidente
Obama ganhou, mas
sua conta bancária perdeu. Se tivesse sido derrotado, ele poderia faturar
muitos milhões de dólares em negócios com livros e no circuito de palestras.
Esse modelo lucrativo foi criado pelo ex-presidente Richard Nixon, que – mesmo
tendo renunciado à presidência por causa do escândalo de Watergate - ganhou uma
fortuna depois que deixou o Salão Oval.
Todos os
presidentes desde então, incluindo até o renegado George W Bush, têm trabalhado
seus contatos e experiência em benefício de seu saldo bancário. Larry Sabato,
um respeitado cientista político da Universidade de Virgínia, disse: “Quando
elegemos um presidente, estamos garantindo que ele será um milionário”.
Mas o ex-presidente
que ganhou, e ganha ainda, mais dinheiro é Bill Clinton. Ele deixou o cargo em
2001, com enormes dívidas legais por causa do escândalo sexual com a estagiária
Monica Lewinsky, mas só no ano passado arrecadou 13,4 milhões só em palestras. Clinton
ganhou um adiantamento de 15 milhões de dólares em 2004 para escrever sua
autobiografia. E, dependendo da cara do freguês, cobra até 750.000 mil dólares
por uma única palestra, quase duas vezes o salário anual do presidente, de US $
400.000.
Segundo a CNN,
Clinton arrecadou só em palestras 89 milhões de dólares. A ponto de, certa vez,
fazer piada dele mesmo: "Eu nunca tive dinheiro até o dia em que eu saí da
Casa Branca”.
* Ancorou o primeiro
canal de notícias em língua portuguesa, a CBS Brasil. Foi âncora dos jornais da
Globo, Manchete e do SBT e na Rádio JB foi Coordenador e titular de "O
Jornal do Brasil Informa". Mora Fort Lauderdale, Flórida. Em parceria com Leila
Cordeiro, possui uma produtora de vídeos jornalísticos e institucionais.
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