quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Portugal: NO PS JÁ TODOS FALAM EM ELEIÇÕES ANTECIPADAS

 

Sónia Cerdeira - i online
 
PS não vai provocar eleições, mas são cada vez mais aqueles que acham que o governo não tem condições para ir até ao fim da legislatura
 
No PS já ninguém acredita que o governo cumpra a legislatura até ao fim e, apesar de os socialistas rejeitarem qualquer responsabilidade na antecipação do calendário eleitoral, o partido começa a considerar realista um cenário de eleições antecipadas.
 
António José Seguro, numa entrevista à SIC, deu o pontapé de saída ao dizer que o governo tem “feito tudo para acelerar os prazos e para encurtar esta legislatura”. No interior do partido, já há quem não considere fácil que o governo resista ao difícil ano de 2013.
 
O ex-porta-voz do PS Vitalino Canas diz que não ficaria admirado se o governo caísse no próximo ano, já que tem muitas “barreiras” difíceis de ultrapassar. “Vai ter três momentos muito importantes em que a sua estabilidade estará em causa. Quando começar a haver dados da execução orçamental, o momento que o governo apontou para a recuperação económica e as eleições autárquicas”, explica Canas ao i, acrescentando que o CDS já deu sinais de “na primeira oportunidade” abandonar o barco.
 
O deputado do PS diz que é preocupante um cenário de eleições antecipadas, mas tem dúvidas de que o governo tenha “folga para mais três anos”, perante “a forma como se desgastou em ano e meio”.
 
Apesar de a maioria dos socialistas ouvidos pelo i já não acreditar que o governo consiga cumprir os quatro anos de mandato, um cenário de eleições antecipadas não é tido como o ideal. “Não queremos precipitar nenhuma crise política. Em momento algum o secretário- -geral disse que queríamos eleições antecipadas. O governo tem maioria e tem de governar”, afirma ao i o vice-presidente da bancada José Junqueiro.
 
Contudo, diz Junqueiro, “o governo tem feito tudo para se ir embora”. “Colocou medidas no Orçamento de duvidosa constitucionalidade para dizer, se for atingido pela inconstitucionalidade, ‘tomem lá as chaves do carro, nós vamos embora’.” A quebra do consenso político e social, a insistência na receita errada e as medidas que vão além do mandato dado pelos portugueses são as razões que levam o PS a admitir um cenário de eleições antecipadas.
 
“NÃO VAI DURAR MUITO”
 
Manuel Alegre, histórico socialista, também não acredita que o governo dure. “Sem mudar a política, não vejo como possa aguentar a legislatura”, afirma ao i. Para o ex-dirigente do PS, o governo está a conduzir o país para o abismo com este Orçamento, mas “vai ele próprio cair no abismo” (ver entrevista ao lado).
 
O também histórico socialista António Arnaut frisa que o governo “tem toda a gente contra, não tem apoio nem na sua base eleitoral”, de onde se levantam “vozes de autoridade”, como por exemplo Manuela Ferreira Leite, e por isso “não vai durar muito tempo”. Arnaut nota, aliás, um “clima de fim de período político” e uma “instabilidade que nos fere a alma”. “Eleições antecipadas são um mal menor”, garante, mas diz não ser “adepto” de um governo de salvação nacional. “Falta- -lhes uma base democrática.” Uma solução já admitida por Mário Soares, que não se tem cansado de defender a demissão do governo.
 
Pedro Alves, deputado e ex-líder da JS, prefere falar na existência de “factores de perturbação” que “deixam dúvidas de que o governo leve até ao final a legislatura”, como a relação na coligação e a execução orçamental que tem “corrido mal”, mas pensa que “o país também não pode estar sempre a um ritmo de legislaturas que não se completam”.
 
A opinião é partilhada pelo deputado Pedro Nuno Santos, que prefere reunir esforços para pressionar o governo para mudar de política. “O Presidente da República tem um papel importante aí. Sabe que o Orçamento está a destruir a economia e não pode de forma passiva assistir a isso”, sublinha o deputado, lembrando que “há pessoas muito próximas do Presidente que têm vindo a defender uma renegociação das condições do Memorando, como Silva Peneda e Manuela Ferreira Leite.”
 
O discurso do PS tem vindo a mudar no que diz respeito à possibilidade de eleições antecipadas. Os responsáveis do partido, até há pouco tempo, rejeitavam esse cenário. A partir da hora em que a taxa social única e o Orçamento abriram uma crise política no interior do executivo, os socialistas começaram a considerar realista disputar eleições mais cedo do que pensavam.
 
Com Luís Claro e Pedro Rainho
 

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