Sónia Cerdeira - i online
PS não vai provocar
eleições, mas são cada vez mais aqueles que acham que o governo não tem
condições para ir até ao fim da legislatura
No PS já ninguém
acredita que o governo cumpra a legislatura até ao fim e, apesar de os
socialistas rejeitarem qualquer responsabilidade na antecipação do calendário
eleitoral, o partido começa a considerar realista um cenário de eleições
antecipadas.
António José
Seguro, numa entrevista à SIC, deu o pontapé de saída ao dizer que o governo
tem “feito tudo para acelerar os prazos e para encurtar esta legislatura”. No interior
do partido, já há quem não considere fácil que o governo resista ao difícil ano
de 2013.
O ex-porta-voz do
PS Vitalino Canas diz que não ficaria admirado se o governo caísse no próximo
ano, já que tem muitas “barreiras” difíceis de ultrapassar. “Vai ter três
momentos muito importantes em que a sua estabilidade estará em causa. Quando começar
a haver dados da execução orçamental, o momento que o governo apontou para a
recuperação económica e as eleições autárquicas”, explica Canas ao i,
acrescentando que o CDS já deu sinais de “na primeira oportunidade” abandonar o
barco.
O deputado do PS diz
que é preocupante um cenário de eleições antecipadas, mas tem dúvidas de que o
governo tenha “folga para mais três anos”, perante “a forma como se desgastou
em ano e meio”.
Apesar de a maioria
dos socialistas ouvidos pelo i já não acreditar que o governo consiga cumprir
os quatro anos de mandato, um cenário de eleições antecipadas não é tido como o
ideal. “Não queremos precipitar nenhuma crise política. Em momento algum o
secretário- -geral disse que queríamos eleições antecipadas. O governo tem
maioria e tem de governar”, afirma ao i o vice-presidente da bancada José
Junqueiro.
Contudo, diz
Junqueiro, “o governo tem feito tudo para se ir embora”. “Colocou medidas no
Orçamento de duvidosa constitucionalidade para dizer, se for atingido pela
inconstitucionalidade, ‘tomem lá as chaves do carro, nós vamos embora’.” A
quebra do consenso político e social, a insistência na receita errada e as
medidas que vão além do mandato dado pelos portugueses são as razões que levam
o PS a admitir um cenário de eleições antecipadas.
“NÃO VAI DURAR
MUITO”
Manuel Alegre, histórico socialista, também não acredita que o governo
dure. “Sem mudar a política, não vejo como possa aguentar a legislatura”,
afirma ao i. Para o ex-dirigente do PS, o governo está a conduzir o país para o
abismo com este Orçamento, mas “vai ele próprio cair no abismo” (ver entrevista
ao lado).
O também histórico
socialista António Arnaut frisa que o governo “tem toda a gente contra, não tem
apoio nem na sua base eleitoral”, de onde se levantam “vozes de autoridade”,
como por exemplo Manuela Ferreira Leite, e por isso “não vai durar muito
tempo”. Arnaut nota, aliás, um “clima de fim de período político” e uma
“instabilidade que nos fere a alma”. “Eleições antecipadas são um mal menor”,
garante, mas diz não ser “adepto” de um governo de salvação nacional. “Falta-
-lhes uma base democrática.” Uma solução já admitida por Mário Soares, que não
se tem cansado de defender a demissão do governo.
Pedro Alves,
deputado e ex-líder da JS, prefere falar na existência de “factores de
perturbação” que “deixam dúvidas de que o governo leve até ao final a
legislatura”, como a relação na coligação e a execução orçamental que tem
“corrido mal”, mas pensa que “o país também não pode estar sempre a um ritmo de
legislaturas que não se completam”.
A opinião é
partilhada pelo deputado Pedro Nuno Santos, que prefere reunir esforços para
pressionar o governo para mudar de política. “O Presidente da República tem um
papel importante aí. Sabe que o Orçamento está a destruir a economia e não pode
de forma passiva assistir a isso”, sublinha o deputado, lembrando que “há
pessoas muito próximas do Presidente que têm vindo a defender uma renegociação
das condições do Memorando, como Silva Peneda e Manuela Ferreira Leite.”
O discurso do PS
tem vindo a mudar no que diz respeito à possibilidade de eleições antecipadas.
Os responsáveis do partido, até há pouco tempo, rejeitavam esse cenário. A
partir da hora em que a taxa social única e o Orçamento abriram uma crise
política no interior do executivo, os socialistas começaram a considerar
realista disputar eleições mais cedo do que pensavam.
Com Luís Claro e
Pedro Rainho
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