Pedro Nuno Santos –
Jornal i, opinião
O Ministro das
Finanças, Vitor Gaspar, é um homem inteligente e qualificado, mas também
obcecado e, por isso mesmo, perigoso. Tem uma agenda de desvalorização interna
e privatização do Estado Social. É um técnico, politicamente muito hábil, que
procurou no encerramento do debate orçamental transferir para os seus
adversários políticos as características que melhor o definem a si próprio:
radical e aventureiro.
Só alguém assim
pode pretender impor ao país, pela segunda vez consecutiva e numa dose
reforçada, uma receita que já falhou. Só um radical se dispõe a retirar 5,3 mil
milhões de euros à economia portuguesa em 2013, em cima dos mais de 10 mil
milhões que retirará durante o ano de 2012. Só um aventureiro se predispõe a
fazer experiências numa economia complexa com base em cenários delirantes que
nenhum economista subscreve. É exemplo disso a tentativa frustrada de, através
de alterações na TSU, transferir rendimento diretamente de trabalhadores para
patrões. Só um conservador radical aproveita a crise presente para transformar
o Estado Social português numa versão minimalista e assistencialista.
No entanto, não
demonstrou qualquer vergonha quando acusou de radicalismo e aventureirismo
aqueles que, no PS, defendem o financiamento da dívida pública pelo BCE. Não há
nada de mais bom senso que defender que o BCE tenha os mesmos instrumentos dos
Bancos Centrais dos Estados Unidos da América, Inglaterra ou Japão. Basta para
isso ler o seu “amigo” e conselheiro económico de Durão Barroso, Paul De
Grauwe, na defesa de que não pode existir uma moeda única sem este mecanismo.
Se há lição a tirar desta crise europeia é a de que o euro não pode sobreviver
sem um Estado europeu digno desse nome. Pelo contrário, de Vitor Gaspar nunca
ouvimos uma ideia, uma proposta que vise solucionar o carácter europeu desta
crise.
Radical é um
Ministro das Finanças que tenta excluir, pela via da retórica, todos os que
querem participar no debate político com propostas praticadas no mundo real.
São homens assim que perigam a nossa democracia.
Escreve à
quarta-feira
Sem comentários:
Enviar um comentário