Deutsche Welle
Língua e cultura
têm papel relevante, mas são as razões econômicas que levam regiões como
Catalunha, Tirol do Sul e Flandres a buscar autonomia. Fator comum: todos
ajudam a financiar regiões mais frágeis de seus países.
Quando a seleção de
futebol da Espanha entra em campo e ecoa o hino nacional do país, pouco se ouve
das arquibancadas. Na melhor das hipóteses, apenas um acompanhamento da melodia
com um "lá-lá-lá", pois o hino espanhol não possui uma letra oficial.
A Espanha é o país europeu com o maior número de grupos étnicos, que continuam
cultivando seus idiomas originais. Mesmo que o espanhol seja oficialmente a
língua do país, em nível regional ele desempenha papel secundário.
Na Catalunha, uma
das regiões economicamente mais fortes de uma Espanha debilitada pela crise
econômica, os eleitores foram às urnas no último domingo (25/11). O governador
Artur Mas, um separatista conservador, provocou uma antecipação de dois anos no
pleito, a fim de ampliar sua maioria no governo e tomar as rédeas de iniciativas
em prol de um desmembramento de sua região da Espanha. A empreitada, contudo,
não valeu a pena. Seu partido, a CiU, só conseguiu 50 das 135 cadeiras na
Assembleia Legislativa, permanecendo como a maior força partidária, embora
tenha amargado uma perda de 12 mandatos.
Em defesa da
independência
Berthold
Rittberger, professor de ciência política da Universidade de Munique e
especialista em integração regional, não vê, mesmo assim, o resultado das urnas
na Catalunha como um voto da população contra os esforços em prol da autonomia,
mas sim uma retaliação ao atual governo estadual por sua política em outros
setores. "A eleição mostra certamente que é possível ganhar votos com um
programa separatista, mas isso não significa automaticamente que os eleitores
digam que este tema domina todo o resto", explica Rittberger em entrevista
à Deutsche Welle.
O ERC, partido de
tendência esquerdista e defensor do movimento pela autonomia da Catalunha,
também saiu-se bem nas urnas, tendo duplicado seu número de votos. E o político
conservador Mas proclamou rapidamente que pretende se ater aos planos de um
referendo sobre a independência da Catalunha.
Força econômica:
fator decisivo
Uma autonomia da
Catalunha, contra a vontade do governo espanhol em Madri, seria um dado novo
num país democrático na história europeia do pós-guerra. A divisão da então
Tchecoslováquia em
República Tcheca e Eslováquia, em 1993, foi apoiada por ambos
os lados e conduzida de maneira pacífica e sem resistências. Já a cisão da
antiga Iugoslávia acabou numa guerra, depois de plebiscitos em prol da
independência de diversas partes do país. A Iugoslávia acabou se desintegrando.
A última região a declarar sua autonomia foi o Kosovo, em 2008, que se tornou
independente da Sérvia. A condição do Kosovo não foi até hoje regulamentada
perante o Direito Internacional de maneira decisiva.
Mesmo que as razões
que levam ao desejo de independência sejam diversas e identidades cultural e
linguística próprias exerçam um papel fundamental neste contexto, são de fato
sempre as regiões mais economicamente estáveis que anseiam por uma autonomia. Não
importa se seja a Catalunha, o Tirol do Sul, na Itália, ou a região de
Flandres, na Bélgica: todos contribuem, em seus respecitvos países, para
subvencionar economicamente regiões mais frágeis.
De forma que a
atual crise econômica e financeira, em meio à qual este assunto vem sendo
debatido com veemência em nível europeu entre os Estados, só vem a fortificar
tal tendência. Deixar de pertencer à UE, no entanto, não é um aspecto que
influencia os esforços de independência das regiões. Pelo contrário: tanto a
Catalunha como Tirol do Sul e Flandres querem se tornar Estados autônomos, mas
pretendem continuar sendo membros da UE.
Escócia é exceção
Na Escócia, a
situação é um tanto quanto distinta. Aqui, os esforços separatistas já foram
formalizados ao máximo: em 2014, haverá no Reino Unido um plebiscito sobre a
independência do país, tolerado pelo governo britânico em Londres. Na Escócia ,
razões de ordem econômica desempenham, porém, um papel meramente secundário.
Dentro da
Grã-Bretanha, o país não é nenhum motor econômico digno de nota. "No caso
dos escoceses, não se sabe nem ao certo se o orçamento próprio basta para
financiar o Estado do bem-estar social", diz Roland Sturm, cientista
político da Universidade de Erlangen-Nürnberg, em entrevista à Deutsche Welle.
Esta é
possivelmente uma das razões pelas quais apenas um terço dos escoceses iria,
segundo enquetes atuais, optar por uma separação. Mas num aspecto, os escoceses
estão à frente dos espanhóis e catalães: eles não só têm seu próprio time de
futebol, como também um hino próprio, mesmo que não oficial, que sempre toca
antes dos jogos. E com letra.
Autor: Marcus
Lütticke (sv) - Revisão: Carlos Albuquerque
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