António Veríssimo
Por mais que
queiramos considerar de enaltecer as palavras de dirigentes de instituições que
se propõem aliviar a fome e as necessidades básicas dos portugueses não devemos
permitir que esta prática traga o regresso a Portugal do país dos coitadinhos
que levam para as luzes da ribalta “bondosas criaturas” do mesmo jaez da
maioral do Banco Alimentar, Isabel Jonet, que se promovem à custa da miséria
dos outros, exatamente provocada por políticos e outros que perseguem a senda
de sociedades injustas, desumanas, deficitárias de democracia.
Algumas vezes, se não
muitas vezes, são estas “bondosas criaturas” que afinal anseiam, exultam e
experimentam o climax a praticar a caridadezinha e alimentando as sociedades
injustas de que precisam para se sentirem enormes na sua pequenês. É evidente
que estas considerações, este modo de pensar e de sentir, não deve nem quer incluir
todos que atuam nos meandros de tais atividades, mas que existem demasiada
gente em busca de um lugar ao sol a par da Supico Pinto salazarenta do
Movimento Nacional Feminino disso não duvidemos. A senhora Jonet, por exemplo,
revela isso mesmo nas suas verborreias. A estratégia de Passos-Gaspar de
empobrecer os pobres e remediados deste país caiu às mil-maravilhas no alimento
do seu ego. Assim se entende.
Portugal regressou
ao país dos coitadinhos, dos pobrezinhos, dos sem-eira nem-beira e a máquina emperrada
da caridadezinha ali estava à espera para se pôr a funcionar, bem oleada que
vinha sendo ao longo destes anos de maior desafogo e decência proporcionados
pela sociedade justa que se preconizava na sequência do 25 de Abril de 1974. Deixaram
os portugueses que assim acontecesse, para mal deles próprios e dos seus filhos
e netos. Todos à uma, os caridosos – com aspas e sem aspas - saltam sobre os
coitadinhos e sossegam-nos garantindo-lhes que não vão passar fome porque podem
sempre recorrer aos serviços caritativos das suas organizações. Decerto que
eles falam da fome de comer, não da fome de trato condigno, cidadão, republicano
e justo que já hoje em dia ataca cerca de três milhões de portugueses. Mas
sobre isso sabem lá eles. O que sabem é fazer de Supicos Pintos a olhar para
Passos e Cavaco com vislumbres salazaristas.
Temos assim que
sobre a dignidade humana milhões de portugueses vêem-na atirada para a sarjeta.
A começar pelos que têm sido e agora são governo, passando por um presidente da
República que se acomoda pelos cantos escuros da cobardia política e de
objetivos esconsos. A fome dos portugueses não é só resultado de lhes faltar a
comida mas principalmente por existirem miriades de políticos, de banqueiros e
de empresários sem escrúpulos que através de conluios, nepotismos e corrupções se
têm apropriado e desbaratado o que pertence a um povo inteiro, a um país que se
aproxima do milénio de existência com a perspetiva negra do seu futuro.
Mesmo que a
existência de alguns destes pelotões ou exércitos assistencialistas não tenham
por objetivo implantar novamente a república dos coitadinhos, da miséria e das
carências – relegando a dignidade, a justiça e a democracia para as calendas
gregas – é mais que certo que importa aos portugueses estarem atentos e atuantes,
sabendo exigir a Justiça que falha, que ao longo de todos estes anos de inúmeros
escândalos e autênticos roubos tem sistemáticamente falhado, previligiando uma
súcia de envoltos em interesses mafiosos que delapidam o que aos portugueses
pertence sem sombra de dúvida. Isso e o desrespeito e violação constante da
Constituição são causas das fomes que existem. Várias fomes e não só aquela que
se relaciona com as refeições que as caridadezinhas distribuem como se de dar
milho aos pombos se trate. Espezinhando a dignidade e cidadania de milhões nas
chamadas e amadas Cantinas Sociais do ministro Mota Soares ou noutras instituições
que caridosamente ou solidariamente – com aspas e sem aspas – trocam um prato
de lentilhas pela consentaneidade do regresso à miséria, à exploração selvagem,
salazarista, num Portugal dos coitadinhos que estão e refundar. Esta, afinal,
será a tal refundação tão falada por Passos Coelho e seu séquito de “criaturas
caridosas”. A dignidade impõe que não se aceitem pratos de lentilhas por sua
troca. A dignidade impõe que os direitos dos portugueses sejam repostos: o
direito ao trabalho e justa remuneração, o direito à habitação, à saúde, à
educação. Que regresse a democracia e que a justiça seja feita sobre os que ao
longo de todos estes anos têm enriquecido inexplicavel e imoralmente. Tenham
eles casas na Aldeia da Coelha, no BPN ou noutros lugares e circunstâncias. Se existem suspeitas que se indague e que os interessados expliquem
transparentemente e sem lugar a dúvidas como o conseguiram. Que a Justiça seja Justiça e não um
carrocel de diversão das máfias, dos grupos de interesses, dos lobies ou de quem quer que
seja prejudicial ao interesse geral e comum dos portugueses.
A maior fome que os
portugueses têm é que Portugal não regresse ao cenário de país dos coitadinhos.
E essa só se combate exigindo respeito pela dignidade, direitos, liberdades, garantias
e deveres dos cidadãos da República.
Sabendo-se da possibilidade de que nem a todos aqueles que se dispõem a ser solidários com
seus semelhantes serve a carapuça deixemos aqui essa ressalva.
Saliente-se ainda
que nos textos que se seguem, extraídos de publicações devidamente identificadas,
nada é referido quanto aos que optam por apesar de estarem na miséria e a ter
uma vivência com fome de alimentos não recorrem às Cantinas Sociais do tenebroso e caridoso ministro Mota
Soares nem a outras instituições ditas de caridade ou de solidariedade. Não o
fazem não só por vergonha mas principalmente por não quererem violar ou
permitir que violem a sua dignidade, preferindo morrer de pé como as árvores. E a
esses, de que serve as caridadezinhas apregoadas? Mas a justiça, os direitos
constitucionais e humanos, a democracia serviria. Urge repor tais direitos, de modo a
eliminar as fomes, incluindo a fome do direito à dignidade. (Redação PG-AV)
Estão a ser tomadas
providências para que "ninguém passe fome" em 2013
O presidente da
Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) disse este
domingo que 2013 deverá ser um ano "muito difícil" e que estão a ser
tomadas providências para que "ninguém passe fome".
"É evidente
que não podemos garantir que não haja situações muito difíceis, mas acredito
que haja condições para ultrapassar as situações difíceis", disse à
agência Lusa o padre Lino Maia.
As palavras do
presidente da CNIS surgem após o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, ter
alertado sábado, numa manifestação diante da Presidência da República, que
"irá haver fome" com a eventual promulgação do Orçamento do Estado
para 2013, o que levou hoje Manuel Lemos, presidente da União das Misericórdias
Portuguesas, a dizer que enquanto existirem misericórdias não há razão para
haver fome em Portugal.
Em declarações à
Lusa, o padre Lino Maia admitiu que no interior do país, por estar "mais
desertificado", é "mais difícil o acesso e o acompanhamento das
famílias e das pessoas carenciadas, mas que estão a ser tomadas medidas para
que haja uma melhor distribuição das cantinas sociais de forma a fornecerem uma
ou duas refeições por dia a quem precisa.
"Não estou
eufórico, mas confiante que conseguiremos de facto responder aos
desafios", afirmou o responsável da CNIS, que disse haver também condições
para assegurar que nas escolas haja refeições para as crianças e jovens que
tenham mais dificuldades sociais e económicas.
Quanto ao
isolamento dos idosos, o padre Lino Maia mostrou-se preocupado, apelando às
Conferências Vicentinas, à CARITAS e às instituições de solidariedade que
procurem acudir a todas as situações, para que não haja "nenhum idoso
abandonado ou esquecido em casa".
O presidente da
CNIS observou que a "situação extremamente difícil" que o país
atravessa deve gerar e motivar o envolvimento de toda a comunidade para que,
com um "olhar de proximidade" e solidariedade, se possa minorar as
dificuldades.
"Peço especial
atenção para os idosos que merecem de todos um grande carinho, gratidão e um
gesto de solidariedade", concluiu.
Presidente das
Misericórdias: "Enquanto houver misericórdias não há razão para haver fome
em Portugal"
Jornal i – Lusa
O presidente da
União das Misericórdias Portuguesas, Manuel Lemos, disse hoje que enquanto
existirem misericórdias não há razão para haver fome em Portugal, criticando o
"calor da luta política" que se tem gerado sobre o assunto.
"Quem quiser e
estiver em condições e precisar (...) pode ir a uma misericórdia de Portugal e
a muitas IPSS [instituições particulares de solidariedade social] onde de certeza
terão o que comer", declarou Manuel Lemos à agência Lusa.
O responsável
admite que possa haver casos de fome em Portugal mas atribui-os ao facto das
pessoas não se dirigirem às instituições para receberem apoio e alimentos.
"É preciso
dizer às pessoas: «vão buscar os alimentos! vão buscar a comida!»",
sublinha.
Manuel Lemos diz
também entender que o assunto tenha destaque pelo "calor da luta
política", referindo-se por exemplo a declarações de sábado do
secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos.
Segundo o
sindicalista, em discurso proferido em Lisboa, o Orçamento do Estado (OE) para
2013 irá "trazer mais fome a Portugal".
O presidente da
União das Misericórdias Portuguesas lembrou hoje também o estudo recente sobre
desperdícios alimentares: em declarações no começo do mês à Lusa, Lemos referiu
que os dados conhecidos, que indicam que Portugal perde um milhão de toneladas
de alimentos por ano, revelam "problemas culturais" antigos.
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