Arão Ndipa – Voz da
América, com foto
Crescente pobreza,
desigualdade e "falsas promesssas e expectativas" atraiem angolanos
para o "evangelho da prosperidade", dizem analistas
A pregação do
evangelho da prosperidade, por parte de muitas seitas religiosas em Angola,
está a preocupar alguns membros da sociedade civil em Luanda, depois da
tragédia que envolveu fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, cujas causas
ainda não foram esclarecidas pela polícia nacional.
Até agora ninguém assumiu
responsabilidade pelo que terá falhado no evento de 31 de Dezembro.
O presidente José Eduardo dos Santos nomeou uma comissão de inquérito para
investigar a tragédia.
O comandante da polícia disse que o número de pessoas que se deslocaram ao
estádio da cidadela tinha sido muito superior ao previsto pela própria igreja.
Várias pessoas teriam morrido asfixiadas nas entradas do estádio, disse.
A adesão dos angolanos a seitas religiosas do género está a merecer comentários
de diversos analistas.
O sociólogo João Paulo Ganga disse que o evangelho da prosperidade atrai jovens
discriminados pela desigualdade social, pelo seu franco poder de compra e
a falta de esperança
Mas Paulo Ganga disse ser errado ligar a tragédia só à Igreja Universal do
Reino de Deus.
“Isto também aconteceu quando o Papa esteve em Angola,” disse recordando que
nessa altura morreram duas pessoas.
Para Ganga o acontecimento revela insuficiências na capacidade
organizacional desse tipo de eventos.
Contudo, disse, do ponto de vista sociológico há que saber o que leva “essas
pessoas a aderirem em massa a um fenómeno como este”.
“Esse tipo de igreja prega o que chama de evangelho da prosperidade fazendo uma
relação directa entre o cristianismo e a prosperidade,” disse.
“Como há na nossa sociedade cada vez menos poder de compra, cada vez há mais
desigualdade, cada vez há menos esperança da juventude as pessoas são obrigadas
a fazer fé nesse tipo de crenças,” acrescentou.
A lição disse é que “há cada vez maior pobreza, cada vez mais falta de
esperança” pelo que as pessoas “agarram-se” a esse tipo de esperança.
“Essas religiões vão continuar a crescer,” disse.
Já o padre católico Joaquim Lumingo disse que esperar da religião e
de Deus “apenas milagres” é um indicativo que as pessoas “não compreenderam o
que é Deus”.
Lumingo avisou que “por detrás de promessas falsas e essa publicidade que cria
falsas expectativas” está muitas vezes escondida “uma religião mal entendida ou
então outros interesses de negócios para poderem arrecadar fundos”.
O padre Lumingo avisou do perigo dessasse tipo de religião “criar instabilidade
social”.
O padre Lumingo descreveu o fenómeno como “uma fé cega sobretudo porque as
pessoas deixam-se levar por promessas de pastores que não passam de
charlatães que têm como objectivo não tanto tocar o coração das pessoas ,
a vida das pessoas mas sim tocar o bolso das pessoas”.
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