Eric Maurice* -
Presseurop, editorial
O que é que tem
nuances de cinzento, castanho e verde, que é maleável e que cabe no bolso? A
última patranha de Mario Draghi, dirão alguns espíritos retorcidos ou
cáusticos. Mas a nova nota de cinco euros,
apresentada em 10 de janeiro – sim, é disso que se trata – é a prova mais banal
e ao mesmo tempo mais concreta de que as autoridades europeias mantêm
inabalável a sua fé no futuro da moeda única. Que haverá de mais simbólico, aos
olhos do público, dos políticos nacionais e dos mercados que a introdução de
uma nova nota?
O presidente do
Banco Central Europeu (BCE) preferiu colocar a tónica na inovação
gráfica da nota: a presença de um rosto humano, no caso presente o da
personagem mitológica Europa, copiada de uma cerâmica grega, em exposição no
Museu do Louvre, em Paris. Até agora, as notas de euro apresentavam apenas
monumentos imaginários ilustrativos da história da arquitetura europeia da
Antiguidade até aos nossos dias.
Quando do
lançamento da moeda única, os dirigentes europeus desistiram, após profunda
reflexão, da escolha de personalidades ou monumentos reais. Quem, entre Goethe,
Cervantes ou Victor Hugo, teria ornamentado as notas de 500 euros, e não as de
dez euros? Porquê escolher o Coliseu e não a Acrópole (ou o inverso)? O medo de
ferir suscetibilidades nacionais e o receio de, assim, tornar impopular esta
divisa artificial levaram à decisão de inventar monumentos tipo. Com risco de
reforçar o caráter impessoal do euro.
Mais de dez anos
após a introdução das moedas e notas, esta problemática parece estar
ultrapassada. Nem mesmo a crise do euro parece ter posto seriamente em causa
este novo hábito diário dos europeus. Agora que acaba de ser dado o primeiro
passo, poderíamos incentivar o BCE a ir mais longe em matéria de audácia.
Quando a UE
recebeu o prémio Nobel da Paz, muitas pessoas, incluindo alguns dirigentes
políticos, salientaram que o galardão premiava tanto os Fundadores da construção
europeia como os seus continuadores atuais. Então, por que não ir mais
longe nessa homenagem e consagrar Robert Schuman, Jean Monnet, Altiero
Spinnelli ou Paul-Henri Spaak, para citar apenas alguns?
Haverá quem
contraponha que eles não são suficientemente conhecidos do grande público e que
representam uma visão tecnocrática da Europa. Contudo, isso seria precisamente
uma forma de integrar as referências históricas e culturais comuns dos europeus
(mesmo que se tratasse apenas daqueles cujos países são membros do euro). E
isso seria de qualquer modo melhor que monumentos inventados, que ninguém pode
visitar.
Nada impediria
depois que se ornamentassem as nossas notas com escritores, pintores e músicos,
dantes ostentados nas nossas antigas moedas nacionais. Para fazer finalmente do
euro uma moeda com rosto humano.
* Eric Maurice é um
jornalista francês, nascido em 1972, chefe de redacção dopresseurop.eu. Após completar os cursos de História e de
Jornalismo, entrou para o Courrier Internacional em 2000, onde foi responsável
das páginas sobre França, cobriu a actualidade norte-americana e dirigiu a
secção de Europa Ocidental.
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