Liberal (cv) – com foto
Talvez incomodados
com a presença de ativistas sociais e jornalistas, os funcionários municipais
bateram em retirada, levando consigo a retroescavadora que se preparava para
arrasar várias habitações e colocar famílias sem-abrigo
Praia, 12 janeiro
2013 – Os despejos previstos para a última sexta-feira no Bairro de Santa
Filomena, Amadora (Portugal), acabaram por não se efetuar. Um camião da Câmara
Municipal, transportando uma retroescavadora, ainda chegou ao local logo pela
manhã, mas a presença de dezenas de ativistas sociais e de vários jornalistas
parece ter contido o ímpeto demolidor, e os funcionários municipais, as
máquinas e respetivo enquadramento policial acabaram por bater em retirada.
Entretanto,
moradores do bairro deslocaram-se durante a manhã aos Paços do Concelho
intentando falar com o edil, Joaquim Raposo, em cuja gaveta repousa um pedido
de audiência com data de Junho último. Em vão.
Para além dos
ativistas sociais, também marcou presença o deputado Emanuel Barbosa, eleito
pelo Círculo Eleitoral da Europa e Resto do Mundo, que desde o início tem vindo
a acompanhar o processo de despejo e manifestado solidariedade com os moradores
do bairro. No local, o parlamentar do MpD falou com os jornalistas e deu uma
entrevista ao canal de televisão português TVI. Da Embaixada de Cabo Verde em
Lisboa é que, mais uma vez, não se viu vivalma, nem tão-pouco se conhece
qualquer diligência promovida pela representação diplomática.
Recordamos que,
durante a última semana, fiscais da câmara contactaram com vários moradores
anunciando as demolições de ontem. Entre eles, estão duas famílias não
abrangidas pelo Plano Especial de Realojamento (PER), entre as quais o agregado
familiar de Jailson Fonseca Amador, cuja história tivemos ocasião de aqui
contar em 11 de dezembro último.
Os despejos no
bairro tiveram duas expressões de grande violência em Julho e Novembro do
passado ano, colocando sem teto crianças, idosos e pessoas de saúde precária,
algumas delas ali residente há quase duas dezenas de anos, sem que a Câmara
Municipal alguma vez tenha obstado à sua permanência ou à construção de novos
fogos, excluindo-as de qualquer processo de realojamento que garantisse
habitação a preços justos e adequados aos rendimentos familiares. Pelo
contrário, a “solução” encontrada pelo município é o pagamento de uma semana de
alojamento numa pensão de Lisboa, posto o que as pessoas (todas elas com
autorização de residência e grande parte com cidadania portuguesa) são
colocadas no olho da rua.
Ao que o Liberal
apurou, ativistas sociais e defensores dos direitos humanos preparam nova
concentração na próxima segunda-feira, 14, temendo ser nesse dia que a
autarquia retome o processo de despejo.
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