JSD – JPF - Lusa
Cidade da Praia, 19
jan (Lusa) - O Comando Político-Militar Colonial montou uma campanha
"insidiosa" e usou "intriga política" para tentar afastar
cabo-verdianos e guineenses durante a luta de independência da Guiné e Cabo
Verde, abrindo caminho ao assassínio de Amílcar Cabral.
A afirmação foi
feita sexta-feira à noite pelo ex-presidente cabo-verdiano Pedro Pires
(2001/11), na abertura do Fórum Amílcar Cabral, organizada pela fundação
homónima e presidida pelo também antigo comandante da Frente Sul na guerra de
libertação e primeiro primeiro-ministro do Cabo Verde independente (1975/91).
"É preciso ter
em mente que as guerras coloniais versus guerras de libertação nacional
apresentam várias facetas: a militar, a política, ideológica e psicológica, a
de conspiração, subversão e desinformação, de intoxicação ideológica, de
espionagem, de assassínios e de golpes sujos", começou Pedro Pires,
falando da sua vivência pessoal.
Sem explicitar
nomes, nem responder à questão que domina os debates do Fórum, quem mandou
matar Cabral, Pedro Pires lembrou que é "nesse contexto de guerra,
conspiração e métodos criminosos e repressivos coloniais" que se deve
entender o recurso ao assassínio de Amílcar Cabral, abatido a tiro a 20 de
janeiro de 1973.
"Um dos
argumentos de intriga política dos conspiradores e assassinos era que os
cabo-verdianos teriam um tratamento privilegiado no PAIGC (Partido Africano da
Independência da Guiné e Cabo Verde)", afirmou.
Aludindo, sem
nomear, aos "homens da pena ao serviço dos restos ideológicos do poder
imperial", Pedro Pires salientou que ainda recentemente tentaram
"desresponsabilizar e branquear os crimes dos seus chefes coloniais",
que, na sua opinião, se "converteram em heróis serôdios".
"Não há lugar
para confusão. No quadro da guerra psicológica, intoxicação, diversão e
desinformação, o CPMC, não confundir com Portugal e com os portugueses, montou
uma insidiosa campanha contra os funcionários e os cabo-verdianos na
Guiné", afirmou.
Essa campanha,
prosseguiu, tinha um "intuito perverso e cínico" de confundir a
opinião guineense, alijar responsabilidades e de tentar transferir para os
cabo-verdianos e para Cabo Verde as responsabilidades dos crimes e desmandos
que "foram e são da responsabilidade do colonizador e do colonialismo
português".
"Na repressão
colonial, muitos agricultores e pequenos empresários de origem cabo-verdiana
foram assassinados e outros presos e deportados por envolvimento com o PAIGC.
Naquela fúria repressiva, várias personalidades cabo-verdianas foram presas,
torturadas e deportadas para as masmorras da PIDE, em Portugal",
salientou.
No seu entender, a
partir de 1970, as campanhas militares "desesperadas" do CPMC, na
tentativa de reverter a seu favor o estado de equilíbrio militar "já em
declínio", conjugadas com a propaganda lusa no "Por Uma Guiné
Melhor", não deixaram margem para dúvidas.
"O recurso ao
assassínio do líder do PAIGC insere-se na busca de uma saída para o grave
dilema em que vivia o poder colonial. (?) Nada melhor do que decapitar o PAIGC,
solução já experimentada em outras guerras coloniais. Reside aí a razão
principal de avançar com a operação do assassínio de Cabral pelos serviços
secretos portugueses e por seus homens de mão", sustentou.
Para Pedro Pires,
em novembro de 1970, o CPMC fracassou "vergonhosamente" (Operação Mar
Verde) na tentativa de provocar a mudança de regime na Guiné-Conacri, destruir
as instalações do partido em Conacri e assassinar os dirigentes do PAIGC.
"Esses
desaires, conjugados com os riscos eminentes de um colapso militar e do
afundamento do império colonial, obrigaram-no a ir mais longe na sua miopia
política e na ação criminosa e recorreu decididamente ao assassínio do lúider
do PAIGC", rematou.
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