Eliakim Araújo –
Direto da Redação
Depois da pausa de
fim de ano, que se misturou às discussões entre republicanos e a Casa
Branca em busca de uma saída que tirasse o país da beira do abismo fiscal (será
que tirou?), o tema do controle de armas volta a empolgar os EUA, sobretudo depois
de uma nova chacina, neste sábado, na mesma cidade de Aurora, no
Colorado, onde. há dois ou três meses, um louco armado de potentes
armas matou doze pessoas e feriu mais de cinquenta dentro de um cinema que
estreava mais um violento filme de Batmam.
Desta vez foram
quatro mortos, três inocentes e o atirador, número que já não emociona uma
população calejada pelas tragédias que têm sua origem na facilidade com que
qualquer imbecil se arma das mais modernas máquinas de matar, desde as
automáticas (ou semi) até pistolas de alto poder de fogo que são facilmente
reabastecidas pelo atirador.
E todos se armam e
matam protegidos por um dispositivo constitucional criado em 1791, no
tempo das diligências, quando milícias paticulares eram montadas para dar
proteção aos cidadãos: Estabelece a indigida Emensa: "Sendo
necessária à segurança de um Estado livre a existência de uma milícia bem
organizada, o direito do povo de possuir e usar armas não poderá ser impedido”.
Essa Emenda é parte integrante da Bill of Rights, onde estão
discriminados os direitos fundamentais do cidadão estadunidense. E ai de
quem tentar abolir ou modificar esse dispositivo.
O massacre na
escola elementar da pequena cidade de Newtown, com as trágicas consequências
que o mundo inteiro acompanhou, obrigou Obama a tomar uma posição. Ele prometeu
priorizar em seu segundo mandato, de alguma maneira, o controle de armas no
país. Mas ele sabe que essa é uma tarefa quase, para não dizer
totalmente, impossível. Primeiro, porque ele terá que conseguir o
apoio da Câmara de Deputados, de maioria republicana, que se opõe a qualquer
alteração legislativa que dificulte o acesso às armas. Segundo, porque ele terá
que passar por cima do poderoso complexo militar-industrial do país, em cuja linha
de frente estão as associações de proprietários de armas, com destaque para a
NRA (National Rifle Association), que tem quase dois milhões de membros
fanáticos por armas.
A propósito, e aqui
eu entro no foco do artigo, dirigentes dessas associações participaram de
programas de TV para mostrar sua intransigente defesa da Segunda Emenda.
Um deles, no programa de Piers Morgan (foto), na CNN, pregou a entrega de armas
a professores e funcionários das escolas, como único meio de proteger as
crianças e culpou o governo por não cuidar da saúde mental da população.
Diante de tamanha imbecilidade, o apresentador, que é britânico, perdeu a
paciência com o entrevistado e mandou, na lata: “você é um homem
inacreditavelmente estúpido”.
O lobby das armas
não perdoou a “insolência” do jornalista britânico, que vive e
trabalha legalmente nos Estados Unidos, e colocou a cabeça dele a
prêmio. Num abaixo-assinado postado no site da Casa Branca, até alguns dias,
eram mais de 100 mil assinaturas pedindo a deportação de Piers Morgan, sob a
acusação de ingerência nos assuntos internos do país ao criticar a Constituição
americana.
Mas Piers Morgan
não se assustou com a ameaça e partiu para o contra-ataque e, em entrevista a
um jornal britânico, reproduzida em toda a mídia estadunidense, foi
suficientemente corajoso em defender seu ponto de vista e mandou um recado aos
armamentistas:
“Se vocês não
mudarem suas leis sobre armas para pelo menos tentar parar esta implacável onda
de carnificinas, então vocês não precisam se preocupar em me deportar.
Embora eu ame este país como uma segunda casa e onde sou tratado incrivelmente
bem, eu mesmo o faria - principalmente por ser pai preocupado de um filha
de um ano de idade, que daqui a três anos poderá estar frequentando uma escola
elementar americana como a Sandy Hook. Por isso, eu considero seriamente
deportar-me”.
Esse é o clima que
domina hoje os Estados Unidos na questão do controle de armas. De um lado,
irredutíveis, os conservadores que defendem a intocabilidade da Segunda
Emenda e rechaçaram a proposta de uma senadora da Califórnia, de, pelo menos,
proibir a venda de rifles de assalto, semi-automáticos, usados pelos militares
em guerra. De outro, os de pensamento mais liberal, que pregam
algum tipo de controle que dificulte a ação dos loucos armados que infestam a
terra de Tio Sam.
Obama, para esfriar
os ânimos, colocou o vice Joe Biden no comando de uma comissão
bipartidária para apresentar sugestões práticas que impeçam a repetição
de novos massacres no país. Mas, no fundo, ele apenas empurrou o problema com a
barriga, porque sabe que limitar a venda de armas é mexer em vespeiro. E a
resposta pode ser surpreendente.
* Ancorou o
primeiro canal de notícias em língua portuguesa, a CBS Brasil. Foi âncora dos
jornais da Globo, Manchete e do SBT e na Rádio JB foi Coordenador e titular de
"O Jornal do Brasil Informa". Mora Fort Lauderdale, Flórida. Em
parceria com Leila Cordeiro, possui uma produtora de vídeos jornalísticos e
institucionais.
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