Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
Os sucessivos
episódios que o relatório do FMI está a provocar mostram à exaustão a
falta de coragem política e o destempero que atingiu os responsáveis deste país.
Vamos por partes, para que se perceba melhor o que está em causa.
Portugal tem
gasto mais do que produz e, ainda que volte ao crescimento, não conseguirá
sustentar o nível de despesa. A ideia de voltar aos mercados, postulada
por Gaspar e Passos, corresponde à possibilidade de Portugal voltar a
endividar-se.
Porém, se o volume
das despesas do Estado não diminuírem, não é possível equilibrar as contas
públicas e muito menos baixar o enorme nível de impostos existente que
são, em si, um travão ao próprio desenvolvimento.
Perante isto, pode
haver muitas escolhas e não necessariamente saídas de um catálogo do FMI. Mas
vejamos como, perante este cenário, reagem os atores políticos nacionais.
1) O
Governo esconde-se atrás de um relatório que, aparentemente, encomendou ao
FMI, como se não tivesse, ou não devesse ter, uma posição sobre o assunto; o
Governo teme perder ainda mais popularidade se tiver de assumir o risco de
discutir uma redução do peso do Estado;
2) Parte
do Governo (CDS) finge que não sabe de nada; deixa o ónus para o parceiro de
coligação, dizendo coisas vagas, mas não explicando o que, em seu entender, se
cortaria na despesa;
3) Parte
do PSD (Carlos Carreiras) avisa que o problema está no sorriso de um
secretário de Estado e exige a sua demissão, a fim de garantir votos numas
eleições autárquicas onde tem medo de ser cilindrado, caso pareça estar
relacionado com estes problemas mesquinhos de falta de dinheiro;
4) O
PS refugia-se em argumentos de falta de legitimidade do Governo; ou seja,
não se obriga a dar alternativas, como se não soubesse que a despesa é
totalmente insustentável, ou não tivesse, também, responsabilidades nessa
matéria;
5) O
Bloco de Esquerda insulta, através da deputada Catarina Martins. Chama o
Governo criminoso; Ana Avoila, líder dos sindicatos da Função Pública, ligada
ao PCP, para não ficar atrás, chama-lhe mafioso;
6) O
Estado, prestando cada vez menos serviços e com menos qualidade, gasta cada vez
mais dinheiro. Parte é em juros da dívida, contraídos com crescimento
artificial gastos em cimento.
No meio de tudo
isto, não há ninguém que queira, efetivamente, mudar o país, discutir
o que deve ser feito. Mais: parece haver uma conspiração para que jamais
seja mudado este estado de coisas, de modo a que o Estado continue a ser
propriedade de alguns e sustentado através do confisco.
Mas é deprimente
ver Portugal chegar a uma situação em que vamos ter de executar o que
os outros mandam, sem qualquer discussão. Se é essa a estratégia de Vítor
Gaspar, pode agradecer o facto de tanta gente cair na sua armadilha.
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