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O investimento em
energia e infra-estruturas pode transformar o negligenciado norte e afectar a
sucessão presidencial.
Anadarko e outras
companhias petrolíferas prevêem que o gás descoberto em Cabo Delgado pode
duplicar o produto interno bruto anual. Por enquanto, acredita-se que as vastas
reservas de carvão se encontram na província do Niassa. O centro da gravidade
de oportunidades económicas de Moçambique parecem se transladar para o norte. O
governo está a atrair investidores estrangeiros para ajudarem na transformação
desses recursos naturais em rendimentos públicos para o que era até agora um
dos países mais pobres do mundo.
Os líderes da
Frente de Libertação de Moçambique garantem os seus benefícios pessoais e podem
usar os recursos para influenciar suas posições no seio da Frelimo. A figura
mais importante no desenvolvimento do norte é o General Alberto Chipande, a
quem a lenda da Frelimo acredita ter sido o protagonista do tiro que lançou a
luta de libertação contra o colonialismo português em 1964. Um Ex-ministro da
Defesa e natural de Cabo Delgado, ele representa a província no parlamento. Aos
73 anos de idade, ele é, certas vezes, visto como um dos dinossauros do partido
mas o antecipado renascimento de norte tem revivido quer os seus negócios como
os seus interesses políticos.
Embora todos
líderes seniores da Frelimo tenham maiores interesses de negócio, os de
Chipande são muito independentes dos do Presidente Armando Guebuza, mesmo assim
ele tem sido seu próximo conselheiro político. Os aliados dos negócios do
Chipande incluem generais naturais do norte e a Frelimo, bem como empresários
que se pensa serem rivais de Guebuza. Uma proposta presidencial por Chipande no
próximo ano não parece improvável como já aconteceu uma vez.
A estrela de
Guebuza está em decadência já que o fim do seu último mandato no cargo
aproxima-se. Ele está a tentar transferir alguns poderes presidências ao seu
privilégiado, Alberto Vaquina, a quem o nomeou como Primeiro-ministro no ano
passado na expectativa de continuar a manter influência. Um outro favorito de
Guebuza, Jose Pacheco, foi visto como uma estrela ascendente e um possível
sucessor mas a sua reputação foi manchada devido a sua reacção aos tumultos de
comida em Setembro de 2010 e, recentemente, acusações de corrupção. Uma
informação recente dada pela Agência de Investigação Ambiental (AIA) criticou o
Ministro de Agricultura por ter relações muito próximas com uma empresa chinesa
que tem estado ilegalmente a exportar madeira. A AIA estima que cerca de metade
de negócio de madeira de Moçambique, que tem estado a crescer fortemente, é
ilegal. O General Chipande também tem interesses nas madeiras.
Chipande e a
presidência
O estado de Alberto
Chipande como um herói incontestado do partido faz dele, uma atractiva
perspectiva presidencial para elementos anti-Guebuza como Graça Machel, viúva
do presidente Samora Machel, esposa do antigo Presidente Sul-africano Nelson
Mandela e uma empresária de sucesso no seu próprio direito. Armando Guebuza tem
mantido a fé dos “antigos combatentes” até agora por oferecer-lhes tachos e
protecção, e até mesmo terras e concessões mineiras. Contudo os aliados do
Chipande incluem antigos combatentes de Cabo Delgado que sentem que Guebuza não
tem sido suficientemente generoso.
Um outro aliado
próximo do Chipande que é hostil ao Guebuza é o empresário Fernando Amado
Couto, alegado em ser o cérebro por detrás da aquisição de Nacala Porto pelo
recém-formado “Portos do Norte” (PdN). Acredita-se que Chipande e o General
Raimundo Domingos Pachinuapa são accionistas na PdN e a empresa pode estar a
negociar a gestão de outro porto no norte.
Se Armando Guebuza
quiser que as suas influências continuem, alguns perguntam, por que não a sua
esposa, Maria da Luz Dai Guebuza, sucedê-lo? Presidente da Associação de
Mulheres Moçambicanas, a Primeira-dama tem fortes referências da libertação e
tem desempenhado outros papéis em comum com chefe do estado. Outros são cépticos:
alguns notam que a família Guebuza teme que os eleitores podem punir qualquer
ambição dinástica. Contudo, alguns líderes da Frelimo querem um rosto famoso
para fazer face as próximas campanhas presidências.
As perspectivas
presidênciais do Chipande são mistas. Embora popular no partido, ele é
desconhecido na maioria dos eleitores jovens e é improvável para atraí-los,
embora se pensa que não existem perspectivas de candidato de qualquer outro
partido triunfar contra a máquina da Frelimo em 2014. Os eus aliados estão a
trabalhar para fomentar seu apoio nas províncias nortenhas mas ele precisa
ainda do auxílio do Guebuza para fazer uma completa proposta para a
presidência. Acontece o que acontecer com ele politicamente, parece determinado
em permanecer uma figura essencial na – e beneficiário de – crescimento
económico do norte.
A rede Quionga
Um movimento chave
dos negócios do General Alberto Joaquim Chipande foi a formação de Quionga
Energia SA neste Janeiro. Estão também envolvidos o seu aliado de longa data
General Raimundo Pachinuapa e a empresa Epsilon Investmentos SA do antigo
Ministro das Finanças Abdul Magid Osman. Quionga pretende agir da mesma maneira
como empresas privadas estabelecidas pelos líderes do governo angolano para
colher benefícios de exploração petrolífera no mar sem ter que investir. Em
Angola, as grandes empresas petrolíferas que ganham licenças de exploração são
depois obrigadas pelo governo de José Eduardo dos Santos a “partilhar” uma
pequena cota, geralmente de 10% a 15% para empresas como Quionga. Com
fundadores poderosos mas sem experiência industrial, a Quionga é um modelo
clássico designado para venda do modelo angolano, confirma uma fonte da Frelimo
próxima dos generais.
Outros accionistas
da Quionga incluem o General Henriques Lagos Lidimo, antigo chefe do Estado
Maior, e Salésio Teodoro Nalyambipano, antigo Vice-ministro de Segurança e
ex-embaixador em Angola. Também são accionistas o General Tomé Eduardo e o
General Atanásio Salvador Mtumuke, ambos de etnia maconde. A amizade de
Chipande e Pachinuapa remonta dos seus tempos como comandos da guerrilha
durante a guerra e ambos são antigos governadores da Província Cabo Delgado e
membros da Comissão Política, organismo da governação da Frelimo. A esposa de
Pachinuapa, Maria, está no comité Central da Frelimo e está ligada à Graça
Machel através da sua empresa Grupo Whatana investimento.
Os generais já têm
muitos interesses de comerciais na província de Cabo Delgado, particularmente
no sector da silvicultura e mineração. Chipande e Pachinuapa estão envolvidos
na silvicultura através duma empresa chamada Newpalm Internacional, como é o
caso do Lidimo e Mtumuke numa firma chamada Madeiras de Machaze. O parceiro
chave do Chipande através da Newpalm é José Mateus Muaria Kathupa, irmão de
Carvalho Muaria, actual Ministro do Turismo, e antigo Governador da Província
de Sofala e um director da Petromoc. Pachinuapa, Lidimo e Nalyambipano têm
interesses na concessão de rubi em Montepuez. Algumas fontes afirmam que Lidimo
detém concessões de terras ricas em minerais na Província de Niassa e Chipande,
cujo leque de interesses comerciais incluem a mineração, uniram-se na obtenção
de terras em Palma. A Epilson é fundamental para a Quionga.
A Epsilon
inicialmente concentrava-se em investimentos imobiliários. O seu proprietário,
Osman, está na Administração da empresa portuguesa de petróleo e gás, a Galp. A
Galp tem grande interesses em Moçambique, incluindo 10% da parcela 4 na bacia
do Rovuma, controlada pela empresa Italiana ENI (Ente Nazionale Idrocarburi),
que é uma das accionistas principais do Galp. A ligação de Magid Osman através
da Galp devia por a Quionga na primeira posição para se beneficiar durante o
processo da proposta.
Todos contratos,
contudo, devem ser concedidos aos licitantes devidamente qualificados e o papel
da Quinga será cuidadosamente seguido pelos defensores da transparência. Mesmo
que a Quionga não obtenha percentagens das explorações offshore, permanece
muito bem colocada para beneficiar dos contractos de fornecimento de
infra-estruturas auxiliares que podem rondar os US$50 biliões na instalação da
unidade de liquefacção de gás que a ENI está a construir com Anadarko em Palma.
O projecto da Epsilon foi criado em 2007, por Magid Osman, depois do presidente
Armando Guebuza o ter afastado do segundo maior banco comercial, BCI- Fomento.
Guebuza forço-o a vender as suas acções e ceder a presidência ao seu escolhido
Celso Correia. Outro accionista do BCI que juntou-se a Osman no Epsilon é o
jurista e ex-membro da Assembleia da República pela bancada da Frelimo Abdul
Carimo Mohamed Issa, parceiro de negócios de Osman e Machel. Segundo as nossas
fontes Abdul Carimo estave envolvido na fundação da Quionga, na qual é também
accionista.
A Quionga pode
também pretender mediar a entrada de investidores Angolanos para o petróleo
Moçambicano e indústria de gás. O Vice-presidente angolano Manuel Vicente,
antigo chefe de Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola, tem feito viagens
regulares a Moçambique para falar com empresas privadas sobre oportunidades de
petróleo e gás. Acredita-se que ele já visitou o país duas vezes este ano.
Chipande está
melhor colocado para fazer negócios com Luanda do que Guebuza, cujas relações
com a liderança Angolana diz-se serem fracas. A Sonangol é um outro maior
accionista da Galp e recentemente, a empresa Angolana tentou aumentar o seu
controlo na Galp assim como assegurar a sua entrada nas indústrias em outros
países, tal como no Brasil. Alguns observadores industriais consideram lógico
que a Sonangol entre em Moçambique através da Galp e de Magid Osman.
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