Filipe Paiva
Cardoso – Jornal i
Transportadora
arrecadou 15 milhões com cortes nos salários e aumentos de 24% nos tarifários.
Mas só os swaps limparam 17 milhões
O esforço exigido
aos trabalhadores e aos utentes da Carris em 2012 foi transformado numa
mão-cheia de nada graças ao custo que a empresa teve de suportar com os
contratos de cobertura de risco (swaps).
Segundo o relatório
e contas (R&C) de 2012 da Carris, a empresa desembolsou 16,92 milhões de
euros “relativos a pagamentos de swaps”, valor que supera os ganhos que a
empresa registou com cortes e aumentos de preços. A Carris no ano passado
reduziu a factura com os trabalhadores 18%, tendo pago menos 11,9 milhões. Ao
mesmo tempo, e graças aos sucessivos aumentos tarifários, fechou 2012 com uma
subida de 3,5 milhões nas receitas de bilheteira (+4,4%), isto apesar de ter
registado uma quebra de 31 milhões de viagens na procura (-15,6%). A variação
implica que cada cliente da Carris pagou mais 24% em 2012.
Os resultados
destes sacrifícios trouxeram então um ganho de 15,4 milhões para as contas da
transportadora, valor todavia inferior à perda de 17 milhões provocados pelos
swaps. Mas o cenário é pior: é que também o aumento do recurso a dívida de
curto prazo agravou “significativamente” os resultados financeiros da empresa,
que perdeu mais 22,6 milhões de euros nesta rubrica que em 2011, valor que
também “absorveu, integralmente, os ganhos operacionais obtidos”, diz o
R&C.
SOBE DÍVIDA A CURTO
PRAZO
A insustentabilidade da dívida da Carris está num ponto em que
combatê-la significa hoje apagar fogo com gasolina. A empresa não tem dinheiro
nem acesso a crédito em condições aceitáveis, tendo caído assim num ciclo de
deterioração acelerada: como não tem dinheiro nem crédito, a Carris financia a
actividade com dívida a curto prazo. Em resultado disso paga as contas pontualmente
mas assumindo juros cada vez mais altos, logo fica mais fragilizada e pede mais
dinheiro a curto prazo.
Tudo isto surge
expresso nas contas: em 2011,
a relação entre a dívida de curto prazo e a de médio e
longo prazo da Carris era de 32,2%. Só no passado este valor saltou para 67,4%.
O efeito da mudança vê-se nos custos da dívida. Se em 2011 foram 51,3 milhões
de euros, em 2012 saltaram para 70,2 milhões. Já este ano, “se nada se
alterar”, assume a empresa, “a relação entre a dívida de curto prazo e a dívida
de médio e longo prazo virá a ser de 122,9% no final de 2013” . E os custos da dívida,
já insustentáveis, subirão muito mais.
SWAPS RENDEM ATÉ
2009
Segundo se explica no R&C da Carris, a aposta nos swaps surgiu em
2005, quando, “face à subida das taxas de juro, a empresa contratou swaps para
cobertura do risco”. No início estes até tiveram um efeito positivo nas contas,
a render “1,6 milhões de euros em 2006, 5,5 milhões em 2007 e 9,0 milhões em 2008” . Porém, e com a descida
das taxas de juro em 2009, pouco tardou que os ganhos passassem a avultadas
perdas. Logo em 2009 “o fluxo financeiro líquido foi de -5,0 milhões de euros,
em 2010 de -15,6 milhões de euros, em 2011 de -13,8 milhões de euros e em 2012
de -17,0 milhões”.
Feitas as contas a
estes sete anos de investimento nos contratos de cobertura de risco,
verifica-se uma perda global de 35,3 milhões de euros com os swaps - graças a
16,1 milhões de euros em ganhos conseguidos entre 2006 e 2008, que nos anos
seguintes se transformaram em perdas acumuladas de 51,4 milhões de euros.
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