terça-feira, 23 de abril de 2013

Portugal: O REGABOFE-SINA DAS CONTAS PÚBLICAS




Fernando Santos – Jornal de Notícias, opinião

Primeiro o escândalo BPN. Milhões e milhões de euros de vigarice passaram pelos olhos da supervisão do emérito Vítor Constâncio, entretanto promovido de governador do Banco de Portugal para "vice" do Banco Central Europeu. O Estado assumiu os prejuízos e deixou à rédea solta, até hoje, a empresa (SLN) que então ancorava os malabarismos. Em bom português: ficou com os ossos e deixou a carne nos privados. O resultado é do conhecimento público: um buraco monumental, na ordem dos quatro mil milhões de euros, já causticou os bolsos dos cidadãos, mas nenhum dos vigaristas está preso. Alguns, pelo contrário, até se dão ao luxo de andar por aí a passear as fortunas recebidas a crédito, sem que o Estado mostre capacidade para os obrigar a pagar.

Para lá de outras minudências, se o episódio BPN subverteu as contas públicas, outro tanto se passou no Governo Regional da Madeira. Todos os mecanismos de inspeção falharam, ninguém foi capaz de perceber a existência de um défice escondido e a determinada altura foram os próprios encobridores a denunciarem um galope de mais de mil milhões de euros não contabilizados - uma cifra publicitada com a devida vénia a Alberto João Jardim pois já se sabe ter ele outra visão contabilística e segundo a qual é credor do Poder Central. O povo é chamado a pagar, claro.

A descoberta de regabofes nas contas públicas está a transformar-se numa sina. Preocupantemente má, sob dois pontos de vista: leva a mais e mais austeridade e não deixa quaisquer sequelas de moralização na vida nacional.

De desastre financeiro em desastre financeiro, eis-nos, agora, em nova etapa: a do sorvedouro de dinheiro pelas empresas públicas, não tanto por cumprirem um objeto social mas por descarada má gestão, a começar pelas do setor dos transportes.

O JN revelou o caso há uma semana: as contas de várias empresas estão na mira da Inspeção-Geral de Finanças e do IGCP e a existência dos chamados contratos de derivados têm tudo para se transformar num (novo) desastre, da ordem dos três mil milhões de euros. Os "swaps", instrumentos de cobertura de risco nos contratos de financiamento, terão sido realizados, mais uma vez, segundo uma tendência geral ruinosa: garantias excessivas para a Banca. Em linguagem pouco cifrada é, aliás, o Ministério das Finanças a admitir a existência de contratos baseados em "estruturas altamente especulativas". Da CP ao Metro do Porto, da REFER ao Metro de Lisboa, múltiplas são as empresas envolvidas num jogo financeiro de alto risco. Para não variar.

Este novo caso promete.

A auditoria preliminar já fez estragos. As passagens anteriores pela Metro do Porto trilharam os secretários de Estado da Defesa, Braga Lino, e da Administração Interna, Juvenal Peneda. Saíram do Governo pela porta dos fundos, não vá o Diabo tecê-las. Mas, à boa maneira brasileira, pergunta-se: e cadê os outros?

Ora aí está. Haja calma! A bondade é má conselheira das estratégias políticas e nada como usar cirurgicamente os rabos de palha.

O caso das "swaps" tem tudo para encontrar culpados por etapas. O efeito dominó será usado consoante as necessidades....

É tão garantida a gestão conta-gotas deste processo como novos ciclos de austeridade para pagar outros desmandos da coisa pública. Pior só mesmo a certeza de que ninguém irá preso.

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