Daniel Oliveira –
Expresso, opinião
A remodelação a
prestações continua. E esta semana foi-nos dado a conhecer o estado em que se
encontra este governo. Para a secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e
da Cooperação entrou Francisco Almeida Leite. O leitor é capaz de não
conhecer a figura, mas trata-se de um ex-jornalista do "Diário de
Notícias" conhecido pelos pouco discretos, muito comentados e
embaraçosos fretes ao então líder da oposição Pedro Passos Coelho.
A fama vinha de
longe, ainda Passos fazia oposição interna a Ferreira Leite.O que levou, a 4 de
Março de 2009, Pacheco Pereira referir-se a este jornalista como "especialista
na intriga interna do PSD" e a integra-lo num grupo de bloggers (quase
todos do DN) que frequentemente "atacam Manuela Ferreira Leite e apoiam
Passos Coelho".
Com Passos já no
governo, os fretes continuaram, o que lhe valeu, há um ano, uma reprimenda
do então Provedor do Leitor, por publicar informações dadas pelo governo (sobre
das férias dos motoristas da Carris) sem cuidar de ouvir mais ninguém. E tendo,
coisa inédita, como única fonte um "relatório interno que funciona como
uma espécie de argumentário do Governo de resposta à greve" (palavras do
jornalista). O moço de recados já nem disfarçava.
Não sendo este
currículo jornalístico merecedor de grande orgulho, sobra o currículo político
e técnico. Político? Tirando estes favores, zero. Currículo técnico para o
cargo? Não se lhe conhece nenhum. A não ser ter aterrado, em junho do ano
passado, pela mão de Passos Coelho, no Instituto Camões, diretamente vindo
do DN. Uma queda para a política externa ou política cultural que surpreendeu
todos. Talvez tivesse sido por causa da sua passagem pela "Guia TV
Cabo". Sem rodriguinhos: esta subida meteórica não é mais do que um
vergonhoso pagamento de favores a um jornalista pouco escrupuloso que ajudou o
candidato à liderança do PSD, o candidato a primeiro-ministro e o
primeiro-ministro. Ponto final, parágrafo.
Ainda assim, esta
assombrosa escolha revela três boas notícias. Primeira: o PSD respeita a
independência da comunicação social. Se noutros tempos os partidos que
estavam no poder punham pessoas da sua confiança no "Diário de
Notícias", o PSD vai tirando de lá os seus mais fiéis amigos. Dá-lhes
lugares de assessores, administradores de institutos e, para o mais dedicado,
guardou um lugar de secretário de Estado. Carla Aguiar, Eva Cabral, Francisco
Almeida Leite, João Baptista, Licínio Lima, Luís Naves, Maria de Lurdes Vale,
Paula Cordeiro, Pedro Correia e Rudolfo Rebelo. São estes os 10
jornalistas que passaram do DN para o governo. Alguns conheço pessoalmente
e até trabalhei com eles. Alguns eram, antes abandonarem a profissão, bons
jornalistas e nunca fizeram favores a ninguém. Mudaram de vida e têm direito a
isso. Não é, definitivamente, o caso de Francisco Almeida Leite. Esta é a
segunda boa notícia: o PSD não é ingrato e lembra-se dos serviços
prestados, dando os melhores lugares aos mais empenhados.
A terceira boa
notícia é que um governo que convida Francisco Almeida Leite para secretário de
Estado só pode estar no fim da linha. Ou seja, está em estado de desintegração.
Recordo que este lugar foi ocupado por Durão Barroso e Luís
Amado. As duas figuras não me inspiram especial simpatia. Mas convenhamos que serem
sucedidos por Francisco Almeida Leite é uma indecência.
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