Diário de Notícias,
editorial
O discurso do
Presidente, Cavaco Silva, nas comemorações oficiais do 25 de Abril, na
Assembleia da Repúlica, chegou a provocar gritos de júbilo nas bancadas da
maioria. Aplaudido de pé pelos deputados que a constituem, resta saber qual o
efeito duradouro das passagens mais abrasivas do discurso presidencial ao
dirigir-se, ainda que indiretamente, aos partidos da oposição, em especial ao
PS. O tom agressivo, quase de reprimenda, contra a exploração política do
cansaço da população perante os sacrifícios continuados que lhe são exigidos,
sem fim nem resultado útil à vista, não se enquadra com o renovado apelo ao
consenso político entre todos os subscritores originais do memorando de
entendimento com a troika.
Classificado já
como o maior erro político de Cavaco Silva nas suas funções no Palácio de
Belém, a oratória presidencial só pode ser respondida à letra no maior palco
dos socialistas, o seu XIX Congresso, em Santa Maria da Feira. Foi, aliás, o
melhor presente que Seguro podia ter tido, para um Congresso que, à partida,
não suscitava grande expectativa.
Perante a clara
divergência de orientações no ataque ao défice público excessivo e ao recuo
prolongado da economia, o PS sente-se agora mais livre para vincar a
necessidade de mudar o rumo da política económica e manter alta a pressão
interna na coligação. A insatisfação de sectores centristas e social-democratas
perante o estado das coisas de uma remodelação governamental, incompleta, aos
bochechos e sem densidade política, não desaparece por encanto.
Na resposta dos
socialistas torna-se cada vez mais premente a apresentação - tão simples e
clara, quanto o conseguirem - do que fariam de diferente e melhor se fossem
Governo. Até porque estaríamos perante a falência política da Democracia, se o
Presidente da República tivesse razão quando afirma que os constrangimentos
externos à nossa política orçamental tornam inviável qualquer alternativa.
A receita espanhola
Enquanto a diretora
do FMI, Christine Lagarde, anunciava o apoio da instituição aos objetivos do
Governo espanhol para reequilibrar o seu orçamento, a UE vinha dar o seu aval
ao plano que prevê reduzir o défice para 3% até 2016.
Mergulhada na
recessão, com mais de seis milhões de desempregados e com uma revolta social
crescente, Espanha veio anunciar medidas destinadas a amenizar a cura de
austeridade que tem sido imposta pelo Governo de Mariano Rajoy. Mas este acabou
por ter de admitir, mesmo que indiretamente, que não conseguirá baixar a taxa
de desemprego para os níveis de 2011, quando chegou ao poder. Nos 22,8% há ano
e meio, a percentagem de desempregados deverá chegar aos 27,1% este ano, antes
de baixar para 25,8% em 2015.
Fortemente atingida
pela crise financeira, Espanha conseguiu até agora resistir a pedir um resgate
(ao contrário do que aconteceu, por exemplo, em Portugal), apesar de os seus
bancos já terem sido intervencionados. Agora, Madrid quis mostrar mais uma vez
que tem um plano capaz de recuperar a saúde das suas finanças públicas e gerar
emprego. A reação internacional não podia ter sido melhor. Resta saber se a
receita espanhola dará os frutos.
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