sábado, 27 de abril de 2013

Portugal: A RESPOSTA SOCIALISTA AO DISCURSO DE CAVACO




Diário de Notícias, editorial

O discurso do Presidente, Cavaco Silva, nas comemorações oficiais do 25 de Abril, na Assembleia da Repúlica, chegou a provocar gritos de júbilo nas bancadas da maioria. Aplaudido de pé pelos deputados que a constituem, resta saber qual o efeito duradouro das passagens mais abrasivas do discurso presidencial ao dirigir-se, ainda que indiretamente, aos partidos da oposição, em especial ao PS. O tom agressivo, quase de reprimenda, contra a exploração política do cansaço da população perante os sacrifícios continuados que lhe são exigidos, sem fim nem resultado útil à vista, não se enquadra com o renovado apelo ao consenso político entre todos os subscritores originais do memorando de entendimento com a troika.

Classificado já como o maior erro político de Cavaco Silva nas suas funções no Palácio de Belém, a oratória presidencial só pode ser respondida à letra no maior palco dos socialistas, o seu XIX Congresso, em Santa Maria da Feira. Foi, aliás, o melhor presente que Seguro podia ter tido, para um Congresso que, à partida, não suscitava grande expectativa.

Perante a clara divergência de orientações no ataque ao défice público excessivo e ao recuo prolongado da economia, o PS sente-se agora mais livre para vincar a necessidade de mudar o rumo da política económica e manter alta a pressão interna na coligação. A insatisfação de sectores centristas e social-democratas perante o estado das coisas de uma remodelação governamental, incompleta, aos bochechos e sem densidade política, não desaparece por encanto.

Na resposta dos socialistas torna-se cada vez mais premente a apresentação - tão simples e clara, quanto o conseguirem - do que fariam de diferente e melhor se fossem Governo. Até porque estaríamos perante a falência política da Democracia, se o Presidente da República tivesse razão quando afirma que os constrangimentos externos à nossa política orçamental tornam inviável qualquer alternativa.

A receita espanhola

Enquanto a diretora do FMI, Christine Lagarde, anunciava o apoio da instituição aos objetivos do Governo espanhol para reequilibrar o seu orçamento, a UE vinha dar o seu aval ao plano que prevê reduzir o défice para 3% até 2016.

Mergulhada na recessão, com mais de seis milhões de desempregados e com uma revolta social crescente, Espanha veio anunciar medidas destinadas a amenizar a cura de austeridade que tem sido imposta pelo Governo de Mariano Rajoy. Mas este acabou por ter de admitir, mesmo que indiretamente, que não conseguirá baixar a taxa de desemprego para os níveis de 2011, quando chegou ao poder. Nos 22,8% há ano e meio, a percentagem de desempregados deverá chegar aos 27,1% este ano, antes de baixar para 25,8% em 2015.

Fortemente atingida pela crise financeira, Espanha conseguiu até agora resistir a pedir um resgate (ao contrário do que aconteceu, por exemplo, em Portugal), apesar de os seus bancos já terem sido intervencionados. Agora, Madrid quis mostrar mais uma vez que tem um plano capaz de recuperar a saúde das suas finanças públicas e gerar emprego. A reação internacional não podia ter sido melhor. Resta saber se a receita espanhola dará os frutos.

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