Carlos Lopes Pereira – O Diário
A presença militar
dos EUA no Atlântico Sul é uma peça fundamental na estratégia imperialista de
dominação global e de controlo das fontes de produção e das rotas do petróleo.
Apontando prioritariamente a África, o seu objectivo estratégico visa mais longe,
nomeadamente a disputa dos recursos energéticos e outros às novas “potências
emergentes”. A paz, a independência nacional, o progresso dos povos africanos
são as vítimas imediatas.
Os Estados Unidos
estão a alargar a presença militar em África, numa estratégia de controlo das
matérias-primas, em especial do petróleo. Há notícias de que o Pentágono quer
estabelecer uma «estação de monitorização» em Cabo Verde, ao mesmo tempo que,
mais a sul, no Golfo da Guiné, navios e militares norte-americanos patrulham as
águas territoriais de S. Tomé e Príncipe.
Um artigo recente publicado por Nikolas Kozloff no portal The Huffington
Post, intitulado «Washington e a batalha pelo mundo lusófono africano»,
explica que os EUA evitam a construção de grandes instalações militares,
preferindo as pequenas bases, designadas «flores de nenúfar».
Em S. Tomé e Príncipe – onde existe, além de um potente retransmissor da «Voz
da América», um sistema de modernos radares, único em África, e a
guarda-costeira é «assistida» pela marinha dos EUA – poderá ser instalada uma
base de vigilância marítima regional.
O objectivo do reforço militar dos EUA na África Ocidental é o controlo das
fontes de produção e das rotas do petróleo do Golfo da Guiné. Mesmo que o
pretexto seja o combate ao «terrorismo islâmico» (a acção dos grupos radicais
generalizou-se na região depois da agressão da NATO à Líbia e da intervenção
francesa no Mali e no Níger) e a luta contra tráfico de droga (o exemplo mais
conhecido é o da Guiné-Bissau, transformado em «narco-estado»).
O artigo cita o almirante Robert Moeller, antigo vice-chefe do Africom, para
quem proteger «o livre fluxo dos recursos naturais de África para o mercado
global» é mais importante do que entrar em guerras pelas fontes energéticas. Em
2015, um quarto do petróleo importado pelos EUA será proveniente de África,
onde os norte-americanos enfrentam a forte concorrência da China.
Segundo Kozloff, em 2009, a Sinopec, uma empresa petrolífera chinesa, comprou a
companhia suíça Addax, o que colocou nas mãos de Pequim o controlo de quatro
blocos de petróleo na zona de exploração conjunta S. Tomé e Príncipe-Nigéria. A
entrada em cena da Sinopec nos negócios do Golfo da Guiné faz da China o principal
parceiro do sector petrolífero santomense, embora a produção só comece dentro
de alguns anos. Curiosamente, o governo de São Tomé não mantém relações com
Pequim já que, há alguns anos, preferiu estabelecer laços económicos com a
«República da China» sediada em Taiwan…
A reconquista da
África
Um outro
especialista de questões africanas, Mohamed Hassan, tem denunciado a tentativa
de o Ocidente, a pretexto da luta contra o «terrorismo islâmico», submeter
militarmente a África a fim de travar a influência económica da China e de
outras economias emergentes como o Brasil ou a Índia.
«As guerras ocidentais em África multiplicam-se. Em 2008, os EUA criaram o
Africom, um centro de comando único para todas as operações militares em
África. Depois, houve a Costa do Marfim, a Líbia, o Mali… Sem contar com a
Somália e o Congo, teatros de violentas guerras indirectas desde há anos»,
resume o investigador, sublinhando que, no continente africano, as agressões
das potências capitalistas em plena crise têm como pano de fundo a competição
com a China e o controlo das matérias-primas.
Autor de «A estratégia do caos», Hassan explica a importância crescente de
África no actual contexto global, marcado pelo agravamento da crise do
capitalismo e pela emergência de novas potências.
No subsolo africano encontram-se intactas grandes reservas de petróleo, de gás
e de metais ordinários ou raros. Estima-se que o continente possua 40 por cento
das matérias-primas minerais mundiais, o que lhe confere uma enorme importância
estratégica.
O crescimento rápido da China e de outras economias exige enormes quantidades
de recursos naturais. Ao mesmo tempo, estes países têm necessidade de exportar
e a África surge como um mercado prometedor – a China é já o principal parceiro
comercial dos países africanos, à frente dos EUA, ambos tendo ultrapassado a
França e a Grã-Bretanha.
Por estas razões, segundo Hassan, conquistar o controlo de África torna-se
urgente para Washington e isso não se pode fazer unicamente pela concorrência
dos actores económicos no mercado «livre». Para o bloco imperialista «trata-se
acima de tudo de uma questão militar». E daí o papel decisivo dos EUA e da NATO
desde 2011 nas guerras em África. E da crescente «cooperação militar» do
Africom com 35 estados africanos.
Esta intervenção do Ocidente nas guerras em África, de forma directa ou por
intermédio dos seus aliados indígenas, vai aumentar nos próximos anos.
*Este artigo foi
publicado no “Avante!” nº 2057, 2.05.2013
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