Verdade (mz),
editorial
Com o andar da
carruagem, hoje parece que ninguém tem dúvidas de que os moçambicanos estão
votados ao abandono pelo Governo de turno. O que antes nos parecia uma mera
especulação, hoje pode-se afirmar, sem que a voz nos trema, que o Executivo de
Guebuza, à guisa, tem uma grande oportunidade de entrar para a história desta
suposta “Pátria de Heróis” como um bom exemplo de incompetência, fruto da
mescla entre a negligência colectiva e a falta de carácter por parte de
indivíduos a que o povo – ainda que ingenuamente – confiou o destino desta
nação.
O Governo só não o
fez antes porque estava demasiadamente ocupado. Os “nossos” dirigentes estavam
ocupados a fazer duas coisas: a ganhar comissões nesta e naquela empresa e a
conduzirem- -nos à desgraça. O resultado desse trabalho diligente não podia ser
melhor.
E, como
moçambicanos, só nos cabe agradecer: Estamos gratos por termos o pior índice de
qualidade de vida. Agradecemos por ajudarem a pilhar os nossos recursos
naturais e minerais. Agradecemos pelo facto de termos dirigentes conotados com
esquemas de saque da nossa madeira. Agradecemos, também é importante, pelos
empresários que surgem da noite para o dia porque partilham o mesmo apelido com
este ou aquele dirigente.
Agradecemos pelos
antigos combatentes que têm menos de 35 anos, mas que entram pela porta grande
na mesa que decide o nosso futuro. Agradecemos pelas estradas esburacadas e
pela genuflexão que nos obrigam a fazer diante da passagem da Primeira-Dama.
Estamos gratos por
não sermos um país auto- -sustentável, apesar de dispormos de milhões de terra
arável. Muito obrigado por possuirmos défices notáveis nos produtos que
Moçambique poderia produzir para o consumo interno e até ter excedente para
exportar. Agradecemos por possuirmos uma economia estagnada e sermos uma nação
vulnerável aos choques externos.
Agradecemos por nos
darem o ProSavana e pela usurpação de terra aos camponeses. Agradecemos pelo
plantio de árvores que reduzem, pelo consumo excessivo, os parcos recursos
hídricos que nos mantêm. Agradecemos pelas cheias que poderiam ser evitadas se
antes de construírem uma ponte na Catembe pensassem numa barragem em Mapai.
Presentemente,
preparamo-nos para agradecer pelo vosso descaso na área da Saúde. Ao invés de
resolver o problema que afecta milhares de moçambicanos que não dispõem de
condições financeiras para apanhar um jacto na calada da noite de modo a
receber cuidados médicos no estrangeiro, o Governo, através da figura do seu
porta-voz, prefere emitir esgares, usando os meios de comunicação ao seu
dispor, numa mensagem que pode ser traduzida nas seguintes palavras: “Ó
povo-parvo, marimbamo- nos para a vossa saúde. Lixem-se!”
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