Diário de Notícias,
editorial
O Fundo Monetário
Internacional (FMI) está preocupado com o ajustamento português. No relatório
que encerra a sétima avaliação, é verbalizado o receio de que o Governo já não
seja capaz de cumprir as reformas com que se comprometeu, até porque o consenso
político que tem sustentado o programa de ajustamento está ferido. Sem apontar
culpas, o FMI limita-se a constatar as divergências no interior da coligação,
mas também o fim da cooperação com o Partido Socialista.
Perante a
fragilidade, o FMI alerta para o facto de as metas estabelecidas só serem
concretizáveis caso as reformas estruturais sejam implementadas. Uma tarefa
que, reconhece o FMI, está hoje mais dificultada.
Na divulgação do
relatório, o chefe da missão técnica do Fundo admite, no entanto, uma reapreciação
do défice estabelecido para 2014. "Os estabilizadores automáticos devem
funcionar. A meta do défice pode ser ajustada, dependendo da evolução da
economia", diz Abebe Selassie. Sucede, porém, que, na véspera, a
diretora-geral adjunta do FMI, Nemat Shafik, tinha dito que, daqui para a
frente, o campo para tolerar novas derrapagens nas contas públicas portuguesas
é "muito limitado". Afinal em que é que ficamos? Talvez à luz de mais
esta divergência pública, desta vez dentro da própria casa, se percebam as
razões porque cada vez mais responsáveis políticos querem ver o FMI pelas
costas. Mas esquecem-se que tem sido este o melhor aliado de Portugal no
contexto da troika.
É verdade que, em
matéria de previsões económicas, sobretudo desde a quinta avaliação, o Fundo
tem sido - tal como o Governo português - profundamente irrealista no que ao
impacte das medidas recessivas na economia real diz respeito. Mas não é menos
verdade - e até pode ser por má consciência - que foi também o FMI o primeiro a
alertar para os riscos da austeridade excessiva, sem que ninguém lhe tivesse
dado ouvidos. As consequências estão à vista e não se vislumbra uma mudança na
cartilha.
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