Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
Quanto ao caso Rui
Machete, evolui como previsto, mas não deve afectá-lo mais
Depois de Maria
Luís Albuquerque, foi a vez do secretário de Estado Joaquim Pais Jorge de cair
nas malhas dos swaps. Como este jornal tinha referido desde logo, Pais Jorge
tinha vendido aqueles produtos, mas, soube-se agora pela “Visão”, a sua
intervenção tinha o alegado intuito de maquilhar o défice do Estado, através de
operações que não foram, porém, concretizadas. Apesar disso o assunto é
melindroso. E das duas uma: ou o secretário de Estado está no governo ao jeito
dos arrependidos das séries americanas e colabora com a identificação e a
denúncia de todas as operações feitas com esses produtos, ou então tem mesmo de
sair do governo de que foram exonerados dois secretários de Estado, Juvenal
Peneda e Braga Lino, por terem comprado esses produtos quando eram gestores
públicos.
Ora é óbvio que em
termos éticos tanto é condenável quem compra como quem vende algo que pode ter
efeitos negativos para o Estado. Além disso, as falhas de memória que Pais
Jorge manifestou quando disse não se lembrar de ter estado no gabinete do
primeiro-ministro José Sócrates são estranhas. Por muitas reuniões em que tenha
participado, não se recordar dessa em concreto é insólito. Assim como também é
alegar que apenas tinha um papel de relação com clientes e não a função de
concepção das operações. Aceita-se esse argumento de alguém que está atrás de
um balcão a vender mercadorias, mas não é possível no caso dos swaps.
Como se esperava, o
caso Rui Machete vai entretanto conhecendo os seus desenvolvimentos, pondo-se
agora a questão da compra a um euro e da venda a dois euros e meio de acções do
BPN. O assunto não é novo e lembra exactamente o de Cavaco Silva e da sua filha
trazido à estampa há uns anos. Mas pode haver uma diferença relevante, uma vez
que o Presidente da República tinha entregado a gestão dos seus dinheiros a um
corretor que actuava autonomamente, enquanto no caso do actual MNE não está
esclarecido se as circunstâncias eram as mesmas.
Por outro lado, a
verdade é que as acções do banco não estavam cotadas em bolsa e portanto não é
lícito insinuar que tenha havido algum tipo de benefício em qualquer dos casos,
pois não há valor de referência na altura. E assim sendo o assunto nesse
aspecto concreto não deve ter seguimento.
Uma oportunidade
perdida
A RTP tem a
responsabilidade de defender, divulgar e promover a língua portuguesa.
Porventura, depois de informar e entreter educando, essa é a sua principal
tarefa.
É portanto no
mínimo triste que o homem que durante anos se bateu pela formação em língua
portuguesa na televisão e na rádio públicas, um dos criadores do indispensável
Ciberdúvidas, o pai do livro de estilo do “Público”, do premiado programa
“Cuidado com a Língua” e do prontuário sonoro da RTP, o voluntarioso José Mário
Costa, tenha cortado com a empresa, onde nunca passou de mero recibo verde em
mais de dez anos. Mas há quem esteja atento. O jornalista vai dar formação
linguística e organizar os serviços de agenda, planeamento e produção da Rádio
Nacional de Angola. Dificilmente arranjavam melhor.
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