terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A XENOFOBIA SUÍÇA

 

Henrique Monteiro – Expresso, opinião
 
O referendo da Suíça tem um resultado que não é só embaraçoso para a União Europeia. É uma vergonha para os suíços. Ou melhor para os 50,3% dos suíços que foram na cantiga da extrema-direita contra os imigrantes.
 
Preocupa-me o facto de ver, em Portugal, muita gente, mesmo gente que se diz de esquerda, 'compreender' senão apoiar esta posição dos suíços. Vejam-se os comentários nos sites onde Bruxelas e a sua comissária Vivianne Reding, por exigir reciprocidade colocando em causa todos os acordos entre a UE e a Suíça, é acusada de estar a pressionar a decisão de um país soberano.
 
As crises provocam estas irracionalidades extremas. Um continente (e um país) onde as taxas de natalidade são um desastre total, tem de abrir fronteiras e não fechá-las. A Europa, fechada sobre si própria, a Europa fortaleza é, além de um contrassenso, uma desumanidade. Já do Império Romano se dizia que uma das causas para o seu declínio e queda foi querer ter sido um espaço demasiado rico rodeado por famintos. É certo que a Suíça, no meio da Europa, sem pertencer à UE, rodeada de montanhas, tem facilidade de preservar-se. Mas acontece que a Suíça faz parte do espaço Schengen. Todos os dias entre Mulhouse (França) e Basileia (Suiça) atravessam a fronteira milhares de pessoas (o aeroporto, do lado francês, é comum às duas cidades). A decisão Suíça tem como consequência o abandono de Schengen e o seu progressivo isolamento. Ao colocar restrições aos europeus da União, a Suiça está no fundo a dizer que não quer marroquinos, cabo-verdianos, turcos, chineses e outros cidadãos não europeus que entraram no espaço Schengen. É xenofobia! Não tem outro nome nem pode ser tratado de outra maneira.
 
Mais, os suíços, bem como aqueles que pensam que este é um modelo a seguir, cedo descobrirão que vivem em países que, sem imigrantes, demoram pouco tempo a perecer.
 
Se há coisa que pessoalmente me revolta é ainda não haver mais liberdade de circulação entre todos os povos do mundo (e nomeadamente entre os da CPLP). Quando vejo a tendência contrária a ser vitoriada fico com a certeza que a nossa crise, longe de ser apenas financeira, é sobretudo moral.
 

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