Díli, 10 fev (Lusa)
- Timor-Leste tem mais de 30 grutas e abrigos com arte rupestre que ainda hoje
são sagrados para as comunidades e utilizados para tomar decisões importantes
para o futuro, disse o arqueólogo português Nuno Vasco Oliveira.
"Na zona de Los
Palos, Tutuala, há mais de 30 grutas e abrigos com milhares de imagens pintadas
nas paredes das rochas e dos abrigos que, para além da importância científica
de ajudarem a perceber a relação das pessoas que chegaram a Timor e as pessoas
que chegaram a outros locais aqui à volta, são também importantes para as
comunidades que ainda hoje gerem esses sítios e os utilizam", afirmou Nuno
Vasco Oliveira.
Segundo o também
assessor da Direção Geral de Arte e Cultura timorense e cientista convidado da
Universidade da Austrália, onde tirou o doutoramento, os primeiros sítios de
arte rupestre foram documentados por António de Almeida e Ruy Cinatti nos anos
de 1960.
António de Almeida
era médico e fez vários estudos de investigação colonial em antropologia em
Timor-Leste à semelhança do poeta, agrónomo e antropólogo Ruy Cinatti.
"A maior parte
desses sítios continuam a ser sagrados e nesses locais continuam a ser tomadas
decisões importantes para a vida futura das comunidades", afirmou.
Muitas dessas
grutas, explicou Nuno Vasco Oliveira, foram utilizadas durante o período da
resistência à ocupação indonésia e recuperaram uma "dimensão de sagrado,
de sacralidade e de importância para as comunidades, porque nelas estiveram
abrigados guerrilheiros com um papel fundamental na criação do que é hoje o
país".
"Muitas delas
têm ocupação pré-histórica antiga: 20 mil anos, 30 mil anos, 40 mil anos de
ocupação", disse, salientando que são sítios significativos em
Timor-Leste.
Para preservar
aqueles sítios, as autoridades timorenses têm trabalhado com as comunidades no
sentido de valorizar ainda mais a importâncias que já lhes dão.
"No fundo o
que nós pretendemos fazer é trabalhar com elas para, valorizando e reconhecendo
esse valor que elas lhes dão, acrescentar valor dando-lhes um enquadramento
mais científico e fazendo com que as comunidades percebam que para além daquele
valor há outro valores que ajudam a contar a história de porquê que eles estão
ali, de quem eles são, qual a sua relação com comunidades vizinhas",
disse.
Candidatar a arte
rupestre de Timor-Leste a património mundial da UNESCO (Fundo da ONU para a
Educação, Ciência e Cultura) é uma possibilidade, mas segundo o arqueólogo,
ainda há um grande trabalho pela frente.
MSE // JCS - Lusa
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