segunda-feira, 24 de março de 2014

Portugal - Sondagem/Europeias: TUDO NA MESMA COMO A LESMA



Daniel Oliveira – Expresso, opinião

O que a sondagem que este fim de semana foi divulgada pelo Expresso e pela SIC  nos diz é que a percepção das pessoas é a de que o PS não tem uma alternativa a este governo. Nem para Portugal, nem para a Europa. Seguro tem optado pelo puro tacticismo, anunciando divergências com a estratégia orçamental do governo e sublinhando consensos em torno do Tratado em que essa estratégia se baseia. Demarcando-se do manifesto que pediu a reestruturação, para depois dizer que quem o subscreveu deveria ingressar nas fileiras do PS porque defende o o mesmo que o partido e acabando por garantir que defende coisas muito diferentes do manifesto.

António José Seguro está convencido que tudo se resume a uma questão de imagem e de palavras. Que tem de passar a ideia de que se separa do governo por divergências insanáveis, para parecer que tem uma alternativa, enquanto não se compromete com qualquer alternativa real, para parecer responsável. E é este tacticismo vazio de conteúdo que leva a esta autêntico milagre: a coligação que está a aplicar um brutal programa de austeridade tem apenas menos quatro pontos percentuais do que o principal partido da oposição numas eleições em que a oposição ganha sempre, mesmo quando tudo parecia bem no País. Nem nas eleições que historicamente têm servido para punir quem governa Seguro consegue brilhar. E ainda se arrisca a conseguir um milagre: oferecer uma reeleição do Passos em 2015 e ser o PS o aliado menor de um governo de bloco central.

A sondagem do Expresso/SIC é uma excelente notícia para o PSD e o CDS. Seguro fica apenas com mais um deputado. Não pode exigir eleições antecipadas. A vitória é curta para isso. E a oposição interna do PS não pode pedir a cabeça do seu líder. Não chega a haver uma derrota. E será mesmo Seguro a ir às legislativas, saído de vitórias pífias nas Autárquicas e Europeias. Para Passos Coelho, melhor seria impossível.

Quando aos restantes partidos, PCP passa de dois para três eurodeputados quando Portugal perdeu um. Grande parte será voto de protesto. Mas a verdade é que o PCP acaba por ser, para esse efeito, mais atrativo do que o Bloco de Esquerda, que, pela sua natureza, até teria mais facilidade em entrar no eleitorado socialista. Porque consegue o PCP este resultado (que até penso que será, graças à abstenção, melhor do que o previsto)? Porque se for apenas para protestar, o PCP é mais eficaz do que o BE. Entre o original e a cópia, as pessoas tendem a preferir o original. Porque, mal ou bem, o PCP tem um discurso claro e compreensível sobre a Europa. E, apesar das pessoas não andarem a ler os programas eleitorais, a clareza de discurso, num momento de tantas dúvidas, é uma enorme mais-valia. E porque o Bloco desistiu da sua principal vantagem em relação aos comunistas: capacidade de falar para fora, de integrar a divergência e de fazer pontes com sectores que tradicionalmente não estariam no seu espaço político. A indefinição programática, uma direção política enfraquecida por quem saiu da liderança mas nunca largou o púlpito e um sectarismo crescente explicam a decadência de um partido que passa de três para um eurodeputado, deixando o flanco esquerdo do PS muito mais seguro do que até agora, já que do PCP não virão maiores perigos do que o protesto sem sobressaltos.

Em resumo: quem tiver coisas claras para dizer, rumos credíveis para propor e vontade real de correr o risco de "sujar as mãos" no poder poderá vir a mudar alguma coisa na política nacional. Até lá, o governo pode estar sereno. Vai-se aguentando por falta de comparência dos opositores. E aqueles que, fora de Portugal, decidem realmente o nosso futuro também não têm nada a temer. Seguro aceitará uma política de continuidade. Porque nunca se comprometeu com o oposto e, à sua esquerda, de onde poderia vir o risco por esta opção, tudo se mantem relativamente inofensivo.

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