Daniel Oliveira –
Expresso, opinião
O que a sondagem que este fim de semana foi divulgada pelo Expresso e
pela SIC nos diz é que a percepção das pessoas é a de que o PS
não tem uma alternativa a este governo. Nem para Portugal, nem para a Europa.
Seguro tem optado pelo puro tacticismo, anunciando divergências com a
estratégia orçamental do governo e sublinhando consensos em torno do Tratado em
que essa estratégia se baseia. Demarcando-se do manifesto que pediu a
reestruturação, para depois dizer que quem o subscreveu deveria ingressar nas
fileiras do PS porque defende o o mesmo que o partido e acabando por garantir que
defende coisas muito diferentes do manifesto.
António José Seguro
está convencido que tudo se resume a uma questão de imagem e de palavras. Que
tem de passar a ideia de que se separa do governo por divergências insanáveis,
para parecer que tem uma alternativa, enquanto não se compromete com qualquer alternativa
real, para parecer responsável. E é este tacticismo vazio de conteúdo que leva
a esta autêntico milagre: a coligação que está a aplicar um brutal programa de
austeridade tem apenas menos quatro pontos percentuais do que o principal
partido da oposição numas eleições em que a oposição ganha sempre, mesmo quando
tudo parecia bem no País. Nem nas eleições que historicamente têm servido para
punir quem governa Seguro consegue brilhar. E ainda se arrisca a conseguir um
milagre: oferecer uma reeleição do Passos em 2015 e ser o PS o aliado menor de
um governo de bloco central.
A sondagem do
Expresso/SIC é uma excelente notícia para o PSD e o CDS. Seguro fica apenas com
mais um deputado. Não pode exigir eleições antecipadas. A vitória é curta para
isso. E a oposição interna do PS não pode pedir a cabeça do seu líder. Não
chega a haver uma derrota. E será mesmo Seguro a ir às legislativas, saído de
vitórias pífias nas Autárquicas e Europeias. Para Passos Coelho, melhor seria
impossível.
Quando aos
restantes partidos, PCP passa de dois para três eurodeputados quando Portugal
perdeu um. Grande parte será voto de protesto. Mas a verdade é que o PCP acaba
por ser, para esse efeito, mais atrativo do que o Bloco de Esquerda, que, pela
sua natureza, até teria mais facilidade em entrar no eleitorado socialista.
Porque consegue o PCP este resultado (que até penso que será, graças à
abstenção, melhor do que o previsto)? Porque se for apenas para protestar, o
PCP é mais eficaz do que o BE. Entre o original e a cópia, as pessoas tendem a
preferir o original. Porque, mal ou bem, o PCP tem um discurso claro e
compreensível sobre a Europa. E, apesar das pessoas não andarem a ler os
programas eleitorais, a clareza de discurso, num momento de tantas dúvidas, é
uma enorme mais-valia. E porque o Bloco desistiu da sua principal vantagem em
relação aos comunistas: capacidade de falar para fora, de integrar a
divergência e de fazer pontes com sectores que tradicionalmente não estariam no
seu espaço político. A indefinição programática, uma direção política
enfraquecida por quem saiu da liderança mas nunca largou o púlpito e um
sectarismo crescente explicam a decadência de um partido que passa de três para
um eurodeputado, deixando o flanco esquerdo do PS muito mais seguro do que até agora,
já que do PCP não virão maiores perigos do que o protesto sem sobressaltos.
Em resumo: quem
tiver coisas claras para dizer, rumos credíveis para propor e vontade real de
correr o risco de "sujar as mãos" no poder poderá vir a mudar alguma
coisa na política nacional. Até lá, o governo pode estar sereno. Vai-se
aguentando por falta de comparência dos opositores. E aqueles que, fora de
Portugal, decidem realmente o nosso futuro também não têm nada a temer. Seguro
aceitará uma política de continuidade. Porque nunca se comprometeu com o oposto
e, à sua esquerda, de onde poderia vir o risco por esta opção, tudo se mantem
relativamente inofensivo.
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