domingo, 8 de junho de 2014

Falando de bola, por que a FIFA e não a ONU?



Rui Martins – Correio do Brasil, opinião

Uma breve história da bola, do pé na bola, da FIFA, dos donos da FIFA, de como está acima do Brasil e da ONU e do seu perigoso e contagioso virus.

No começo, logo depois do Big-Bang surgiu a Terra, ela era, e é, redonda e rola pelo espaço em torno do Sol, outra bola mas em chamas. Na superfície da Terra, muita coisa com forma de bola ficou rolando pelo chão, durante milhões de anos, até surgirem os ingleses mais adestrados no controle dos pés e das pernas, segundo Darwin, também inglês, e sua evolução das espécies.

Por isso, tinham o hábito de chutar pedras, paus, cabeças, cilindros, tatús, ferindo muitas vezes os ortelhos, até inventarem uma proteção, as chuteiras, mesmo porque na Inglaterra fria não dava para se usar as sandálias gregas. Com os dedos dos pés protegidos ficava mais fácil continuar chutando tudo que rolasse, até algum desocupado ter tido a idéia genial de fazer uma bola de meia cheia de papel para se chutar.

Como era na época da industrialização criadora de desemprego, havia muitos desocupados que começaram a chutar essa bola. Gostaram, criaram clubes, marcaram dois lugares para onde se devia chutar e levar a bola (objetivo ou goal), dividaram-se os desocupados em dois grupos, um chuta para cá outro para lá, criaram umas regras para evitar confusão e assim nasceu o futebol, nada mais que a união das palavas pé na bola.

Em pouco tempo, botar os pés na bola chutando virou mania nacional. Era um esporte viril, eticamente correto e teve a aprovação da rainha Vitória, dona do chamado Império Britânico, onde todo mundo começou a chutar bola de futebol, deixando de lado a cabeça dos africanos e dos indianos colonizados com as quais se exercitavam.

Amigos de pubs e clubes, os ingleses logo criaram associações de futebol em cada região do chamado Reino Unido e decidiram exportar esse novo esporte, para mostrar serem os melhores dribladores do mundo. E assim nasceu uma sociedade civil com o nome de Federação Internacional das Associações de Futebol, que em inglês forma a sigla FIFA.

Por descuido do Clube Inglês no Rio de Janeiro, uma bola (na época já de borracha) caiu na rua e acabou sendo levada para uma favela. Foi aí que começou a decadência do Império Britânico, pois os ingleses deixaram de ser os melhores dribladores do mundo e logo perderam a Índia e as colônias africanas. Os brasileiros, não se sabe se Darwin poderia explicar se ainda fosse vivo, teriam os pés e as pernas mais ágeis que os british men, que gostavam de jogar de uniforme cáqui depois do chá das cinco.

O jogo era para ficar entre os europeus, mas com a entrada dos brasileiros não se poderia proibir os argentinos. Foi, então, que um belga, cuja família não teria sido politicamente correta nos anos 30 e foi viver no Rio, entrou de sola na FIFA, conseguiu ser eleito presidente e virou dirigente perpétuo. Só depois descobriram que o belga, era binacional, e tinha entrado de off side, pois na verdade era também brasileiro.

De brasileiro não tinha nada, só a esperteza. Segundo alguns escritores ingleses, começaram aí os negócios, principalmente com a dinheirama entrada com os direitos de retransmissão dos jogos mundiais.

Ah, tinha faltado contar que a FIFA criou leis esportivas para os clubes praticantes de futebol e se designou como o único fôro legítimo para aplicar essas leis. Ninguém percebeu o alcance dessa exclusividade, só tarde demais. Ou seja, com a esperteza do brasileiro se criou um órgão internacional acima de todos os países e da própria ONU.

Dizem que suíço é ingênuo, mas o sucessor do brasileiro mostrou ser ainda mais esperto e assim a FIFA acumulou duas coisas, a direção e localização suíças. Parece que segredo bancário suíço vai acabar mas nos bancos, nunca em Zurique para a FIFA, onde os caminhões chegam todos os dias, em fila, carregados de dólares e euros, guardados ninguém sabe onde.

Assim, o presidente perpétuo da FIFA passou a ter mais poder, que o secretário-geral da ONU e os presidentes dos países se dão golpes de cotovelo para ir lamber seus sapatos feitos sob medida. Essa sensação orgástica de mandar no mundo do futebol é a razão principal pela qual ele aspira ficar no poder para sempre. Em todo caso, quando o presidente da FIFA comemorar seu centenário haverá festas em todo mundo.

Essa a história abreviada da FIFA, grande parte impressa em verde-amarelo. Ao que parece, quem frequenta a FIFA corre o risco de contrair um virus, cujo controle exige grandes somas de dinheiro. E como os õrgãos dirigentes da FIFA são formados por gente amiga e fiel, todos se ajudam na luta contra ou a favor desse virus, não se sabe ao certo.

Ontem mesmo se divulgou na França, que Ricardo Teixeira, o abnegado ex-dirigente da CBF, ex-membro da família do Chefão, tem 100 milhões de euros no Principado de Mônaco. Coitado, deve ser para se tratar desse virus.

Diante da pandemia de virus da FIFA que se abateu sobre Zurique e associações mundiais, alguns médicos utopistas sugerem que a direção do futebol mundial deixe de ser feita por essa associação de direito civil e passe para um órgão da ONU, talvez a Organização Mundial da Saúde, única capaz de dar fim ao perigoso virus, do qual já sofrem os cartolas brasileiros.

O Brasil que é em grande parte responsável por essa lamentável epidemia na FIFA, por ter dirigido mais de vinte anos essa caverna em Zurique, poderia virar a mesa e conquistar a admiração mundial dos países emergentes, se propusesse essa dedetização contra o virus. Mas talvez seja muito pedir, porque todos os presidentes morrem de medo do suíço e riem com ele por qualquer coisa, mesmo de serem por ele comandados.

*Rui Martins, jornalista, escritor, editor do novo Direto da Redação, ex-CBN e Estadão. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa.

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