quarta-feira, 11 de junho de 2014

Líderes europeus não se entendem na escolha do presidente da Comissão



Serguei Duz – Voz da Rússia

Chegou ao fim, na residência de verão do primeiro-ministro sueco Fredrik Reinfeldt, um encontro de dois dias dos líderes dos partidos de centro-direita europeus. Na sua essência, o ponto principal da discussão, que era a escolha do sucessor de José Manuel Durão Barroso no cargo de presidente da Comissão Europeia, continuou por decidir.


Os líderes do Reino Unido, da Alemanha, da Holanda e da Suécia não conseguiram chegar a um compromisso relativamente a uma candidatura para o novo dirigente da Comissão Europeia. Os dois principais antagonistas, o premiê britânico David Cameron e a chanceler alemã Angela Merkel, declararam que continuavam mantendo suas posições anteriores: a Alemanha apoia a candidatura de Jean-Claude Juncker, enquanto o Reino Unido se opõe a essa candidatura.

Recordemos que a candidatura à presidência da Comissão Europeia é escolhida por consenso entre os representantes dos países europeus. Este ano, contudo, depois de nas últimas eleições para o Parlamento Europeu os partidos de extrema-direita e nacionalistas terem obtido resultados importantes, Cameron declarou que os líderes tinham a obrigação de escutar os eleitores e escolher em conformidade. Entretanto Cameron, cuja popularidade está em queda antes das eleições legislativas marcadas para o próximo ano, apelou aos seus colegas europeus para que estes renunciem ao seu apoio a Juncker, sublinhando que em caso de sua nomeação irá aumentar a probabilidade de os britânicos votarem pela saída do país da União Europeia.

Entretanto, e analisando as declarações de Merkel na coletiva final do encontro de Estocolmo, o premiê britânico não conseguiu convencer os líderes europeus. A chanceler deu a entender claramente a Cameron que seus argumentos não podem alterar a opinião dos líderes dos países da União Europeia, acrescentando que as ameaças não têm lugar numa discussão.

Na opinião de uma série de peritos, Juncker é uma pessoa com espírito de iniciativa, capaz de assumir suas responsabilidades pelas decisões tomadas. Como qualquer político decidido, Juncker tem seus seguidores e opositores, comenta o analista político Vladimir Shveitser:

“Juncker tem seus prós e contras. O que ele tem de mais positivo é ser um especialista em assuntos europeus. Em primeiro lugar, ele chefiou o Eurogrupo, responsável pelas finanças europeias. Em segundo lugar, ele é o líder de um país europeu que, embora pequeno, é muito importante – o Luxemburgo.

Mas ele também tem aspetos negativos. Quanto ao Reino Unido, Juncker insistiu numa brusca redução dos fundos atribuídos pela União Europeia a esse país durante muitos anos para o desenvolvimento da agricultura.

Juncker também tem dificuldades com a Holanda e a Suécia. Mas isso está relacionado com questões financeiras e bancárias. Nos tempos em que Juncker dirigia o Eurogrupo, ele se manifestou de forma bastante dura contra uma série de bancos holandeses e suecos. Agora isso foi-lhe recordado. Há mais alguns países, sobretudo a Hungria e a República Tcheca, que têm suas razões de queixa contra Juncker num espectro bastante largo de questões.”

Além de tudo o mais, Juncker colocou a questão das zonas offshore na Europa. Isso provocou o encerramento de uma série de bancos, porque se descobriu que essas instituições financeiras serviam na realidade para lavagem de dinheiro. Bancos desses foram descobertos, por exemplo, no Luxemburgo. Entretanto Juncker também estragou suas relações com muitos bancos alemães. É possível que seja por isso que Merkel não é tão categórica em seu apoio a Juncker como pode parecer à primeira vista, considera Vladimir Shveitser:

“Quanto a Merkel, ela não se expressa inequivocamente a favor de Juncker. Mas ela chama a atenção para a condição, segundo a qual os líderes europeus se devem guiar com base nas preferências partidárias dos cidadãos. Juncker é líder do grupo do Partido Popular Europeu, que reúne os democratas-cristãos e os conservadores. Como esse grupo partidário ficou em primeiro lugar nas eleições, formalmente Juncker pode ocupar o posto de presidente da Comissão Europeia.”

É possível que a indefinição da escolha de um novo presidente para a Comissão Europeia esteja associada ao fato de uma série de países europeus insistir em alterações nas prioridades desse órgão supranacional. Por isso, muitos analistas consideram que na realidade a discussão não é em torno da candidatura do presidente da Comissão Europeia, mas a sua legitimidade e os poderes que daí decorrem e, se generalizarmos, a reforma de toda a União Europeia.

Essa é realmente uma questão pertinente. A União Europeia acabou por não conseguir se tornar em uma família unida dos povos europeus. Ela é dilacerada por contradições políticas, sociais e econômicas. O problema tem um caráter sistêmico e não pode ser resolvido pela simples mudança de titulares. O projeto europeu tem de ser reformatado. Essa é a lição principal que é necessário extrair das recentes eleições para o Parlamento Europeu.

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