Serguei Duz – Voz da Rússia
Chegou ao fim, na residência de verão do primeiro-ministro sueco Fredrik
Reinfeldt, um encontro de dois dias dos líderes dos partidos de centro-direita
europeus. Na sua essência, o ponto principal da discussão, que era a escolha do
sucessor de José Manuel Durão Barroso no cargo de presidente da Comissão
Europeia, continuou por decidir.
Os líderes do Reino
Unido, da Alemanha, da Holanda e da Suécia não conseguiram chegar a um
compromisso relativamente a uma candidatura para o novo dirigente da Comissão
Europeia. Os dois principais antagonistas, o premiê britânico David Cameron e a
chanceler alemã Angela Merkel, declararam que continuavam mantendo suas
posições anteriores: a Alemanha apoia a candidatura de Jean-Claude Juncker,
enquanto o Reino Unido se opõe a essa candidatura.
Recordemos que a
candidatura à presidência da Comissão Europeia é escolhida por consenso entre
os representantes dos países europeus. Este ano, contudo, depois de nas últimas
eleições para o Parlamento Europeu os partidos de extrema-direita e nacionalistas
terem obtido resultados importantes, Cameron declarou que os líderes tinham a
obrigação de escutar os eleitores e escolher em conformidade.
Entretanto Cameron , cuja popularidade está em queda antes das
eleições legislativas marcadas para o próximo ano, apelou aos seus colegas
europeus para que estes renunciem ao seu apoio a Juncker, sublinhando que em
caso de sua nomeação irá aumentar a probabilidade de os britânicos votarem pela
saída do país da União Europeia.
Entretanto, e
analisando as declarações de Merkel na coletiva final do encontro de Estocolmo,
o premiê britânico não conseguiu convencer os líderes europeus. A chanceler deu
a entender claramente a Cameron que seus argumentos não podem alterar a opinião
dos líderes dos países da União Europeia, acrescentando que as ameaças não têm
lugar numa discussão.
Na opinião de uma
série de peritos, Juncker é uma pessoa com espírito de iniciativa, capaz de
assumir suas responsabilidades pelas decisões tomadas. Como qualquer político
decidido, Juncker tem seus seguidores e opositores, comenta o analista político
Vladimir Shveitser:
“Juncker tem seus
prós e contras. O que ele tem de mais positivo é ser um especialista em
assuntos europeus. Em primeiro lugar, ele chefiou o Eurogrupo, responsável
pelas finanças europeias. Em segundo lugar, ele é o líder de um país europeu
que, embora pequeno, é muito importante – o Luxemburgo.
Mas ele também tem
aspetos negativos. Quanto ao Reino Unido, Juncker insistiu numa brusca redução
dos fundos atribuídos pela União Europeia a esse país durante muitos anos para
o desenvolvimento da agricultura.
Juncker também tem
dificuldades com a Holanda e a Suécia. Mas isso está relacionado com questões
financeiras e bancárias. Nos tempos em que Juncker dirigia o Eurogrupo, ele se
manifestou de forma bastante dura contra uma série de bancos holandeses e
suecos. Agora isso foi-lhe recordado. Há mais alguns países, sobretudo a
Hungria e a República Tcheca, que têm suas razões de queixa contra Juncker num
espectro bastante largo de questões.”
Além de tudo o
mais, Juncker colocou a questão das zonas offshore na Europa. Isso
provocou o encerramento de uma série de bancos, porque se descobriu que essas
instituições financeiras serviam na realidade para lavagem de dinheiro. Bancos
desses foram descobertos, por exemplo, no Luxemburgo. Entretanto Juncker também
estragou suas relações com muitos bancos alemães. É possível que seja por isso
que Merkel não é tão categórica em seu apoio a Juncker como pode parecer à
primeira vista, considera Vladimir Shveitser:
“Quanto a Merkel,
ela não se expressa inequivocamente a favor de Juncker. Mas ela chama a atenção
para a condição, segundo a qual os líderes europeus se devem guiar com base nas
preferências partidárias dos cidadãos. Juncker é líder do grupo do Partido
Popular Europeu, que reúne os democratas-cristãos e os conservadores. Como esse
grupo partidário ficou em primeiro lugar nas eleições, formalmente Juncker pode
ocupar o posto de presidente da Comissão Europeia.”
É possível que a
indefinição da escolha de um novo presidente para a Comissão Europeia esteja
associada ao fato de uma série de países europeus insistir em alterações nas
prioridades desse órgão supranacional. Por isso, muitos analistas consideram
que na realidade a discussão não é em torno da candidatura do presidente da
Comissão Europeia, mas a sua legitimidade e os poderes que daí decorrem e, se
generalizarmos, a reforma de toda a União Europeia.
Essa é realmente uma
questão pertinente. A União Europeia acabou por não conseguir se tornar em uma
família unida dos povos europeus. Ela é dilacerada por contradições políticas,
sociais e econômicas. O problema tem um caráter sistêmico e não pode ser
resolvido pela simples mudança de titulares. O projeto europeu tem de ser
reformatado. Essa é a lição principal que é necessário extrair das recentes
eleições para o Parlamento Europeu.
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