segunda-feira, 2 de junho de 2014

Portugal: ESTES PS’s SÃO LOUCOS!?



Rui Sá – Jornal de Notícias, opinião

Nesta semana que decorreu desde as eleições para o Parlamento Europeu tenho assistido a diversas mistificações sobre os diferentes resultados eleitorais. Em primeiro lugar, que a derrota da coligação de Direita "não foi assim tão grande".

Descontando aqueles que acham que, para o que o PSD e o CDS têm feito ao país, qualquer voto é de mais, a mistificação da dimensão da derrota parte dos próprios e dos comentadores que lhe são próximos - como vimos na própria noite das eleições. E o principal argumento é que "perderam por poucos" relativamente ao vencedor.

Sendo verdade que o PS não teve um resultado por aí além, este argumento entra na esfera do "pobre a rir-se do remediado". Não, a derrota da coligação PSD/CDS atingiu a maior dimensão de sempre da Direita em Portugal: coligados perderam relativamente a 2009 mais de 517 mil votos, o que significa que mais do que um em cada 3 votantes na Direita deixaram de o fazer! Antes destas eleições, o pior resultado que a Direita coligada tinha tido em Portugal era de 33% (eleições de 2004 para o PE, que traduziram uma derrota tal que Durão Barroso "fugiu" para Bruxelas).

Escamotear estes factos não é sério. Dizer que uma derrota desta dimensão abre boas perspetivas para que a coligação PSD/CDS ganhe as próximas legislativas soa a Zandinga de má qualidade e confunde os desejos com a realidade. E esquece que, à Direita, nada mais resta para apoiar um eventual governo PSD/CDS. Salvo se o PS fizer o frete - mas já abordaremos o assunto.

A outra mistificação prende-se com o notável resultado da CDU, cujos adversários procuram minimizar, atribuindo a sua subida ao facto de os seus eleitores serem "ferrinhos" ou seja, vão sempre votar, o que num quadro de abstenção elevada permite reforçar posições sem reforçar votações. Nada mais falso. Efetivamente, a CDU num quadro com maior abstenção conseguiu conquistar mais 36 mil votos, o que corresponde a um reforço de 10% da sua votação relativamente a 2009. E, analisados os resultados com mais pormenor, constata-se que o reforço da votação da CDU vem muito de fora das suas zonas tradicionais de influência. Como no distrito do Porto onde o reforço foi de 13,6%, superior à média nacional. Ou seja, a CDU conquistou novos eleitores que, neste quadro de crise, conseguiram vencer o preconceito anticomunista e dar o passo para votar naqueles que, há muito, reconhecem como necessários e úteis, mas a quem não davam o seu voto. Deram este passo definitivamente? Veremos. Mas que deram o passo não há dúvidas.

Mas, esperando ter desmistificado estas duas falácias, vamos ao tema de título desta crónica. O PS no seu melhor, que faria com que o Obélix, se por cá andasse, os comparasse aos romanos.

A primeira coisa que choca é que, na sequência das eleições do passado domingo, a que se segue mais um chumbo redondo do Tribunal Constitucional, o assunto em discussão deveria ser o da legitimidade deste Governo (política, dado que não representa, já, o eleitorado e legal, dado que abusa do desrespeito pelo quadro constitucional do país, colocando-se fora da lei), apontando-se as baterias para a sua substituição. Procurando que Cavaco, a quem compete cumprir e fazer cumprir a Constituição (e que há um ano, na sequência da crise do Portas "irrevogável", acenou com a convocação de eleições antecipadas se houvesse o consenso da troika nacional,) deixasse de ser cúmplice do Governo, assumindo, finalmente, o que se espera de um presidente da República.

Não, num verdadeiro frete ao Governo, o PS enredou-se numa luta de protagonismos. E o que mais choca é que, não entendendo nada da mensagem que o eleitorado transmitiu no passado dia 25, esta luta no PS nada tem a ver com políticas alternativas: é, apenas, uma luta de "galos" e das suas fações.

A derrota do PS nas eleições (apesar de ter ganho, apenas teve 30% dos votos) não se deve a quem é líder ou a quem foi candidato. Isso tem uma importância marginal no cômputo geral da fraca votação do PS. O que os eleitores disseram (e o líder do PSOE, em Espanha, teve a clarividência de o reconhecer quando, após os maus resultados, de imediato apresentou a sua demissão) foi que atribuem ao PS e às suas políticas parte das culpas pela situação do país.

Logo, o que se esperava do PS era que rompesse com essas políticas. Mas não: procuram, na senda politiqueira de que as pessoas já se fartaram, mudar umas caras criando a ilusão de mudança para facilitar a inércia e tudo ficar na mesma.

E não deixa de ser curioso que o protagonista que salta para o terreiro seja um ex-ministro e acrítico dirigente do PS de Sócrates.

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