Rui
Sá – Jornal de Notícias, opinião
Nesta
semana que decorreu desde as eleições para o Parlamento Europeu tenho assistido
a diversas mistificações sobre os diferentes resultados eleitorais. Em primeiro
lugar, que a derrota da coligação de Direita "não foi assim tão
grande".
Descontando
aqueles que acham que, para o que o PSD e o CDS têm feito ao país, qualquer
voto é de mais, a mistificação da dimensão da derrota parte dos próprios e dos
comentadores que lhe são próximos - como vimos na própria noite das eleições. E
o principal argumento é que "perderam por poucos" relativamente ao
vencedor.
Sendo
verdade que o PS não teve um resultado por aí além, este argumento entra na
esfera do "pobre a rir-se do remediado". Não, a derrota da coligação
PSD/CDS atingiu a maior dimensão de sempre da Direita em Portugal: coligados
perderam relativamente a 2009 mais de 517 mil votos, o que significa que mais
do que um em cada 3 votantes na Direita deixaram de o fazer! Antes destas
eleições, o pior resultado que a Direita coligada tinha tido em Portugal era de
33% (eleições de 2004 para o PE, que traduziram uma derrota tal que Durão
Barroso "fugiu" para Bruxelas).
Escamotear
estes factos não é sério. Dizer que uma derrota desta dimensão abre boas
perspetivas para que a coligação PSD/CDS ganhe as próximas legislativas soa a
Zandinga de má qualidade e confunde os desejos com a realidade. E esquece que,
à Direita, nada mais resta para apoiar um eventual governo PSD/CDS. Salvo se o
PS fizer o frete - mas já abordaremos o assunto.
A
outra mistificação prende-se com o notável resultado da CDU, cujos adversários
procuram minimizar, atribuindo a sua subida ao facto de os seus eleitores serem
"ferrinhos" ou seja, vão sempre votar, o que num quadro de abstenção
elevada permite reforçar posições sem reforçar votações. Nada mais falso.
Efetivamente, a CDU num quadro com maior abstenção conseguiu conquistar mais 36
mil votos, o que corresponde a um reforço de 10% da sua votação relativamente a
2009. E, analisados os resultados com mais pormenor, constata-se que o reforço
da votação da CDU vem muito de fora das suas zonas tradicionais de influência.
Como no distrito do Porto onde o reforço foi de 13,6%, superior à média
nacional. Ou seja, a CDU conquistou novos eleitores que, neste quadro de crise,
conseguiram vencer o preconceito anticomunista e dar o passo para votar
naqueles que, há muito, reconhecem como necessários e úteis, mas a quem não
davam o seu voto. Deram este passo definitivamente? Veremos. Mas que deram o
passo não há dúvidas.
Mas,
esperando ter desmistificado estas duas falácias, vamos ao tema de título desta
crónica. O PS no seu melhor, que faria com que o Obélix, se por cá andasse, os
comparasse aos romanos.
A
primeira coisa que choca é que, na sequência das eleições do passado domingo, a
que se segue mais um chumbo redondo do Tribunal Constitucional, o assunto em
discussão deveria ser o da legitimidade deste Governo (política, dado que não
representa, já, o eleitorado e legal, dado que abusa do desrespeito pelo quadro
constitucional do país, colocando-se fora da lei), apontando-se as baterias
para a sua substituição. Procurando que Cavaco, a quem compete cumprir e fazer
cumprir a Constituição (e que há um ano, na sequência da crise do Portas
"irrevogável", acenou com a convocação de eleições antecipadas se
houvesse o consenso da troika nacional,) deixasse de ser cúmplice do Governo,
assumindo, finalmente, o que se espera de um presidente da República.
Não,
num verdadeiro frete ao Governo, o PS enredou-se numa luta de protagonismos. E
o que mais choca é que, não entendendo nada da mensagem que o eleitorado
transmitiu no passado dia 25, esta luta no PS nada tem a ver com políticas
alternativas: é, apenas, uma luta de "galos" e das suas fações.
A
derrota do PS nas eleições (apesar de ter ganho, apenas teve 30% dos votos) não
se deve a quem é líder ou a quem foi candidato. Isso tem uma importância
marginal no cômputo geral da fraca votação do PS. O que os eleitores disseram
(e o líder do PSOE, em Espanha, teve a clarividência de o reconhecer quando,
após os maus resultados, de imediato apresentou a sua demissão) foi que
atribuem ao PS e às suas políticas parte das culpas pela situação do país.
Logo,
o que se esperava do PS era que rompesse com essas políticas. Mas não:
procuram, na senda politiqueira de que as pessoas já se fartaram, mudar umas
caras criando a ilusão de mudança para facilitar a inércia e tudo ficar na
mesma.
E
não deixa de ser curioso que o protagonista que salta para o terreiro seja um
ex-ministro e acrítico dirigente do PS de Sócrates.
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