Diogo
Vaz Pinto – jornal i
Especialistas
britânicos pedem acção à ONU e à OMS. Saudita que contraiu vírus na Serra Leoa
morre em Jeddah
Três
dos mais prestigiados especialistas mundiais no vírus do ébola afirmaram que os
tratamentos com drogas experimentais que foram oferecidos a dois missionários
norte-americanos na Libéria têm de ser também oferecidos às milhares de pessoas
infectadas na África Ocidental.
Depois
de Kent Brantly e Nancy Writebol terem contraído a doença ao tratarem pacientes
na Libéria, ambos foram transferidos para uma unidade de isolamento
especializada em Atlanta, nos EUA. Embora permaneçam ainda fracos - não havendo
nenhuma maneira de saber nesta fase em que medida o soro experimental (ZMapp)
pode ou não ter sido responsável pela recuperação - o facto de terem sido dois
americanos a primeiro beneficiar da "cura" gerou critícas e
recriminações que ecoaram por toda a África Ocidental.
Agora
Peter Piot, responsável pela descoberta do ébola em 1976, David Heymann,
director na área da segurança global e saúde do Chatham House Centre
(prestigiado thinktank britânico), e Jeremy Farrar, da Wellcome Trust (fundação
de caridade britânica), vieram a público dizer que há numerosas vacinas e
medicamentos em estudo que poderiam ser usados para combater o pior surto de
sempre deste vírus.
"Os
governos africanos devem ter as condições para tomar decisões informadas sobre
se devem ou não usar estes produtos - por exemplo, para proteger e tratar o
pessoal médico que corre riscos especialmente elevados de infecção",
escrevem os três num comunicado conjunto.
A
Organização Mundial de Saúde (OMS), "o único órgão com necessária
autoridade internacional" para avançar com estes tratamentos
experimentais, "tem de assumir este papel de mais forte liderança",
afirmam. "As terríveis circunstâncias presentes obrigam a uma resposta
internacional mais robusta."
Quase
900 pessoas morreram desde que o surto começou em Fevereiro, espalhando-se a
comunidades por toda a Guiné, Libéria e Serra Leoa. Algumas estirpes do vírus
são especialmente perigosas, uma vez que têm taxas de mortalidade de até 90%,
embora a actual crise esteja a matar entre 50 a 60% dos infectados.
O
contágio está longe de estar contido e houve repetidos alertas de que a
situação estava "fora de controlo". Finalmente, a OMS decidiu
reunir-se com vários especialistas para discutir medidas que possam travar o
surto. O encontro começou ontem e deverá acabar hoje, e dele sairá uma decisão
sobre se chegou a altura de declarar a situação de emergência global.
Um
homem que se suspeita que tenha contraído a doença morreu esta quarta-feira na
Arábia Saudita. A confirmar-se, este será o primeiro caso de uma morte
relacionada com o ébola a ocorrer fora do continente africano.
Entretanto,
uma coordenadora dos Médicos Sem Fronteiras na Serra Leoa advertiu que o país
não está a ser capaz de lidar com a situação. Em entrevista à CNN, Anja Wolz
disse que a única hipótese do país impedir o agravamento da crise será com a
ajuda internacional. Para Wolz é imprescindível que a OMS e o Centro para o
Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) se envolvam de forma directa na
erradicação do vírus.
"Eu
acho que o governo e o Ministério da Saúde aqui na Serra Leoa não tem condições
para fazer frente a este surto. Precisamos de muito mais assistência das
organizações internacionais - como a OMS, o CDC e outras organizações - para
prestarmos auxílio ao governo", disse. "Continuamos a ver enterros em
desrespeito da saúde; as pessoas que os fazem não desinfectam o cadáver;
continuamos a ter pacientes que se escondem; ainda temos pacientes ou
familiares que fogem porque estão aterrorizados", concluiu.
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