Crise
na Ucrânia coloca caso do denunciante da NSA em segundo plano na agenda
política de Obama. Na mídia americana, ele também perdeu espaço. Para
analistas, chances de um retorno aos EUA são poucas.
Considerando
a tensão atual das relações entre EUA e Rússia, o caso Snowden certamente não
está do topo da lista de prioridades do presidente dos EUA, Barack Obama. Tanto
a extradição como um retorno voluntário do ex-colaborador da NSA, que é
frequentemente discutido por círculos políticos em Washington, parecem
atualmente possibilidades fora da realidade.
Recentemente,
o ministro alemão da Justiça, Heiko Maas, recomendou a Edward Snowden que
entrasse em acordo com o governo dos EUA sobre condições para um retorno ao
país, afirmando que o americano não poderia ficar a vida inteira no exílio.
Até
mesmo alguns meios de comunicação dos EUA, como a rede de televisão ABC,
citaram o político alemão – um quase desconhecido em seu próprio país. Mas um
acordo parece estar longe de ser alcançado.
"Nunca
digo jamais. Mas acho que é extremamente improvável que Snowden retorne aos
Estados Unidos", opina Ken Gude, especialista em inteligência do Center
for American Progress.
O
congressista republicano Charlie Dent também não acredita que Snowden retorne
voluntariamente. "Também tenho as minhas dúvidas se o governo iria
realmente realizar negociações sérias com ele."
Interesse
da NSA
Gude
afirma que, pelo menos no início deste ano, houve conversas sérias entre o
governo Obama e representantes de Snowden. "A questão sobre se deveríamos
dar a Snowden a anistia exigida por ele para que pudesse voltar foi discutida
abertamente aqui nos Estados Unidos", lembra.
Até
mesmo a NSA havia divulgado estar interessada em conversar com Snowden. "A
principal motivação para isso é que a NSA, ainda hoje, um ano após a publicação
dos primeiros documentos, ainda não tem ideia do que ele levou consigo",
ressalta Gude. O especialista contradiz relatos recentes da mídia nos EUA de
que a NSA não teria mais interesse em negociar com Snowden, porque as
informações que ele detém teriam perdido valor ao longo do tempo.
Para
Gude, mesmo sendo agora claro que Snowden já divulgou a maior parte dos
documentos, seria valioso para a NSA saber o que exatamente ele já divulgou.
"Essas informações podem ser de grande valor para ele nas negociações que
realiza com o governo dos EUA. Mas, basicamente, ele não dispõe de um grande
poder de barganha, e é totalmente impossível que receba carta branca para uma
anistia geral."
Atualmente,
Snowden está esperando que o Kremlin se manifeste. Algumas semanas atrás, ele
apresentou um pedido de renovação do seu estatuto de asilo. Sua autorização de
residência na Rússia expira nesta quinta-feira (31/07). Mas quase ninguém
duvida de uma resposta positiva das autoridades russas. Nem mesmo Obama, que há
um ano pede, em vão, a extradição de Snowden.
Pressão
sobre a Rússia
Dent
defende que Obama pressione mais a Rússia, devido à gravidade do delito
cometido por Snowden. "Ele deve ser extraditado para os Estados Unidos.
Através de suas revelações, os EUA foram humilhados e expostos ao ridículo,
especialmente na Alemanha", afirma. "Mas tão importante quanto isso é
que Snowden revelou muitas de nossas capacidades militares e colocou em risco
muitos de nossos soldados no mundo todo."
No
entanto, o ex-colaborador da NSA sempre condicionou seu retorno a uma anistia.
Mas, além da pouca disposição em concordar com tal acordo, Obama também
correria risco de ser acusado de fraqueza política interna e externa ao tomar
uma decisão desse tipo. Por fim, há também obstáculos legais.
"A decisão de processá-lo ou não cabe ao Executivo", observa Gude. O ministro da Justiça teria que tomar uma decisão dessa importância e, claro, o presidente teria um papel importante nesse caso.
A
desvantagem de tal solução para Snowden seria que ela não é vinculativa para os
governos futuros. "A única maneira de evitar isso seria um perdão
presidencial."
Mas, realisticamente falando, um perdão de Obama não é algo imaginável. Talvez ele tome essa providência no final de seu mandato, a fim de passar ao seu sucessor um problema a menos.
Pouco
interesse da mídia
Na
mídia americana, quase não se encontra esse tipo discussão. Diferentemente da
Alemanha, a questão da NSA ocupa espaço secundário na agenda de notícias e
quase não tem atenção do americano médio.
Dent
não classifica isso como desinteresse. "O Iraque foi invadido; na Síria,
as pessoas matam-se umas às outras; o avião da Malásia foi abatido; e em nossa
fronteira, dezenas de milhares de crianças desacompanhadas entram em nosso
país. Não é que os americanos não estejam interessados na questão da NSA, mas
ela concorre com os outros eventos", avalia o político.
Snowden,
porém, sabe como continuar nas páginas dos jornais. As revelações recentes,
publicadas em determinados intervalos de tempo por jornais como Washington
Post e The Guardian e a revista Der Spiegel ainda
recebem alguma atenção na mídia americana. "Há algumas semanas, foi
revelada a espionagem contra organizações muçulmanas nos EUA", comenta
Gude.
E
há poucos dias, Snowden disse numa grande entrevista para o britânico The
Guardian que seus jovens colegas da NSA costumam enviar entre si fotos
indecentes que encontram durante a filtragem do tráfego de e-mails. Com essa
história, o americano conseguiu destaque até mesmo na imprensa sensacionalista
dos EUA.
Deutsche
Welle - Autoria: Gero Schließ (md) – Edição: Luisa Frey
O
Ministério Público alemão investiga um colaborador do BND que teria espionado
para os EUA. Pesquisador da paz e de serviços secretos explica por que o caso
do agente duplo desmascarado é tão significativo. (07.07.2014)
Funcionário
do serviço secreto alemão BND teria vendido mais de 200 documentos
confidenciais à agência americana. Caso deve abalar ainda mais relação entre os
dois países. (04.07.2014)
Em
entrevista exclusiva à DW, o jornalista Glenn Greenwald falou sobre o escândalo
de escutas telefônicas denunciado por Snowden. Para ele, a reação alemã a esse
monitoramento poderia ter sido muito mais forte. (13.06.2014)
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