Alberto Castro*, Londres
A ex-embaixadora norte-americana na ONU e atual Conselheira de Segurança Nacional dos EUA, Susan Rice, fez ontem declarações sobre o presente estado das relações EUA-África no âmbito da Cimeira que se realiza na próxima semana entre os dois blocos
Entre as linhas gerais da política norte-americana para a África e a radiografia atual do continente, a governante focou nas receitas patrocinadoras de sempre: democracia e boa governação, o que, na prática, se traduz no disseminar dos valores modernos do chamado Ocidente. Rice sublinha aquele princípio, quase sagrado mas completamente profanado quando alguém ousa agir de forma autónoma, com a enorme falsidade retórica de um outro: o da igualdade de relacionamento com base no respeito mútuo.
''Obviamente existem diferenças de recursos e poder entre países africanos e entre a África e os EUA, mas uma parceria igual significa lidarmos uns com os outros com respeito mútuo. Trabalhamos juntos sobre nossas diferenças. Mais importante, parceiros iguais dizem a verdade uns aos outros mesmo quando não queremos ouvir'', disse.
Igualdade e capacidade, duas ideias chaves na mensagem da norte-americana. No entanto, apesar do cinismo da retórica, ou da retórica do cinismo, Rice tem razão quando sublinha que, a par e em resultado da parceria de iguais, a capacidade dos africanos crescerem economicamente e de resolverem os seus próprios problemas deve ser o pilar da construção da parceria entre eles e os norte-americanos.
O
cinismo da retórica, ou a retórica do cinismo, continua no discurso pela
partilha dos cada vez mais competitivos recursos naturais de África. Numa
referência indireta à China e à Europa, os principais competidores que já
tiveram suas cimeiras com o continente-berço da humanidade, afirma: ''África
tem fortes laços com outras regiões e nações mas o engajamento americano com o
continente é fundamentalmente diferente. Não vemos a África como um
oleoduto para extrair recursos naturais nem como um funil para caridade''.
Angola
elogiada
Numa
referência a paz e à segurança global, cita países do continente que ainda
estão a braços com guerras civis e ameaças terroristas como o Congo Democrático
e a Somália, e faz um elogio ao maior dos lusófonos africanos: ''Vimos
melhorias significativas em lugares como a Libéria e Angola. Contrariamente a
algumas alegações, os EUA não visam militarizar a África ou manter nela
uma presença militar permanente. Estamos comprometidos em ajudar os nossos
parceiros a confrontar ameaças transnacionais para a nossa partilhada
segurança.''
Todavia, um artigo do Huffington Post ( (ver no link abaixo) publicado em março último avança com atividades e números que demonstram precisamente o oposto: só em 2013 foram 10 exercícios, 55 operações e 481 atividades de cooperação de segurança que somaram um total de 546 ''atividades'' no continente de acordo com David Rodriguez, comandante da AFRICON, ou seja a média de uma missão e meia por dia que, segundo o mesmo artigo, tende a aumentar significativamente em 2014.
Todavia, um artigo do Huffington Post ( (ver no link abaixo) publicado em março último avança com atividades e números que demonstram precisamente o oposto: só em 2013 foram 10 exercícios, 55 operações e 481 atividades de cooperação de segurança que somaram um total de 546 ''atividades'' no continente de acordo com David Rodriguez, comandante da AFRICON, ou seja a média de uma missão e meia por dia que, segundo o mesmo artigo, tende a aumentar significativamente em 2014.
Quanto
cinismo, hipocrisia e desfaçatez! Como dizem os brasucas: me engana que eu
gosto! De boas intenções foi a Líbia transformada em um inferno
precisamente quando Susan Rice representava os EUA na ONU.
Colunista e jornalista freelance*, Londres
Colunista e jornalista freelance*, Londres
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http://www.menafn.com/1093895832/Remarks-by-National-Security-Advisor-Susan-E-Rice-Africa-and-America-Partners-in-a-Shared-Future
http://www.huffingtonpost.com/nick-turse/military-action-in-africa_b_5041847.html
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