quinta-feira, 31 de julho de 2014

SUSAN RICE, A “MAMA” ÁFRICA



Alberto Castro*, Londres

A ex-embaixadora norte-americana na ONU e atual Conselheira de Segurança Nacional dos EUA, Susan Rice, fez ontem declarações sobre o presente estado das relações EUA-África no âmbito da Cimeira que se realiza na próxima semana entre os dois blocos em Washington. As mesmas podem ser conferidas no link abaixo.

Entre as linhas gerais da política norte-americana para a África e a radiografia atual do continente, a governante focou nas receitas patrocinadoras de sempre: democracia e boa governação, o que, na prática, se traduz no disseminar dos valores modernos do chamado Ocidente. Rice sublinha aquele princípio, quase sagrado mas completamente profanado quando alguém ousa agir de forma autónoma, com a enorme falsidade retórica de um outro: o da igualdade de relacionamento com base no respeito mútuo.

''Obviamente existem diferenças de recursos e poder entre países africanos e entre a África e os EUA, mas uma parceria igual significa lidarmos uns com os outros com respeito mútuo. Trabalhamos juntos sobre nossas diferenças. Mais importante, parceiros iguais dizem a verdade uns aos outros mesmo quando não queremos ouvir'', disse.

Igualdade e capacidade, duas ideias chaves na mensagem da norte-americana. No entanto, apesar do cinismo da retórica, ou da retórica do cinismo, Rice tem razão quando sublinha que, a par e em resultado da parceria de iguais, a capacidade dos africanos crescerem economicamente e de resolverem os seus próprios problemas deve ser o pilar da construção da parceria entre eles e os norte-americanos.

O cinismo da retórica, ou a retórica do cinismo, continua no discurso pela partilha dos cada vez mais competitivos recursos naturais de África. Numa referência indireta à China e à Europa, os principais competidores que já tiveram suas cimeiras com o continente-berço da humanidade, afirma: ''África tem fortes laços com outras regiões e nações mas o engajamento americano com o continente é fundamentalmente diferente. Não vemos a África como um oleoduto para extrair recursos naturais nem como um funil para caridade''.   

Angola elogiada

Numa referência a paz e à segurança global, cita países do continente que ainda estão a braços com guerras civis e ameaças terroristas como o Congo Democrático e a Somália, e faz um elogio ao maior dos lusófonos africanos:  ''Vimos melhorias significativas em lugares como a Libéria e Angola. Contrariamente a algumas alegações, os EUA não visam militarizar a África ou manter nela uma presença militar permanente. Estamos comprometidos em ajudar os nossos parceiros a confrontar ameaças transnacionais para a nossa partilhada segurança.'' 

Todavia, um artigo do Huffington Post ( (ver no link abaixo) publicado em março último avança com atividades e números que demonstram precisamente o oposto: só em 2013 foram 10  exercícios, 55 operações e 481 atividades de cooperação de segurança que somaram um total de 546 ''atividades'' no continente de acordo com David Rodriguez, comandante da AFRICON, ou seja a média de uma missão e meia por dia que, segundo o mesmo artigo, tende a aumentar significativamente em 2014. 

Quanto cinismo, hipocrisia e desfaçatez! Como dizem os brasucas: me engana que eu gosto! De boas intenções foi a Líbia transformada em um inferno precisamente quando Susan Rice representava os EUA na ONU.

Colunista e jornalista freelance*, Londres
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http://www.menafn.com/1093895832/Remarks-by-National-Security-Advisor-Susan-E-Rice-Africa-and-America-Partners-in-a-Shared-Future
http://www.huffingtonpost.com/nick-turse/military-action-in-africa_b_5041847.html

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