quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Ex-líder de Hong Kong apela à ala democrata para não vetar controversa reforma política




Hong Kong, China, 03 set (Lusa) -- O antigo chefe do Executivo de Hong Kong Tung Chee-hwa apelou hoje aos deputados da ala democrata para não avançarem com um veto à controversa reforma política anunciada no domingo por Pequim.

Tung Chee-hwa, o primeiro chefe do Executivo do território após a transferência da soberania em 1997, atualmente um dos vice-presidentes da Conferência Política Consultiva do Povo Chinês (CPCPC), lançou o apelo a "todo o espectro político" para colocar de lado as suas diferenças para se alcançar o sufrágio universal em 2017 e de modo a que a próxima eleição possa ser a "real e substancial" democracia.

A China tinha prometido à população de Hong Kong, cujo chefe do Executivo é escolhido por um colégio eleitoral composto atualmente por cerca de 1.200 pessoas, que seria capaz de escolher o seu líder em 2017.

Este domingo, porém, Pequim decidiu que os aspirantes ao cargo vão precisar do apoio de mais de 50% de um comité de nomeação para concorrer à eleição e que apenas dois ou três serão selecionados.

Ou seja, a população de Hong Kong exercerá o seu direito de voto mas só depois daquilo que os democratas designam de 'triagem'.

A reforma proposta carece de ser submetida ao Conselho Legislativo de Hong Kong (LegCo, parlamento) e aprovada por dois terços dos 70 deputados, dos quais 27 do campo pró-democrata anunciaram ter-se unido num compromisso pelo veto.

Apesar de afirmar compreender plenamente a raiva e a desilusão do campo democrata, Tung Chee-hwa disse, em declarações citadas pela Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK) que o território alcançou uma "brilhante conquista" rumo à democracia desde os dias em que a Grã-Bretanha costumava mandar os seus governadores e em 1997, quando ele próprio foi escolhido chefe do Executivo por uma elite de 400 elementos.

Tung Chee-hwa também deu conta da sua oposição aos atos de desobediência civil planeados por movimentos da antiga colónia britânica em protesto contra a reforma política anunciada, no passado domingo, pela Assembleia Popular Nacional.

A promessa de levar a cabo uma campanha de desobediência civil foi feita pelo "Occupy Central", que tem estado na linha da frente das manifestações em Hong Kong e ameaçou paralisar o distrito financeiro do território. Porém, Benny Tai, um dos cofundadores, surpreendeu, como escreve hoje o South China Morning Post, ao admitir que o movimento fracassou até ao momento e ao reconhecer que o apoio público à causa do seu movimento se tem vindo a desvanecer.

O anúncio de domingo sobre o método de eleição do chefe do Executivo em 2017 desencadeou nova onda de contestação na antiga colónia britânica, aliás, palco de vários protestos massivos nos últimos meses relacionados com o método de eleição do chefe do Executivo.

Esta terça-feira, num artigo que assina no jornal Financial Times, o último governador de Hong Kong, Chris Patten, defende que Londres tem uma "contínua obrigação moral e política" de garantir que a China respeita os seus compromissos no sentido de garantir o seu modo de vida por 50 anos, contados a partir da data de transferência, em 1997.

Neste sentido, Chris Patten insta o Reino Unido a 'erguer-se' pela democracia na sua antiga colónia.

No mesmo dia, a China acusou o Reino Unido de ingerência nos seus assuntos internos, na sequência de um inquérito parlamentar sobre as reformas políticas em Hong Kong, após informações de que autoridades chinesas escreveram à comissão parlamentar de assuntos estrangeiros britânica para que deixasse cair a investigação.

DM // APN - Lusa

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