Norberto
Sateco – O País (ao)
A
UNITA veio esta semana denunciar uma alegada violação da Constituição da
República, supostamente contida no recente discurso do Chefe de Estado
angolano, José Eduardo dos Santos, acerca da descentralização administrativa da
cidade capital
UNITA
entende que as medidas anunciadas pelo Presidente da República violam a
Constituição por omissão. Considera também que esta vontade política de
resolver os problemas peca por surgir tardiamente. Pelo que se pôde depreender
da nota do Galo Negro, a que OPAÍS teve acesso, estas medidas são insuficientes
para debelar os mais variados problemas que assolam os munícipes de Luanda.
A
promoção da governação participativa através do engajamento dos cidadãos na
resolução dos problemas e no desenvolvimento do seu município é uma das
passagens que mereceu tónica dominante do discurso de Eduardo dos Santos, sendo
neste aspecto que a UNITA entende residir a inconstitucionalidade, justificando
que “a Lei Magna estabelece que esta participação é feita no quadro da
concretização do princípio da autonomia local e não da administração”.
A
autonomia local compreende o direito e a capacidade efectiva de as autarquias
locais gerirem e regulamentarem, nos termos da Constituição e da lei, sob sua
responsabilidade e no interesse das respectivas populações, os assuntos
públicos e locaisrefere o documento- onde se pode ler também uma advertência
das entidades que podem exercer este direito que passa pelas autarquias locais,
e não pelos governos provinciais nem pelas administrações municipais, diz a
UNITA.
Principais
problemas
Lê-se
no mesmo documento que aos assuntos específicos locais relativos ao saneamento
básico, à gestão das redes públicas de água, do lixo, à educação das crianças,
à saúde, “não são da competência do poder executivo do Estado”, mas da
competência da administração autónoma, dai a reiterar-se a alegada
inconstitucionalidade e omissão.
Para
além da Constituição da Republica, o Galo Negro entende que as medidas
anunciadas para Luanda ofendem igualmente o principio democrático, apoiando-se
no artigo 213º da Constituição, segundo o qual “a organização democrática do
Estado ao nível local estrutura-se com base no princípio da não
descentralização político-administrativa ao contrário do princípio da
desconcentração administrativa anunciada pelo Chefe de Estado”.
“Diz-se
que a actividade é descentralizada quando é exercida por pessoas distintas do
Estado. Na descentralização, o Estado actua indirectamente, pois o faz através
de outras pessoas, seres juridicamente distintos dele, (como as autarquias
locais) e ainda quando sejam criaturas suas”, aponta o comunicado.
Outro
ponto considerado insuficiente, segundo a fonte, é relativo à administração
municipal que deverá assim ter um Programa de Desenvolvimento, um Orçamento e
um Programa Municipal de Investimento Público, a partir de Janeiro de 2015.
“A
Constituição manda o senhor Presidente largar o poder municipal e devolvê-lo
aos cidadãos. Quem deve elaborar e aprovar os programas de desenvolvimento
municipal são os cidadãos de cada município”, esclarece o comunicado que temos
vindo a citar.
A
fonte refere que o Cazenga devia ter um presidente, assim como Viana, Cacuaco e
Belas, sendo escolhidos pelos cidadãos das referidas municipalidade em eleições
livres.
Quanto
à questão social, UNITA diz que não se trata apenas de melhorar a Corimba, é
preciso melhorar a qualidade de vida de todos os angolanos ao mesmo tempo.
Na
visão desta formação politica, os planos para se fazerem mais duas ou três
escolas na Corimba, duas ou três estradas municipais no Libolo, mais duas ou
três estações de tratamento de lixo no Luena, são decisões dos respectivos
governos municipais a serem aprovadas pelas respectivas Assembleias Municipais,
não pelo Titular do Poder Executivo.
“Luanda
só com autonomia local” Descentralizar o desenvolvimento para harmonizar o
crescimento é uma das sugestões da UNITA para resolver os problemas da cidade
capital que encerram medidas estruturais de fundo para o reordenamento do
território e para o repovoamento do país.
Enquanto
Luanda não tiver um estatuto de responsabilidade político-administrativa
autónomo, no quadro da implementação das autarquias locais e um Plano Director
vinculativo a ser respeitado pelos futuros governos, Angola vai gastar muito
dinheiro em vão, diz o maior partido da oposição.
Em
2010, propusemos a este mesmo partido politico alargar o território de Luanda,
estendendo as suas fronteiras, para permitir a construção e gestão
descentralizada de novas redes viárias e ferroviárias, novos pólos industriais,
novos parques e novas cidades satélites, entre o Rio Loge, a Norte, e o Rio
Longa, a Sul e a província do Kuanza Norte, a Leste, sugestão que afirma não
ter sido “tida nem achada” da parte de quem Governa. Contudo, nesta mesma nota,
um dos pontos elogiados pela UNITA foi o facto de ter sido exonerado o
governador do cargo de secretário provincial do partido, de modos a permitir
maior eficiência na gestão e administração pública.
Reacções
de outros políticos
Este
mesmo discurso mereceu a reacção de outras forças políticas na oposição, bem
como do partido que detém o governo. Para o jurista e deputado do MPLA, João
Pinto, as medidas anunciadas no âmbito da desconcentração da administração
municipal dará maior impulso à construção de infra-estruturas sociais básicas
que muitas vezes ficam à espera de decisões do executivo central. Quanto ao
estatuto “especial” em termos de cabimentação de verbas, afirmou que não era
justo atribuir um mesmo valor ou aproximado a Luanda, em relação às demais
províncias, a julgar pela densidade populacional “estrondosa” que a capital
regista.
Pinto
entende que estas medidas aplicadas com o devido rigor e eficácia poderão mudar
a vida dos munícipes de Luanda e minimizar os grandes problemas dos cidadãos,
sobretudo aqueles que vivem nas municipalidades onde as carências são maiores.
Se
para o deputado do MPLA estas medidas irão facilitar a melhoria da vida das
populações, o mesmo não diz Manuel Fernandes da CASA-CE, justificando que
“vários projectos e Maria Rosaria, camponesa de 42 anos, residente na região da
Funda, afirma ter recebido com agrado a preocupação do Chefe de Estado em ver
esta questão dos “ nossos terrenos para a agricultura” que nos estão a retirar.
A
camponesa que vive de recursos vindos do campo, aponta que tem sido demais a
anarquia dos fiscais, “ao receberem os terrenos onde já praticamos agricultura
desde os tempos dos nossos avôs”. Ela disse também que para além dos documentos
que precisamos de tratar junto do Governo, -“assim como Inquérito às ocupações
anárquicas de terrenos Decisão modelos já passaram por Luanda e nenhum deles
resultou.
O
politico na oposição acredita que o mote da questão não reside na mudança de
figuras na Governação, porém em estratégias de governação com projectos
consistentes para se alcançarem resultados satisfatórios. Manuel Fernandes
reconheceu, por outro lado, que pela densidade populacional que a cidade de
Luanda possui, agravado à concentração politica e administrativa “é meio
impossível resolver os problemas da capital angolana”.
Luanda
com estatuto diferenciado
No
âmbito da nova dinâmica politico-administrativa que se pretende dar à cidade de
Luanda, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, depois de na semana
anterior ter nomeado Graciano Domingos como novo governador de Luanda, veio a
terreiro anunciar nesta Segunda-feira, 22, uma série de mudanças estruturais e
de gestão com vista, segundo disse, a tornar a governação desta cidade mais
participativa e, por conseguinte, melhorar a vida de quem nela habita.
Dentre
estas medidas constam o Plano Director de Luanda. Porém, das decisões
anunciadas a que prendeu maior atenção da opinião pública e especialistas foi a
de carácter normativo que apoiando-se na Constituição da República, reza uma
maior descentralização administrativa dos poderes do Governo Provincial para a
Administração.
“Quem dirige e governa estará mais próximo dos problemas da população“,
justificou o Chefe de Estado, que afirmou ser um processo a ser articulado com
as estruturas centrais.
Para
lá dos programas para melhorar a rede viária e a circulação na capital, diga-se
um dos “calcanhares de Aquiles” para os habitantes, Eduardo dos Santos disse
que a Administração Municipal passará a ter um Programa de Desenvolvimento,
orçamento e investimentos.
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