segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Cabo Verde - Vulcão: Um século de história de Chã das Caldeiras destruída




Portela e Bangaeira, os dois principais povoados de Chã das Caldeiras, completariam um século de existência em 2015 e 2017, respetivamente, tendo bastado 15 dias para que um vulcão as remetesse para a história de Cabo Verde.

Poupadas nas erupções mais recentes - 1995 e 1951 -, as duas localidades, de quase 1.500 habitantes, entretanto retirados de suas casas, não resistiram à força da lava que jorra desde 23 de novembro vinda da 27.ª erupção da história do vulcão em Cabo Verde, cujos primeiros registos datam de 1500, e a terceira desde que a ilha foi edificada.

"A maior parte da população de Chã das Caldeiras que viveu a erupção de 1995 nunca imaginava que um dia podia assistir à destruição das comunidades e nem tão pouco que as ruas de Portela se pudessem transformar num autêntico rio de lavas, semeando a destruição", escreve hoje a Inforpress, a este propósito.

Portela e Bangaeira foram apagadas do mapa no domingo, deixando o milhar e meio de habitantes sem qualquer forma de sustento, pois a maior fonte de rendimento das famílias locais dependia da agricultura, terrenos férteis que a lava consumiu.

Embora com as paredes de pé, mas cercadas totalmente pela lava, também foram duramente afetadas as instalações da Adega Cooperativa de Chã das Caldeiras, que empregava os cerca de 1.200 agricultores do planalto que serve de "base" aos vários cones vulcânicos da ilha do Fogo e considerado o "celeiro" foguense.

Salvaram-se os animais, embora muitos ainda se mantenham confinados às terras mais altas de Chã das Caldeiras, com os criadores a manterem a esperança de não ser necessário retirá-los tão cedo do local, cujo acesso já não é possível por estrada.

Destruídas as habitações, cerca de metade dos habitantes de Portela e Bangaeira foi distribuída pelos três centros de acolhimento entretanto criados em Achada Furna (sul da ilha), Monte Velha, que começa a ser ameaçada pela lava, e Mosteiros (ambas no norte), enquanto os restantes se instalaram em casa de familiares ou amigos.

Ao longo de semana e meia, e sempre que o vulcão dava tréguas, os habitantes de Portela regressavam ao povoado para retirar das suas habitações tudo o que podiam, desde o recheio das casas, entre camas, mesas, móveis e televisões, bem como tomadas elétricas, portas e janelas, pondo tudo a salvo nas encostas mais altas da cratera do grande vulcão do Fogo (altitude máxima de 2.829 metros).

Em Bangaeira, porém, o cenário foi diferente, pois grande parte dos moradores nunca acreditou que a lava atingisse a povoação, tendo sido poucos os que "ousaram" retirar os pertences de uma vida.

O futuro é ainda incerto, estando em curso a elaboração de planos para instalar as famílias das duas localidades, que terão de ter sempre em conta não só a construção de habitações, como a proximidade de terrenos férteis e boas pastagens.

No entanto, e tal como afirma hoje a Inforpress, apesar do cenário de destruição, muitas pessoas, sobretudo jovens, garantem que não vão abandonar as localidades e mostram-se disponíveis para, "pedra a pedra", reerguer os dois povoados das cinzas, conscientes, porém, de que não se trata de uma tarefa fácil e do risco que significa voltar a tornar habitável uma área que vive sob constante ameaça do vulcão.

Mas, tal como alertaram frequentemente à Lusa vários responsáveis da Proteção Civil cabo-verdiana, o "espetáculo das erupções e de consequente destruição" ainda agora começou, pois a lava continua a avançar perigosa e tendencialmente para o nordeste da ilha, onde reside cerca de um quarto da população do Fogo.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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