Lisboa,
15 dez (Lusa) - Deputados palestinianos saudaram hoje a recomendação aprovada
pelo parlamento português para o reconhecimento do Estado da Palestina, mas
rejeitaram que este passo fique dependente de negociações, exigindo a retirada
prévia de Israel dos territórios.
Os
eleitos portugueses e palestinianos falaram hoje, por videoconferência, no
âmbito do recém-criado Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Palestina, após a
aprovação pela Assembleia da República, na passada sexta-feira, de uma
recomendação para que o Governo reconheça o Estado palestiniano.
A
posição, subscrita pelo PSD, CDS-PP e PS e aprovada por maioria, insta o Governo
a "reconhecer, em coordenação com a União Europeia, o Estado da Palestina
como um Estado independente e soberano, de acordo com os princípios
estabelecidos pelo direito internacional" e a, "em conjunto com os
seus parceiros da União Europeia e internacionais, continuar a promover o
diálogo e a coexistência pacífica de dois Estados democráticos, Israel e
Palestina, pois só através de negociações será possível garantir a segurança e
a paz naquela região".
Falando
a partir do parlamento palestiniano em Ramallah, na Cisjordânia, a deputada da
Fatah (partido do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas) Sahar
Al-Qawasmi disse esperar que "as negociações não sejam a base do
reconhecimento do Estado da Palestina".
"Claro
que queremos negociações, mas antes disso o ocupante tem de retirar-se de todos
os territórios ocupados, porque sem isso não será possível negociar. Todos os
dias a situação é mais difícil, há perigo e há vítimas diárias na
Palestina", afirmou a deputada.
O
deputado da Frente Democrática Palestiniana Qais Abdel Karim considerou que o
reconhecimento do Estado palestiniano "confirma o direito à
autodeterminação, o mais importante dos direitos humanos".
"Esta
causa não pode ser relacionada com as negociações. As negociações podem
resolver outros problemas, como a questão da água, os direitos dos refugiados e
as relações económicas", defendeu.
O
deputado palestiniano considerou que a posição da União Europeia - que na
quarta-feira votará uma resolução sobre a matéria - "vai empurrar o
processo de paz para a frente e não o contrário".
A
deputada socialista Catarina Marcelino, vice-presidente do grupo de amizade,
concordou que "não se pode negociar o reconhecimento à
autodeterminação" e que este "tem de ser prévio às negociações".
Catarina
Marcelino - uma dos seis deputados socialistas que votaram a favor das
resoluções do PCP, Bloco de Esquerda e Verdes, que não defendiam a necessidade
de negociações nem a articulação com a UE -, recordou que Portugal "esteve
ao lado da autodeterminação do povo de Timor e também tem de estar ao lado de
qualquer povo que lute pela sua autodeterminação".
No
mesmo sentido, o comunista Bruno Dias, que preside ao grupo de amizade,
sublinhou que "o trabalho solidário que se faz no parlamento vai de mãos
dadas com o trabalho solidário que se faz no terreno, de norte a sul do
país" e agradeceu ao povo palestiniano "pelo exemplo de coragem,
dignidade, firmeza e combatividade, que mostra que vale a pena lutar".
"Não
temos a real dimensão da violência suprema e da humilhação que é imposta a um
povo no seu próprio território", considerou Helena Pinto (BE), para quem o
reconhecimento oficial do Estado da Palestina "é um passo muito importante
para a consolidação de uma estratégia de paz na região, mas não pode impedir
que se continue com a denúncia de todos os atentados aos direitos humanos que
Israel, enquanto Estado ocupante, tem feito na Palestina".
Presente
na discussão e votação da resolução parlamentar na passada sexta-feira, o
ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, anunciou que o
Governo português "procurará escolher o momento mais adequado" para
reconhecer o Estado da Palestina.
Portugal
é o quinto país da União Europeia cujo parlamento votou a favor do
reconhecimento do Estado palestiniano, depois do Reino Unido, França, Espanha e
Irlanda.
O
grupo parlamentar de amizade Portugal-Palestina foi criado em meados deste ano
e esta foi a primeira reunião realizada entre os deputados dos dois
parlamentos, que combinaram deslocações aos respetivos países para encontros
presenciais.
JH
// APN
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