Tiago
Mota Saraiva – jornal i, opinião
A
análise política da prisão de Sócrates tem-se afastado pouco de três linhas de
argumentação: que a prisão do ex-primeiro ministro demonstra a seriedade do
sistema, que o regime está em ruptura ou que é uma cabala contra um cidadão
honesto lançando-se a suspeição sobre o processo. As duas primeiras linhas de
argumentação, ainda que opostas, são de difícil sustentação. A enumeração de
todos os casos que envolvem poderosos e que ficaram por investigar ou por
julgar ao longo dos últimos dez anos não caberia nestas linhas. Num país com um
sistema de justiça saudável ou com o regime em ruptura, a publicação de um
livro como “Os Facilitadores”, de Gustavo Sampaio – no qual se explicam com
factos, dados e nomes, as formas de actuação dos poderosos em negócios ruinosos
para o Estado – motivaria inúmeros processos-crime e convulsões.
A
terceira tese, que recupera a ideia da campanha negra, desenvolve-se a partir
da superioridade moral de quem declara não estar a pronunciar-se sobre o caso
em concreto acabando, quase sempre, por julgar a acção dos juízes e declarar
toda a fé na inocência do ex-primeiro-ministro. Alias, à pouca esquerda que
consegue entrar nos debates televisivos, esta é a única tese permitida. Ninguém
constata que o cidadão José Sócrates recebeu visitas nas primeiras doze horas
de prisão, que não será maltratado como o puto do bairro pobre apanhado a
roubar e terá as condições financeiras para se defender que o povo, que
condenou à miséria, não tem. O sistema não se renova ou recicla com os mesmos actores
ainda que procure anunciar práticas diferentes. A prisão de Sócrates é um
ajuste de regime que estará em recauchutagem até às eleições. Não festejo as
prisões mas festejarei o dia em
que Sócrates , Passos, Portas ou Cavaco saiam derrotados.
Escreve
ao sábado
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