Susete
Francisco – jornal i
João
Cravinho é uma voz dissonante no PS quanto à criminalização do enriquecimento
ilícito
O
ex-deputado socialista João Cravinho considera que o parlamento deve avançar
com a criminalização do enriquecimento ilícito, desde que não seja para
“repetir o erro incompreensível” que cometeu em 2012, ao apresentar uma “versão
inconstitucional” desta medida.
“Há
que ser preciso quanto ao que está em causa, uma ofensa grave à credibilidade
das instituições democráticas, que resulte do facto de haver agentes públicos
que se mostrem na posse de bens consideráveis, que correspondam a um
enriquecimento oculto. O Ministério Público tem de fazer o seu trabalho, tem de
fazer a prova e a acusação e o indiciado, se quiser, fica em silêncio. Não há
inversão de prova nenhuma”, disse ao i, à margem do XX Congresso do PS, que
decorre em Lisboa este fim-de-semana.
Questionado
sobre se o PS deve responder ao repto lançado pelo PSD, que esta semana
desafiou os socialistas a juntarem-se a uma proposta para a criminalização do
enriquecimento ilícito, Cravinho sustenta que “nunca deixou de ser altura” para
avançar com esta medida. Mas não deixa de criticar Pedro Passos Coelho, que em
entrevista à RTP abriu a porta ao retomar da iniciativa: “Era altura de o
primeiro-ministro pôr a mão na consciência e perceber que não pode legislar ao
sabor dos acontecimentos”.
João
Cravinho diz que se for para juntar “mais uma flor ao rosário da legislação”
não vale a pena: a medida tem que ser pensada no âmbito de uma política
anti-corrupção “com cabeça, tronco e membros”, que “se aplique” de forma
efectiva e “tenha responsáveis”. O socialista sublinha que isso até agora não
aconteceu – “não há sequer um plano nacional de prevenção da corrupção,
esqueceram-se desse pormenor” – mas acrescenta que a culpa não é só do governo,
é também do parlamento: “A responsabilidade última é da Assembleia da
República, que se recusa a assumir responsabilidades”.
João
Cravinho é uma voz dissonante no PS quanto à criminalização do enriquecimento
ilícito. Foi, aliás, autor de um projecto lei sobre esta matéria, em 2007, uma
iniciativa que esbarrou na oposição da bancada parlamentar socialista. O PS é,
desde sempre, contra esta medida, que diz inverter o princípio da presunção de
inocência. O projecto que em 2012 acabou chumbado pelo Constitucional foi
aprovado no parlamento com o voto favorável de todos os partidos, com excepção
do PS.
Foto:
Mário Cruz / Lusa
Leia
mais em jornal i
Sem comentários:
Enviar um comentário