Macau,
China, 17 dez (Lusa) -- O único candidato derrotado em 15 anos nas eleições
para chefe do Executivo de Macau desde a transferência da administração para a
China admite que o sistema está organizado para candidaturas únicas existe uma
predisposição para haver apenas um nome na corrida.
"Ficaria
surpreendido é se tivesse surgido alguém", diz Stanley Au, em entrevista à
agência Lusa, comentando o facto do atual chefe do Executivo ter sido reeleito
sem oposição.
A
primeira e única disputa eleitoral deu-se em maio de 1999, meses antes da
transferência do exercício de soberania para a China, com Stanley Au a sofrer
uma pesada derrota frente ao também banqueiro Edmund Ho: conquistou 34 votos de
uma comissão composta por 200 individualidades.
Hoje,
o empresário, de 73 anos, que aspirava tornar-se o primeiro chefe do Executivo
da então futura Região Administrativa Especial, admite que só concorre quem tem
a certeza de conseguir ganhar a maioria dos apoios do colégio eleitoral.
"Depois
da primeira eleição, as pessoas viram os resultados. Por isso, não têm coragem
para fazer frente à impossibilidade", defende o empresário que confessa
ter acreditado até ao último momento que poderia sair vencedor.
Contudo,
hoje, à distância de década e meia, reconhece ter cometido um "erro de
cálculo": o apoio de Pequim. "Pensei que Pequim iria escolher
competência em vez de [privilegiar as] relações".
Edmund
Ho, filho do antigo líder da comunidade chinesa Ho Yin, o qual possuía
importantes ligações com o governo comunista de Mao Zedong e teve um papel de
destaque como elo entre as autoridades portuguesas de Macau e o governo de
Pequim antes do estabelecimento de relações diplomáticas, era desde a primeira
hora apontado como favorito de Pequim.
"Concorri
porque pensei que poderia contribuir para o bem-estar de Macau", recorda
Stanley Au, invocando o 'slogan' do manifesto -- "manter estabilidade mas
também procurar mudanças" --, sem esquecer o "trabalho de preparação"
efetuado. "Estava muito comprometido", lembra o empresário, para quem
"as suas estratégias de campanha foram todas reprimidas".
Stanley
Au não tem dúvidas sobre o desejo das pessoas de Macau: "Tenho a certeza
de que gostariam de ter mais escolha e não penso que gostem que certas coisas
lhes sejam 'dadas'".
E,
aponta, que a evolução vai nesse sentido. "Os jovens e as pessoas com um maior
nível de formação estão à procura de liberdade e de democracia", uma
"vontade" que "será mais evidente" à medida que cresce o
nível de educação em Macau.
"Penso
que todo o ser humano gostaria de ter liberdade e democracia. Mas, claro, dadas
determinadas circunstâncias, há um consenso sobre se a 'mãe-pátria' gostaria
disso ou não e não se quer 'aborrecer' o sistema político da China. Há
receios", realça Stanley Au.
Essa
vontade de ter uma voz ativa na escolha do líder do Governo não é, contudo,
visível nas ruas, como em
Hong Kong , onde os residentes saem frequentemente para a rua
para exprimir as suas aspirações.
"Macau
está sob uma situação política diferente. As pessoas são menos corajosas e têm
menos visão do que as de Hong Kong e não querem pagar o preço, que pode ser
qualquer coisa como perder oportunidades ou ir para a prisão. Basta ver o caso
dos estudantes de Hong Kong mesmo sendo apenas uma manifestação...", diz.
Os
jovens que se têm vindo a evidenciar são "iniciantes", mas
conquistaram a simpatia de muitos, os quais não têm, no entanto,
"coragem", talvez por "o ambiente não ser propício ou
favorável". Não obstante "o descontentamento escondido",
"ninguém quer uma revolução".
Em
paralelo, "Macau está sob mais pressão política contra movimentos democráticos.
Porquê? Macau não tem muitos jornais independentes e depende muito mais da
China", sustenta Stanley Au, para quem o facto de a região ser qualificado
de 'bom aluno' -- por oposição à região vizinha -- é um efeito disso mesmo.
"Somos
bem-comportados por causa da pressão política. Temos de depender dos casinos,
as pessoas dependem mais do Governo e dos interesses velados do que em Hong Kong ", pelo
que essa é a razão pela qual as pessoas não se manifestam tanto em Macau.
Mas,
"há cada vez mais residentes a elevarem as suas vozes", nota,
destacando a recente agitação civil de maio, quando milhares de pessoas se
manifestaram contra uma proposta de lei que previa regalias para os titulares
de cargos políticos (a qual acabou por ser retirada pelo Governo), num dos
maiores protestos desde 1999.
Apesar
de haver mais vozes essas "vão levar mais tempo a 'explodir'", uma
vez que o poder económico continua a tomar conta de instâncias como o
hemiciclo: "Mais de metade pertence a interesses velados, por isso, Macau
está bem controlada politicamente", diz Stanley Au, que chegou a ser
deputado nomeado da Assembleia Legislativa no primeiro mandato de Edmund Ho.
Até
2049, Stanley Au acredita que Macau vai assistir a "algumas grandes
mudanças", mas sem grandes ilusões, afirmando apenas ser "razoável"
que o território siga os passos de Hong Kong.
"Se
em Hong Kong
houver sufrágio universal, penso que as pessoas de Macau também vão tentar
lutar por ele se também o quiserem".
DM
// PJA
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