Macau,
China, 17 dez (Lusa) - Um estudo da Universidade de Hong Kong hoje divulgado
indica que 61% da população de Macau apoia a introdução de sufrágio universal
para eleger o chefe do Governo e 71% quer este método para escolher os
deputados na Assembleia.
O
estudo foi encomendado pela Novo Macau, a maior associação pró-democracia do
território, e apresentado hoje, através de videoconferência, pelo diretor do
Programa de Opinião Pública da Universidade de Hong Kong, Robert Chung.
Dos
506 entrevistados, 61% dizem ser favoráveis a uma eleição direta do líder do
Governo, enquanto 11% estão contra e 22% são neutros.
A
maioria dos que apoia esta medida, 67%, considera que o voto direto devia
entrar em vigor já nas próximas eleições, em 2019.
Os
que estão contra justificam maioritariamente (45%) a sua posição com a "má
qualidade dos eleitores de Macau". Também há quem não deseje mudar o atual
sistema (27%) e rejeite a opção para "manter a estabilidade política"
(15%).
Em
relação à Assembleia Legislativa (AL), onde atualmente há deputados eleitos
pela população, eleitos indiretamente através de associações e nomeados pelo
chefe do executivo, os inquiridos discordam da atual distribuição dos assentos
e gostariam de ver um aumento dos deputados escolhidos pelos residentes.
Os
inquiridos preferiam um modelo em que 58,4% do hemiciclo, com um total de 33
assentos, fosse eleito pela população, o que significaria um aumento dos
deputados escolhidos por este método de 14 para 19. Em resultado, diminuiriam
os indiretos (de 12 para 9) e os nomeados (de 7 para 5).
Para
71% dos inquiridos, no futuro, a totalidade do hemiciclo devia ser eleita pelos
residentes, enquanto 11% se opõem à ideia e 15% são neutros. Entre os
apoiantes, 68% gostava que a eleição popular de toda a AL acontecesse já nas
próximas legislativas, em 2017.
Mais
uma vez, os inquiridos que optaram por se opor apontaram como principal
justificação a "má qualidade dos eleitores".
Robert
Chung, que há vários anos conduz estudos de opinião sobre Macau, disse
acreditar que esta preocupação, ainda que manifestada por uma minoria, se
prende com receios de "corrupção eleitoral".
"A
corrupção é um fator importante e que afeta as eleições. Macau é uma sociedade
unida, há muitas ligações sociais, ligações com organizações. Há uma alta
possibilidade de corrupção ou tráfico de influências", sugeriu o
académico, salientando que esta justificação não foi diretamente apresentada
pelos inquiridos.
O
investigador considerou que, ao longo dos últimos 20 anos, a opinião pública de
Macau tem vindo a acusar transformações, ainda que sobressaia sempre um maior
conservadorismo em comparação com Hong Kong.
No
entanto, esse hiato começa agora a estreitar-se. "A luta por democracia em Hong Kong teve um certo
efeito de contágio em Macau e temos assistido a uma maior mobilização da
sociedade civil", disse.
A
maioria dos 506 entrevistados para este estudo tem idades entre os 30 e os 49
anos (39%), seguida da faixa etária acima dos 50 anos (35%) e dos jovens entre
os 18 e 29 anos (26%). A maioria tem formação superior (45%) e 46% tem um
rendimento mensal entre as 10.000 e as 29.999 patacas (entre 1.000 e 3.000
euros). Quase todos (84%) estão recenseados e 80% votaram nas últimas eleições
para a AL.
O
estudo foi apresentado em videoconferência, em parte devido a receios de que o
académico fosse impedido de entrar em Macau, numa altura em que se espera a
visita do Presidente chinês, Xi Jinping.
Em
época de visitas de individualidades, é comum que as autoridades vetem a
entrada de ativistas, deputados e académicos, entre outros.
ISG
// VM
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