quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

União Europeia: (MAIS) UM BECO SEM SAÍDA



João Galamba – Expresso, opinião

Parece haver um relativo consenso de que a deflação pode constituir um enorme risco para a economia europeia, em particular para as economias mais endividadas, como a portuguesa. Infelizmente, parece que o consenso oficial é o de que, existindo um problema, ele é de natureza estritamente monetária e que, portanto, caberia ao BCE resolvê-lo. A possibilidade da deflação ser causada pela austeridade, pelo desemprego e pela compressão salarial nem sequer é admitida.

Os defensores das actuais políticas europeias de austeridade e competitividade salarial (compressão salarial) têm duas alternativas: ou desvalorizam os dados recentes sobre a evolução dos preços e negam que existam riscos ou, reconhecendo esses riscos, seguem Milton Friedman, dizem que a inflação é sempre um fenómeno monetário.

É isso que explica que, estando os juros praticamente a zero, e tendo o BCE recorrido a um enorme arsenal de políticas monetárias não-convencionais, se continue a pedir que o BCE faça não se sabe bem o quê para aumentar a inflação.

Se as actuais políticas económicas e orçamentais se mantiverem, não há intrumento nem política que o BCE possa pôr em prática que inverta ou anule os efeitos que o desemprego, a compressão salarial e a austeridade têm nos preços. O BCE pode dar dinheiro barato e ilimitado aos bancos para estes emprestarem, mas há uma coisa que não consegue fazer: não cria procura do nada. Sem procura, e com o euro a não desvalorizar, não há maneira do BCE criar inflação.

A deflação não é um acidente, é o resultado inevitável da actual estratégia europeia. As únicas políticas que podem combater a deflação são as que travam as suas causas, isto é, são as que combatem o desemprego, são as que invertem a actual dinâmica salarial, são as que apostam no investimento; são, em suma, as que aumentam a procura.

Se queremos mesmo evitar uma espiral deflacionária, resta-nos reconhecer que a política monetária, sozinha, não pode nada; e que só uma inversão da política orçamental, juntamente com uma política económica que abandone a actual obsessão com a competitividade salarial, pode verdadeiramente tirar-nos do beco sem saída em que estamos metidos.

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