A
mudança política a que a Europa tem assistido - o Syrisa e o Podemos no
horizonte - é também o resultado de um regresso a uma dignidade entretanto
roubada. Os movimentos ditos populistas, como é sobretudo o caso do Podemos,
invariavelmente associados a ideias vagas, a alguma inanidade e apoiados na
retórica ao invés da ideologia, representam a resposta a esse roubo da
dignidade dos povos do sul da Europa. O já referido populismo, dito de forma
depreciativa, é uma nova forma de ver e fazer política - nova e diferente em
oposição ao convencionalismo que se instalou na Europa; tudo o que fugir a esse
convencionalismo acinzentado será considerado de forma depreciativa pelos
poderes instalados.
Quando
se leva os povos ao limite das suas capacidades, quando se humilha e se anula o
conceito de futuro, os povos respondem. Felizmente para a Europa, essa resposta
tem sido dada num contexto de democracia, fortalecendo-a. A resposta poderia
ter chegado através de vias menos democráticas ou até mesmo num inserida num contexto
de democracia a resposta poderia ser paradoxalmente a antítese de democracia
como já aconteceu no passado.
Os
poderes instalados continuarão a fazer o seu caminho, repudiando qualquer
mudança, julgando contar com povos amedrontados e receosos dessa mudança. Já
não será bem esse o caso, como se vê na Grécia e como se começa a vislumbrar em
Espanha ou até mesmo na Irlanda.
Não
é por acaso que Alexis Tsipras refere amiúde a necessidade de recuperação da
dignidade de um povo. Ele sabe que os gregos sentem que os anos de austeridade
resultaram em miséria, mas também no enfraquecimento da dignidade do seu povo e
de muitos outros cidadãos europeus.
O
que se segue será difícil, mas há um facto indubitável: há povos dispostos a
mudar e a aceitar o carácter imperativo. A Alemanha está empenhada em eliminar
qualquer impetuosidade dos países do sul da Europa. Esse gesto tem resultados
contraproducentes - do ponto de vista das aspirações da própria Alemanha - como
já começa a ser evidente.
Ana
Alexandra Gonçalves – Triunfo da Razão
Leia
mais em Triunfo da Razão
Sem comentários:
Enviar um comentário