terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Angola: RAFAEL MARQUES INVESTIGA EXPROPRIAÇÃO DE TERRAS




Jornalista afirma que dirigentes estão a registar em nome próprio terrenos que poderiam ser usados para a produção agrícola.

A expropriação de terras por parte de dirigentes angolanos está a ser investigada pelo jornalista Rafael Marques, autor do livro Diamantes de Sangue, que afirma ter detectado dezenas de situações irregulares.

“Um pouco por todo o país, os dirigentes estão a açambarcar terras e registá-las em seu nome. Só no Kwanza Sul já registei cerca de 30 dirigentes que detêm mais de 600 quilómetros quadrados de terra arável, por apropriação”, disse à Lusa o jornalista.

Rafael Marques afirmou que não existem medidas para racionalizar os recursos e impedir que os dirigentes se apropriem de centenas de milhares de hectares de terra.

De acordo com o investigador, o país, “dependente do petróleo”, precisa de políticas competitivas, através da realização de concursos públicos em setores como a construção de infra-estruturas e investimentos internacionais independentes, sem a participação dos governantes como sócios.

“Tenho estado a fazer um trabalho sobre a expropriação de terras por parte de dirigentes um pouco por todo o país e temos dirigentes com dezenas de milhares de hectares, centenas de quilómetros quadrados de terra arável – que não fazem nada com essas terras -, mas conseguem obter grandes empréstimos, sobretudo do Banco de Desenvolvimento Angolano”, explicou Rafael Marques, que criticou a forma como são utilizados os créditos bancários.

“Alguns (empréstimos) de dezenas de milhões de dólares são para comprarem carros de luxo, bens e serviços de luxo no exterior e não se investe efectivamente na infra-estrutura para dar suporte à produção agrícola necessária ao país”, acusou Rafael Marques, sublinhando que são raros os casos de sucesso empresarial no sector agrícola.

“No Cuanza Sul, o projeto mais bem-sucedido é o de uma fazenda onde foram investidos mais de 150 milhões de dólares mas não conseguem produzir mais de 200 hectares de terra e é uma sociedade que tem oito mil hectares. Não há investimento na agricultura que, por sua vez poderia suportar uma indústria de transformação de produtos alimentares”, exemplifica o jornalista.

Os casos estão a ser publicados regularmente na página “Maka Angola – em defesa da democracia, contra a corrupção”, que o jornalista mantém na internet.

Rafael Marques é o autor do livro “Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola”, em que denuncia alegados abusos na província diamantífera angolana da Lunda Norte.

Na sequência destas acusações, sete generais angolanos interpuseram uma ação judicial contra o jornalista, por denúncia caluniosa, que deve começar a ser julgado no próximo dia 24 de março.

Lusa, em Rede Angola

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