O
relatório traz um prognóstico meio inesperado sobre a Federação da Rússia,
dizendo que esta irá “se fragmentar” nos próximos dez anos, em função do
conflito na Ucrânia e do fortalecimento dos laços dos países vizinhos com o
Ocidente.
A agência estadunidense de inteligência e análise Stratfor publicou um relatório com previsões geopolíticas para 2015-2025 que se tornou manchete mundial imediatamente. Os autores do documento destacam como eventos mais importantes que esperam o mundo a fragmentação da Rússia, o colapso da União Europeia, o fortalecimento da Turquia, o declínio da China e o poder crescente político e econômico dos EUA.
A agência estadunidense de inteligência e análise Stratfor publicou um relatório com previsões geopolíticas para 2015-2025 que se tornou manchete mundial imediatamente. Os autores do documento destacam como eventos mais importantes que esperam o mundo a fragmentação da Rússia, o colapso da União Europeia, o fortalecimento da Turquia, o declínio da China e o poder crescente político e econômico dos EUA.
A
Rússia é o tema central do relatório. O conflito da Ucrânia, que irá persistir,
segundo os especialistas, permanecerá “o elemento central do sistema
internacional nos próximos anos”. Depois disso, os autores começam a tratar da
Federação da Rússia, insistindo que o país “não pode continuar existindo na sua
forma atual por uma década inteira”.
Já
segundo vários analistas contatados pela Sputnik, tal previsão é errônea. Por
exemplo, o jornalista brasileiro Mário Russo disse:
“A
parte que me preocupa é que essas previsões em relação à Rússia são ao mínimo
apocalípticas, parciais ou pretenciosas”.
Falar
sobre desmembramento ou fragmentação de um Estado nos próximos dez anos é
bastante arriscado e forte, é preciso ter provas suficientes para justificar
tal previsão. E os analistas da Stratfor não apresentam essas provas, afirma
José Niemeyer, professor de Relações Internacionais do Ibmec do Rio de Janeiro.
Outro
assunto importante destacado pelos autores do relatório é o crescimento do
papel da OTAN e dos EUA na “linha de frente” entre a Europa Central e a Rússia.
Esta “linha” tem como pontos especialmente importantes a Polônia e a Romênia,
países que estão se alinhando claramente mais e mais com os EUA em relação à
Rússia.
Até prognosticam que a Polônia irá se tornar o Estado mais influente (do ponto de vista da OTAN e dos EUA), opinião esta compartilhada por certos especialistas e rejeitada por outros.
A
China também não mereceu um prognóstico positivo. Segundo os analistas da
Stratfor, o seu problema, como da Rússia, é a imensidade do seu território, mas
nesse país não haverá cisão ou fragmentação, senão declínio econômico e
fortalecimento do modelo autoritário de governação. Sem isso, acreditam os
analistas do Texas, não é possível governar o país, que tem problemas em várias
fronteiras, com a Mongólia, com o Tibete.
Não
obstante, há um grande país que não irá ter nenhum separatismo, fragmentação ou
autoritarismo. São os EUA, aponta o relatório. Este país, que, ademais, será “a
maior economia do mundo”, irá se centrar na agenda interna, deixando de lado
por um tempo assuntos de segurança internacional. Portanto, segundo a agência,
isto trará mais força política, inclusive no palco internacional, aos Estados
Unidos.
Voltando
à agenda mundial, os analistas preveem o fortalecimento das posições da Turquia
no Oriente Médio, graças também à sua parceria com os EUA.
Stratfor
esqueceu-se de algo importante
Vários
especialistas consultados pela Sputnik destacaram a relativa ausência no
relatório da América Latina e do Caribe. Segundo o professor Niemeyer, isto
significa que a Stratfor e os EUA não consideram esta região como
"relevante".
Mas
a região é relevante, sim, afirma Fernando Bossi, editor-chefe do portal
venezuelano ALBA. Entre os países que há aqui, a Nicarágua tem mais
oportunidades: "A transformação de Manágua em um jogador regional sério,
com uma economia forte, é possível se o canal que liga dois oceanos seja
construído".
O
doutor Bossi explica que os autores do relatório podiam estar preocupados com o
fortalecimento dos laços entre a Rússia e a China e a América Latina, por isso
prepararam não um relatório completo, senão um "esboço". O jornalista
concorda que o mundo estará sujeito a grandes mudanças nos dez anos que vêm,
mas estas mudanças bem podem ser contrárias às que a equipe da Stratfor
delineou.
Zhang
Xin, do Instituto das Relações Internacionais e Desenvolvimento Regional da
Universidade Pedagógica Oriental da China também nota que os analistas da
Stratfor "esqueceram-se" das relações russo-chinesas na parte do
relatório que comenta a situação na Ásia Oriental. Segundo o cientista, "É
a parceria militar entre a China e a Rússia que, durante um período bastante
largo de tempo, irá influenciar a situação geopolítica e militar na Ásia
Oriental e na região asiática do Pacífico".
Já
segundo o ex-presidente da Eslováquia, Jan Carnogursky, o relatório da Stratfor
é "uma aplicação de critérios anglo-saxônicos à Rússia, sem ter em conta
os laços históricos que mantêm a Rússia íntegra".
"As
lições da história russa não são expressadas só em termos de dinheiro. De outro
lado, se o fardo financeiro trazer o sistema norte-americano ao colapso, não há
laços históricos capazes de manter a sociedade heterogênea norte-americana
unida", acredita o ex-presidente.
Este
é o quinto relatório da Stratfor, que publica previsões desde 1995.
flickr com – Stephen Melkisthian – Sputnik
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