Hoje
o dia está mais luminoso em Portugal, pelo menos na capital. Isso alimenta a
nossa genica e a melhor disposição. Até ficamos com o humor afiado e a ironia
cortante. Aqui em baixo tem o Expresso Curto habitual, do jornal Expresso. A
servi-lo Henrique Monteiro, redator principal.
Antes
tome nota de uns parágrafos da lavra da redação do Página Global a beber na
fonte da TSF. Então e não foi que António Costa se lembrou do que era o
cavaquismo? Boa memória. No cavaquismo, ou seja, durante mais de uma década em que Cavaco Silva
foi primeiro-ministro, o desprezo pelos portugueses carenciados foi medonho. Costa
lembrou-se. Costa disse que Portugal não pode voltar ao pior do cavaquismo. Muito bem.
Lembrou a pobreza em Lisboa e arredores, por exemplo na Quinta do Mocho, onde pessoas
viviam em prédios sem portas nem janelas, sem elevadores e com os fossos dos
elevadores a descoberto. Por onde caíam as crianças e morriam. Claro que nem o
cavaquismo, nem Cavaco, foram inculpados judicialmente por essa mortandade. Nem
pela fome, nem pela miséria. Nem criticado pela ONU por ser um dono da maior insensibilidade
para com os mais pobres. Pela sua indiferença pelo desrespeito pelos Direitos
Humanos. Cavaco era uma trampa de primeiro-ministro mas o seu ego acha que ele
foi o maior. Sim, maior. A maior trampa que aconteceu em Portugal. O mesmo se
pode dizer atualmente sobre o desempenho dele na Presidência da República. O
sujeito está repleto de Não Presta. É mesquinho. Vimos, por exemplo, sobre
Saramago, o escritor agraciado com o Nobel da Literatura. Mas Cavaco tem-lhe um
asco mesmo depois de morto… Imagine-se um presidente da República a representar Portugal, na América Latina, num evento sobre literatura, que cita
escritores portugueses… menos Saramago, o Nobel. Um presidente da República
normal puxaria pelos galões do Nobel Saramago. Cavaco não. Cavaco não por que é
um devasso na Presidência da República, indigno do cargo que está a conspurcar,
retirando-lhe a dignidade que sempre teve pós 25 de Abril de 1974. Na
atualidade vimos as cores deste forrabotas do piorio, que foi eleito por engano
para a mais elevada magistratura da Nação Lusa. E ainda falta um ano para
Portugal se ver livre dele, apesar de enquanto for vivo nos continuar a sair
muito dispendioso. Quando nem merece um cêntimo de custo ao erário público. Também
na atualidade anda na assumida campanha eleitoral pelo governo de Passos, pelo
PSD. Tão doentio que pretendeu traçar um perfil do seu sucessor. Doentio, de
facto. Um presidente da República que se julga rei. Um traste do piorio que
devia fazer os devidos exames para saber realmente das suas capacidades para
exercer o cargo, dado que tem prostrado e arrastado a credibilidade da
instituição Presidência da República pela indignidade.
Uf.
Vai longo este expresso, pela nossa parte. Lá vem mais bosta, se quisermos
continuar. Bosta fresca. De hoje. O Diretor
Geral da Autoridade Tributária apresentou demissão. António Brigas Afonso
demite-se por causa da Lista VIP existente à sua revelia. Num extrato da TSF
podemos ler: “Numa curta nota, o gabinete de Maria Luís Albuquerque diz que «o
Diretor Geral da Autoridade Tributária e Aduaneira apresentou, hoje, dia 18 de
março, o seu pedido de demissão à Ministra de Estado e das Finanças»”.
Brigas
Afonso é uma pessoa honesta. Foi apanhado de surpresa com o caso da Lista VIP. Constatou
a veracidade e não gostou. Sai. Demite-se. Não está para acompanhar com os
vigaristas do governo. Muito menos para os encobrir. O próprio sindicato
daquela área elogia sobremaneira Brigas Afonso- Pode saber em “Sindicato
dos Trabalhadores dos Impostos relaciona demissão de Brigas Afonso com caso da
lista VIP”, no site da TSF.
É
evidente que bandalhos políticos apoderaram-se dos poderes em Portugal. Com
Cavaco Silva a desvalorizar tudo que possa manchar a reputação
do seu governo. Cavaco, o presidente de uns quantos. Como foi dito na AR a
Passos Coelho: “Metes nojo”. Cavaco também.
Ainda na TSF, o Fórum de hoje, que já decorre e termina daqui por cerca de meia-hora. Os
avisos do FMI – “Como avalia os alertas e as recomendações do FMI? Concorda
com a crítica de que não se fez o suficiente para reduzir as rendas excessivas
no setor da energia? É aceitável que continuemos a pagar uma das eletricidades
mais caras da União Europeia? Que medidas devem ser tomadas para ajudar o
crescimento económico e a criação de emprego?”
Ainda
vai a tempo de acompanhar o Fórum TSF por mais alguns minutos. Agora vamos,
finalmente, ao Expresso Curto que o Henrique Monteiro tem, cuidadosamente,
mantido na temperatura ideal. Bom Expresso. Bom dia com o PG e o que mais
quiser.
Redação
PG
Bom
dia, este é o seu Expresso Curto
Henrique
Monteiro – redator pincipal
Os
despojos do dia - de Salgado a Sócrates; de Bibi a Berlusconi
Por
onde começar – eis a dificuldade da escolha! Sócrates e a sentença da
Relação? Ricardo Salgado e Angola? Amílcar Morais Pires e a
denúncia? Paulo Portas e as críticas ao BdP? Subir Lall e
as recomendações do FMI? Isto começa a parecer sempre igual.
Mais importante foi a eleição em Israel de um novo Parlamento (Knesset), onde a azáfama da coligação já é uma constante. Durante a noite, a frase mais escrita nas agências e ouvida nas televisões e rádios foi “too close to call” (ou seja, que não podia ser aclamado um vencedor por estarem os partidos Likud – direita - e União Sionista – centro-esquerda) demasiado perto um ao outro. Isso mesmo dizem os jornais esta manhã. Mas a verdade é que as sondagens pré-eleitorais e mesmo as que foram feitas à boca das urnas falharam redondamente: Benjamin Netanyahu, popularmente conhecido por Bibi, venceu pela quarta vez, com 30 deputados eleitos do Likud, contra 24 do centro-esquerda da União Sionista. Agora vai formar uma coligação com outros partidos à direita e provavelmente tentar cumprir o que prometeu: que com ele não haverá Estado Palestiniano. Netanyahu, que tem sofrido o desgaste da quebra económica do seu país, da oposição da Europa à sua política e, finalmente dos EUA de Obama, que ele contornou para falar à maioria republicana do Congresso, pode tornar-se o líder israelita com mais anos de poder, caso cumpra o mandato. De salientar, ainda, que nestas eleições comoterceira força emergiu a aliança dos árabes, com 13 deputados.
Mais importante foi a eleição em Israel de um novo Parlamento (Knesset), onde a azáfama da coligação já é uma constante. Durante a noite, a frase mais escrita nas agências e ouvida nas televisões e rádios foi “too close to call” (ou seja, que não podia ser aclamado um vencedor por estarem os partidos Likud – direita - e União Sionista – centro-esquerda) demasiado perto um ao outro. Isso mesmo dizem os jornais esta manhã. Mas a verdade é que as sondagens pré-eleitorais e mesmo as que foram feitas à boca das urnas falharam redondamente: Benjamin Netanyahu, popularmente conhecido por Bibi, venceu pela quarta vez, com 30 deputados eleitos do Likud, contra 24 do centro-esquerda da União Sionista. Agora vai formar uma coligação com outros partidos à direita e provavelmente tentar cumprir o que prometeu: que com ele não haverá Estado Palestiniano. Netanyahu, que tem sofrido o desgaste da quebra económica do seu país, da oposição da Europa à sua política e, finalmente dos EUA de Obama, que ele contornou para falar à maioria republicana do Congresso, pode tornar-se o líder israelita com mais anos de poder, caso cumpra o mandato. De salientar, ainda, que nestas eleições comoterceira força emergiu a aliança dos árabes, com 13 deputados.
OUTRAS NOTÍCIAS
Vamos, agora, seguir o rasto do dinheiro, como manda a boa investigação. A auditoria forense confirmou o que o Expresso já dissera. O dinheiro de Angola foi diretamente, e sem passar pela casa partida (como se diz no Monopólio), para Ricardo Salgado, Álvaro Sobrinho e Morais Pires. Ou, de forma mais direta, como titula garrafalmente o 'Jornal de Notícias' de hoje, "Salgado acusado de arruinar banco, clientes e investidores" - e se mais não foi é porque mais não haveria...
Amílcar Morais Pires, antigo administrador financeiro do BES, enviou uma carta ao Parlamento, ou mais concretamente ao presidente da Comissão de Inquérito, Fernando Negrão, a afirmar, como já fizeraPacheco de Melo, seu homólogo na PT, que os quase 900 milhões de euros que a PT pôs na Rioforte foram combinados diretamente entre Salgado e Granadeiro. Dois desmentidos já estão feitos...
Fernando Ulrich não concordou com o modo como foi resolvido o problema do BES e não recusa que andou por ali mão do Governo. Adiantou que avisou Vítor Gaspar (ainda ele era ministro das Finanças) para o problema no Espírito Santo. O presidente do BPI, porém, acrescenta que Gaspar avisou o Banco de Portugal e que este atuou imediatamente mandando um alto quadro falar com ele para colher mais dados. Problema antigo, portanto… Ulrich também entende que o presidente do BES se tornou num mito.
Paulo Portas, um dos homens que mais tempo esteve na Comissão, disse que não sabia que o BES ia ser alvo da medida de resolução, mas pensa que essa medida procura poupar o contribuinte. Não se eximiu de dizer que também aqui houve responsabilidades do regulador, embora não tão graves como as de Constâncio no BPN. Aliás o vice-primeiro-ministro condenou a " dessintonia entre o BdP e a CMVM" dizendo que "fica mal a ambos".
Já o responsável do FMI, Subir Lall, depois de dizer que anda tudo a pensar nas eleições, pelo que Portugal desistiu das reformas, vem com um relatório que nem parece de Subir, mas sim de descer – ou seja, segundo Nicolau Santos, até é brando e traz boas notícias. O segredo, claro está, reside na conjuntura externa fantástica que se verifica: petróleo ao preço da chuva; taxas de juro próximas do zero e a célebre bazuca de Draghi a funcionar. Mesmo assim, o FMI quer mais reformas e, sobretudo, quer que os nossos empresários sejam melhores do que são. Também avança para a crítica às rendas excessivas, nomeadamente a energia e os portos.Reformas, reformas – eis tudo o que pede o FMI, como nos conta João Silvestre acerca da conferência de Subir Lall na Ordem dos Economistas.
Entre a Alemanha e a Grécia as relações estão sempre a melhorar.Tsipras já disse que falaria com Merkel, depois do mal-entendido entre Varoufakis e Schäuble, quando o primeiro pensou (erradamente, devido a um erro de tradução) que o segundo lhe chamara tolo. O “taz.die tageszeitung”, um jornal fundado em Berlim em 1978, como uma cooperativa e que tem apoiado, sobretudo, os verdes, tinha ontem uma manchete que não deixa dúvidas sobre as boas relações. O texto diz “ A Europa mostra a Varoufakis o dedo do meio”, mas o grafismo é a não perder… Ver-se-á, num encontro entre o chefe do Governo grego, a chanceler alemã, Mário Draghi e Jean-Claude Juncker a anteceder a cimeira europeia que reunirá durante dois dias todos os líderes europeus.
A propósito de líderes europeus: Cavaco e Hollande estão em sintonia sobre os principais assuntos europeus e o crescimento português, francês e da Europa. Isto, no mesmo dia em que António Costa, num comício do PS, afirmava não querer voltar aos piores tempos do cavaquismo.
E chegamos a Sócrates. A sentença da Relação exarada ontem diz que, de facto, o perigo de fuga não é um bom argumento para o primeiro-ministro estar detido. Mas adianta que o perigo de destruição de provas é real e - estocada final - os fortes indícios de crime existem. Foi mais uma derrota (dois dias duas derrotas) deum advogado que 24 horas antes mostrara dificuldades em lidar com elas. Como diz Ricardo Costa, “Pronto, Sócrates já só está nas mãos de Carlos Alexandre”
O gigante do comércio eletrónico na China, Alibaba (penso que por lá não seja conhecida a história dos 40 ladrões), está a trabalhar na hipótese de as transações serem feitas apenas com a nossa cara. Ou seja: olhamos para o ecrã e isso dispensa os dados do cartão de crédito. Chama-se “Smile to pay” – um oximoro, ou seja, umacombinação engenhosa de palavras contraditórias.
E Berlusconi, esse poço de bondade, afinal pagava às mulheres apenas por altruísmo. É ele quem diz, claro, numa combinação obscena de palavras engenhosas.
O QUE DIZEM OS NÚMEROS
Todas as crianças da minha geração aprenderam a não deixar comida no prato devido à fome que grassava entre as crianças do Biafra (uma tragédia humanitária e guerra secessionista que se travou na Nigéria). Mas hoje, sabe-se que o mundo desperdiça UM BILIÃO de euros em comida por ano, ou seja 4 MIL MILHÕES de toneladas de produtos alimentares em bom estado que vão diretamente para o lixo, enquanto no mundo morrem de fome 2,5 MILHÕES de crianças e 805 MILHÕES de seres humanos passam fome. Não serão precisas mais palavras para ter a ideia do horror destes números.
FRASES
"Se não houver dois Estados haverá um; e, se só houver um, ele será árabe", Amos Oz, escritor israelita citado hoje no "Público" por Jorge Almeida Fernandes. A lógica parece irrebatível.
“O
nosso ajuste fiscal foi maior do que em outros países. Desde 2009, foram
introduzidos cortes na despesa e aumentos de impostos que equivalem a um
montante de mais de 45% dos rendimentos das famílias. Em Portugal foi de 20% e
em Itália 15%” Yannis Dragasakis, vice-primeiro-ministro grego, num artigo
do Financial Times escrito em coautoria com Yannis Varoufakis, ministro
das Finanças e Euclid Tsakalotos, ministro dos Assuntos Económicos. A ser
assim, registe-se que, apesar de tudo, ainda tivemos sorte… ou outra coisa
qualquer…
“A corrupção é uma senhora idosa e não poupa ninguém”, Dilma Rousseff, presidente do Brasil, depois das enormes manifestações contra os escândalos que abalam o governo daquele país. Perceberam? Eu nem por isso...
“A corrupção é uma senhora idosa e não poupa ninguém”, Dilma Rousseff, presidente do Brasil, depois das enormes manifestações contra os escândalos que abalam o governo daquele país. Perceberam? Eu nem por isso...
“Não há qualquer ocupação da Crimeia”, Dimitri Peskov, porta-voz do Kremlin, depois de a Crimeia ter celebrado a união com a grande-mãe russa, a qual, como diria Dilma, é também uma senhora idosa.
O QUE EU ANDO A LER
Embora o título desta Newsletter seja inspirada no belo livro deKazuo Ishiguro (apesar de nascido no Japão é um escritor inglês, pois vive desde os seis anos na Grã-Bretanha), cujo título é “Os Despojos do Dia” (The Remains of the Day), tendo também dado um belo filme com Anthony Hopkins e Emma Thompson, não é isso que ando a ler. Mas também é sobre despojos e desperdício. Chama-se“The Bankers New Clothes”, ou seja literalmente “A nova roupa dos Banqueiros”. Quem quiser esperar pela tradução portuguesa – ainda este mês – verá que se chama “Os Banqueiros Vão Nus”. A tradução é apropriada, porque o título em inglês baseia-se no célebre conto “A Nova Roupa do Rei” onde o miúdo, no cortejo imponente, grita: “O Rei vai nu!”. E assim vão os banqueiros. Martin Wolf, o guru doFT, diz que é o livro mais importante que saiu nesta crise, já The Economist afiança que a solução dos autores é simples: os banqueiros deviam arriscar mais o seu próprio dinheiro e menos o dos outros. Mas talvez a melhor crítica seja de Emre Deliveli: “O que torna este livro um dos melhores, senão o melhor sobre a crise, é a sua simplicidade e acessibilidade”. Os autores são bem conhecidos dos economistas: Anat Admati e Martin Hellwig. Ela é professora de Economia e Finanças em Stanford, na Califórnia e escreve para o Financial Times, New York Times e Bloomberg; ele é o diretor de um dos muitos institutos da Sociedade Max Planck, no caso vertente do Instituto para a Pesquisa de Bens Comuns, em Bona.
E
é tudo. Hoje às 18 horas, como sempre, o Expresso Diário está aí. E amanhã, o
Expresso Curto é-vos servido por Pedro Santos Guerreiro.
Bom
dia!
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