Pedro
Tadeu – Diário de Notícias, opinião
A
polémica sobre a hipotética lista VIP das Finanças, protetora de um grupo de
notáveis graças a uma "campainha vermelha" acionada sempre que alguém
lia, indevidamente, dados fiscais informatizados, convenceu-me: esta gente não
sabe em que mundo vive.
Pois
informo, ó almas espantadas, que vivemos num mundo onde cada computador, tablet
ou smartphone conta, a quem saiba descodificá-los (e tanto pode ser a NSA
norte-americana, o senhor Jorge Silva Carvalho ao serviço do SIED, um estudante
esperto do Técnico ou um jornalista do News of The World), com quem
comunicamos, com quem trabalhamos, com quem nos relacionamos.
Cada
cartão multibanco, visa ou de compras regista para serviço do banco ou da
cadeia de hipermercados aquilo que comemos e bebemos. Cada fatura informa o
Estado das nossas rotinas. Cada exame médico informatiza-nos as doenças. Cada
câmara de vigilância num centro comercial, num transporte público, num edifício
de escritórios ou até em algumas ruas, guarda digitalmente a nossas caras para
seguranças privados ou agentes da PSP se aborrecerem de morte.
Cada
pórtico de uma autoestrada, cada antena de telemóvel, cada GPS localizam-nos no
espaço e no tempo. Ao vermos televisão, a box regista quando vemos telejornais,
filmes, documentários, séries ou canais pornográficos. Cada telefonema fica
anotado.
Google,
Facebook e os outros todos monitorizam-nos o ziguezague em banda larga para
injetarem publicidade personalizada e, revelou Edward Snowden, ajudarem a
espionagem norte-americana.
Até
a ministra da Justiça promete penas de cadeia a quem leia sites considerados
terroristas - o que, obviamente, pressupõe um controlo eficiente da web pelo
aparelho repressor do Estado.
Nos
dias de hoje não é possível ter vida privada. Todas as leis restritivas e todas
as arcaicas "campainhas vermelhas" são um pequeno muro de sacos de
areia a tentar impedir um maremoto.
Qual
é a solução? Como podemos controlar quem pode "ler" a nossa vida
pessoal? Que mecanismos teremos ao nosso alcance para fazê-lo? Como poderemos
ter, cada um de nós, acesso a esses dados, para denunciar os abusos, para nos
defendermos?
Em
relação ao fisco e à Segurança Social proponho que toda a informação (mas mesmo
toda) que o Estado tenha possa ser consultável, via internet, pelos respetivos
titulares. Mais: de cada vez que alguém, seja quem for, consulte esses dados,
se adicione o registo desse acesso para conhecimento exclusivo do contribuinte.
Proponho, portanto, uma lista VIP com dez milhões de portugueses... A
alternativa a isto é esta: desligar a eletricidade.
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