António
Sampaio, da Agência Lusa
Díli,
04 mar (Lusa) - A entrada do carro com o chefe do Governo timorense na
gasolineira em Balide, em Díli, surpreendeu tanto os jornalistas que o
acompanhavam como os funcionários e clientes que não esperavam a comitiva.
Afinal
desde o início da manhã que Rui Maria Araújo andava em inspeções a
departamentos públicos - tinha acabado de visitar a Direção Geral do Património
do Estado - e a gasolineira é, afinal, de uma empresa privada.
Rui
Araújo sai do carro, é saudado pelos clientes e pergunta quem é o responsável e
onde é o escritório.
Mas
afinal não é o escritório que interessa. A pequena sala, meio escura e com duas
secretárias - em cima de uma um computador, que até parece desligado, na outra
um capacete de mota -, não tem ninguém.
O
interesse é mesmo perto das bombas, onde uma microlet - as carrinhas de
transporte público de Timor-Leste - um jipe e duas motas se estão a abastecer
de "bensin".
E
mais propriamente na caixa do dinheiro, uma gaveta de madeira gasta, onde estão
notas de dólares americanos e o objetivo da visita: os cupões usados para
abastecer as viaturas de toda a função pública.
"Gastamos
milhões nisto. O Estado tem 6 mil e tal carros e 7 ou 8 mil motas. E isso são
muitos milhões em manutenção e muitos milhões em combustível", conta o
chefe do Governo à agência Lusa enquanto vai vendo os cupões na gaveta. E pede
explicações sobre como funciona o sistema.
E,
rapidamente, percebe as muitas falcatruas possíveis: não há registo de
quilometragem, algumas vezes nem sequer se comprova que a matrícula escrita no
cupão é de facto a que está a abastecer.
"Tás
a ver? Eu posso chegar aqui com dois cupões de 20 dólares cada, meter só 20
dólares no carro e vender o outro, metendo o dinheiro ao bolso", explica o
primeiro-ministro.
Rui
Araújo governa desde o dia 16 de fevereiro e em menos de um mês já impôs um
ritmo próprio que inclui verificar tudo do aparelho do Estado: como trabalha,
quem trabalha, como interagem os serviços, o que se gasta, como se gasta e o
que se desperdiça ou, acima de tudo, onde se pode melhorar.
"Temos
que racionalizar os gastos da administração pública. Precisamos de mecanismos
para garantir que a despesa é bem executada em defesa do interesse do
Estado", explicou depois aos jornalistas.
"Este
sistema dos cupões, por exemplo, tem muitas possibilidades de ser manipulado,
na forma como é utilizado. Temos que rever isto. Em defesa do Estado e do
povo", sublinha.
À
semelhança do que faz semanalmente desde que tomou posse, Rui Araújo voltou
hoje a dedicar a manhã a inspeções surpresa a departamentos do Governo.
As
regras são sempre as mesmas: os jornalistas que queiram acompanhar as visitas
têm que estar cedo no Palácio do Governo, o primeiro-ministro viaja com dois
carros de escolta e nunca se sabe exatamente o destino.
"Hoje
deve ser educação", comenta um jornalista depois de ver os dois titulares
da pasta, o ministro Fernando La
Sama de Araújo e a vice-ministra, Dulce Jesus Soares, do
Palácio do Governo.
"Se
calhar é a RTTL (a televisão e rádio pública) ", comenta outro.
Afinal
foi dia de ver o parque móvel do Estado, perceber a dimensão desta componente
dos gastos, perguntar como se alienam carros - os vários formatos de leilões.
E
de visitar uma gasolineira.
ASP
// JCS
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